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06/08/2000 - 11h48

Medicamentos atacam as doenças na hora exata

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ALCINO BARBOSA JR., da Folha de S.Paulo

As doenças talvez não sejam tão pontuais como os ingleses, mas muitos sintomas têm uma hora preferencial para se manifestar. Também existem horários em que o organismo está mais suscetível à ação dos remédios ou de seus efeitos colaterais.

Para compreender essas mudanças e aumentar a eficácia dos medicamentos, surgiu uma nova especialidade: a cronofarmacologia (veja quadro ao lado).

Todo ser vivo apresenta ritmos biológicos como resposta aos ciclos da natureza (dia/noite, estações do ano). Dormir e acordar é o exemplo mais óbvio (veja texto abaixo). Mas as células e as substâncias produzidas pelo organismo também seguem ritmos.

A cronobiologia é o ramo da ciência que estuda essas variações das funções orgânicas ao longo do dia. Ela agora também serve de ferramenta para desenvolver novos remédios.

Segundo Roberto DeLucia, professor de farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, já existe mais de uma "centena de medicamentos com padronização cronobiológica nos Estados Unidos". No Brasil, esse número ainda não ultrapassa uma dezena.

Esses remédios podem servir para tratar doenças tão diversas como a hipertensão, o excesso de colesterol, as úlceras gástricas, a asma e até o câncer.

A pressão do sangue começa a subir no início da manhã, explica DeLucia. Também nesse período ocorrem alterações da coagulação. A pressão alta e a maior tendência a formar coágulos elevam o risco de infartos e derrames nas primeiras horas do dia.

"Já existem medicamentos para hipertensão que são tomados à noite, mas começam a agir a partir das 6h da manhã", afirma Décio Mion Jr., chefe da Unidade de Hipertensão Arterial do Hospital das Clínicas da USP.

Esse tipo de medicação não age durante o sono, quando a pressão arterial cai. "Outros remédios que diminuem demais a pressão durante o sono podem baixar o fluxo de sangue no cérebro, favorecendo a recorrência de derrames em idosos", diz Mion.

Ao contrário da hipertensão, o excesso de colesterol costuma ser maior à noite. As medicações que combatem o problema são mais eficazes se usadas nesse período.

Outra doença de "hábitos" noturnos é a asma. "As crises podem acontecer a qualquer hora do dia, mas são mais comuns por volta das 4h da madrugada", diz DeLucia. Para pessoas que tem mais crises de falta de ar à noite, ajustes nas doses noturnas dos broncodilatadores podem ser necessários, mas devem ser feitos sob orientação médica.

As úlceras e a gastrite também provocam dores mais intensas à noite, entre 23h e 1h, explica Cleópatra Planeta, professora de farmacologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho).

Por esse motivo, os antiácidos conhecidos como bloqueadores H2 (omeprazol, lansoprazol, entre outros) são preferencialmente usados à noite.

Porém não são apenas os sintomas que determinam o horário dos medicamentos. A tolerância aos efeitos colaterais também deve ser levada em consideração.

"A aspirina, por exemplo, atinge concentrações mais altas no sangue quando ingerida de manhã. Mas, assim como os antiinflamatórios não hormonais, ela é mais tolerada à noite, quando consideramos seus efeitos no estômago", afirma DeLucia.

A quimioterapia para o câncer de colo de útero apresenta menos efeitos colaterais se aplicada de manhã, segundo Cleópatra Planeta. Isso acontece porque as células cancerosas se multiplicam mais rapidamente nesse horário, ficando mais suscetíveis à ação dos quimioterápicos.

"Com isso, as células sadias são preservadas do ataque desses medicamentos e a paciente sofre menos efeitos colaterais", afirma Cleópatra.

Os corticosteróides (prednisona, prednisolona, entre outros) -antiinflamatórios semelhantes à cortisona- também precisam ser usados de acordo com os ritmos do corpo. Em geral, eles são tomados de manhã, para atingirem concentração no sangue ideal à tarde. "No fim da tarde, algumas reações alérgicas são mais frequentes porque os corticosteróides naturais caem, baixando a imunidade", diz DeLucia.

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