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05/08/2000 - 02h50

Febem: Vídeo "falha" em dia de espancamento

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GABRIELA ATHIAS, da Folha de S.Paulo

O sistema interno de vídeo da unidade da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) de Franco da Rocha 2 "falhou" na hora de registrar um dos maiores espancamentos já ocorridos na unidade, desde a sua inauguração no dia 16 de junho.

O sistema, composto por câmeras de vídeo e monitores, estava sem fita cassete para gravar as imagens. Também não havia funcionários treinados para executar o serviço. A Folha obteve cópia do ofício enviado pelo diretor da unidade, Francisco Antônio Teodoro, ao Ministério Público, confirmando as informações.

Ontem, o Ministério Público entrou com uma ação na Justiça, solicitando o afastamento do presidente, Benedito Duarte, e dos funcionários envolvidos no espancamento. Além disso, a Promotoria da Infância e da Juventude quer a implantação de atividades pedagógicas e o fim da superlotação das celas em 15 dias.

Na cela de isolamento da enfermaria, apropriada para um adolescente, havia cinco no dia 21.

Segundo laudo do Judiciário, informações do Ministério Público e fotografias, no dia 7 de julho (quando ocorreu a campanha nacional do Basta! Eu quero Paz), 50 adolescentes da "ala G" foram espancados. Um deles, R., ficou internado quatro dias na UTI do Hospital de Franco da Rocha.

O resultado do exame de corpo de delito ainda não foi divulgado. Segundo o relato dos adolescentes, na noite do dia 7, uma sexta-feira, eles negociaram com a monitoria autorização para permanecer com a luz acesa e o som do pátio ligado até mais tarde.

Perto das 22h10, como de costume, o som e a luz foram desligados. Os adolescentes, trancados em grupos de 12, em cinco celas, protestaram, batendo nas grades.

Segundo os relatos, vigilantes e monitores de todas as alas soltaram primeiro os adolescentes do X-1. Os outros foram sendo soltos e também começaram a apanhar.

Os monitores da ala informaram a uma equipe de psicólogos e assistentes sociais da Justiça que quando chegaram à "ala G" encontraram um grupo de cerca de 50 funcionários, a maioria desconhecida, espancando os garotos.
Segundo eles, apenas dois funcionários estavam encapuzados. Ouvidos pela Promotoria, a maioria acusou monitores que já haviam sido denunciados por maus tratos no Cadeião de Pinheiros.

Despedida

Esses monitores, dizem os promotores, são os mesmos acusados de promover pancadaria em Pinheiros, no dia 16 de junho.

De acordo com os adolescentes, naquela data, houve uma espécie de "despedida" desses funcionários. A partir daquela data, eles seriam transferidos para Franco da Rocha 2. Dos adolescentes que apanharam no dia 16 em Pinheiros, 54 passaram por exame de corpo de delito. Cerca de 95% ainda apresentavam ferimentos no dia 21, data do exame.

A equipe técnica da Justiça diz que os adolescentes mais machucados são os oriundos do COC (Carandiru) e dos cadeiões de Pinheiros e Santo André.

Com a transferência dos funcionários para Franco da Rocha, o cadeião de Pinheiros começou a ser "dominado" pelos adolescentes. Monitores disseram que entram no pátio apenas para contar os adolescentes uma vez ao dia.

Ontem, T.,17, contou que é obrigado pelos companheiros a lavar a roupa e fazer faxina. "Sou espancado quase todo o dia", disse. T., que ontem foi depor no Fórum, teve uma crise nervosa e foi levado à equipe de psicólogos.

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