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Bolsa-enchente da Prefeitura de SP não garante nova moradia
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LAURA CAPRIGLIONE
da Folha de S.Paulo
Solange Ferreira Bispo, 38, é diarista. Mulher de Nelson, doente psiquiátrico, cabe a ela conseguir os R$ 200 mensais que sustentam a família de sete pessoas. A filha de 15 anos está grávida --em um mês serão 8 pessoas. Faz uma semana que Solange não vai ao trabalho. Em vez disso, bate pernas no Jardim Pantanal. O objetivo: encontrar uma casa para alugar por R$ 300. Não acha.
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"Família grande, crianças pequenas, sem renda, sem carteira assinada. Ninguém aceita", Solange admite.
Lalo de Almeida/Folha Imagem |
Solange não consegue casa para alugar pelo valor de R$ 300 do bolsa-enchente |
A casa atual da diarista tem quatro cômodos. Fica na viela Aimoré, no meio da qual corre um afluente do rio Tietê. As fortes chuvas que atingem a zona leste de São Paulo fizeram o córrego engordar e invadir casas. Funcionários da prefeitura percorrem todos os dias o local, tentando convencer as famílias a sair de lá, em troca do que chamam de "auxílio aluguel" de R$ 300 mensais. Solange até queria pôr as mãos no cheque de R$ 2.000 (seis meses de R$ 300, mais R$ 200 de mudança). Mas não dá.
Na várzea do Tietê conhecida por Jardim Pantanal, prefeitura e governo do Estado querem criar um parque onde hoje há casas e, assim, diz-se, resolver o drama das enchentes.
Segundo o subprefeito de São Miguel, Milton Persoli, cerca de 500 famílias já teriam concordado em deixar suas casas --300 foram para conjuntos habitacionais; 200 aceitaram receber o bolsa-enchente.
"O problema é que aconteceu uma inflação miserável. Com muita gente procurando casa para alugar, o quarto e cozinha que custava R$ 250 agora não sai por menos de R$ 400", diz o proprietário de uma imobiliária do bairro.
Segundo Persoli, os R$ 300 foram fixados com base em pesquisa de preços na região. Ele mesmo admite, contudo, que os valores do aluguel subiram: "O jeito é as famílias procurarem mais longe."
Avisado pela prefeitura de que não poderia continuar em sua casa, o pedreiro Silvio Varotto, 42, saiu em busca de outra para alugar. Hoje, ele vive com a mulher e três filhos em uma construção com dois quartos, cozinha, banheiro e área de serviço na viela dos Peixes (inundada de água fétida).
Até achou. "Peguei o cheque da prefeitura e fui fechar o contrato com a proprietária. Mas foi só eu dizer que o dinheiro viria do bolsa-aluguel e a mulher disse que um parente ia ocupar o imóvel. Descobri que ninguém confia em que a prefeitura vá continuar pagando depois do primeiro cheque.' O subprefeito garante que pagará 'até quando for necessário."
No Jardim Noêmia, Neuza Aguiar dos Santos conseguiu mudar-se com as duas filhas para a casa de um tio. "Só ele topou a insegurança da situação."
Segundo o líder comunitário Cristóvão de Oliveira, 47, principal liderança comunitária da Chácara Três Meninas, outro bairro do Jardim Pantanal, o bolsa-enchente é uma esmola que não resolve o problema de moradia. "Como é possível pretender que as pessoas larguem suas casas em troca de um cheque de R$ 2.000 e de uma declaração de intenções?"
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