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08/02/2003 - 08h51

Gás tóxico atinge 11 bairros de Rio Claro (SP)

DIOGO PINHEIRO
da Folha Campinas

Uma nuvem de gás tóxico atingiu na noite de anteontem 11 bairros de Rio Claro (175 km de SP) e causou pânico entre os moradores devido às reações ao produto.

Dependendo da quantidade inalada, o gás ácido cloro-sulfônico pode matar por asfixia ou causar uma pneumonite química (inflamação aguda dos brônquios causado por um produto químico), segundo toxicologistas.

O gás vazou, durante cinco minutos, da empresa Nheel Química, que é nacional e produz cloreto férrico utilizado no tratamento de água. Ela está há mais de 30 anos instalada na cidade.

A nuvem espessa se espalhou por uma raio de cinco quilômetros, segundo a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental).

O gás baixou nos 11 bairros como uma forte neblina e chegou a entrar dentro de casas e carros, assustando os moradores.

"Senti o cheiro dentro do meu carro. Era muito forte. Minha garganta e meus olhos começaram a doer. Tive muito medo", disse a recepcionista Rosana Perinotto, 41, que voltava do trabalho com mais três amigas.

O órgão ambiental deve concluir seu relatório e autuar a empresa na próxima segunda-feira.

No ano passado, a Nheel Química foi autuada por um vazamento de produto químico. Uma quantidade de ácido clorídrico atingiu o rio Corumbataí, provocando a mortandade de peixes, segundo o gerente da Cetesb de Piracicaba, Aldo José Colaboni.

A Secretaria da Saúde de Rio Claro informou que três pessoas _uma mulher de 20 anos, um homem de 36 e uma criança de nove anos_ foram atendidas com sintomas de intoxicação no pronto-socorro da cidade, na noite de anteontem. Elas afirmaram que tiveram contato com a nuvem e apresentaram irritação nos olhos, tosse, dores no peito e dificuldade para respirar. Todos foram liberados após o atendimento, segundo a secretaria.

Para a Polícia Militar Ambiental, pelo menos outras quatro pessoas apresentaram os mesmos sintomas em outras unidades de saúde de Rio Claro.

"Eu também sofri com o vazamento. Minha garganta está irritada e senti falta de ar", disse o sargento André Leandro Gonçalves, responsável pelo comando da PM Ambiental.

De acordo com a Defesa Civil, mais de cem ocorrências foram registradas das 20h30 (horário do vazamento) até as 23h (horário em que a nuvem começou a se dissipar). "Há uma preocupação com essas pessoas. Vamos fazer um acompanhamento. Pode ser que muitas que apresentaram os sintomas não tenham procurado os hospitais", afirmou Ivana de Souza, técnica-administrativa do pronto-socorro municipal.

A principal preocupação da saúde pública local é que as pessoas que inalaram o produto possam apresentar problemas futuros. "Eu passei muito mal. Quase morri, mas não fui para o hospital", conta a secretária Carla Camargo, 29, que foi atingida pelo gás quando voltava para casa.

Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que as pessoas que tiveram contato com o ácido cloro-sulfônico podem ter problemas respiratórios. "É uma situação grave, dependendo da quantidade. É necessário que seja feito um acompanhamento das pessoas que apresentarem sintomas", afirmou o coordenador da área de saúde ambiental da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Angelo Trapé.

"Há risco de vida", disse Anthony Wong, coordenador do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica) da USP (Universidade de São Paulo).

"Se após dois ou três dias não aparecer nenhum sintoma, acredito que não haja problema", afirmou o toxicologista da Unicamp Flávio Zambrone.

A empresa não se manifestou sobre o vazamento. A reportagem procurou representantes da Nheel Química em Rio Claro e também por telefone.

O vazamento também será investigado pela Polícia Civil, que deve instaurar inquérito para apurar crime ambiental na próxima segunda-feira. A pena para esse tipo de crime é de um a quatro anos de reclusão, segundo a Polícia Militar Ambiental.

A PM já autuou a Nheel Química por exercer atividade potencialmente prejudicial ao ambiente e por despejar gás tóxico na atmosfera, segundo o comandante da corporação.

A Prefeitura de Rio Claro e a Cetesb lacraram o setor da empresa onde aconteceu o vazamento. A Nheel Química terá de entregar um plano de gerenciamento dos produtos em oito dias, segundo Ana Beatriz de Oliveira, diretora da Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento e Meio Ambiente da cidade. "Não foi um acidente. Na nossa avaliação houve falha na manutenção. O vazamento poderia ter sido evitado", disse Oliveira.
 

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