Publicidade
Publicidade
11/02/2003
-
03h34
À distância, policiais observam um carro chegar. Um homem magro, alto, de boné, guarda rapidamente sua picape na garagem. A casa tem portões e muros altos, parece uma fortaleza. Um cão rotweiller vigia o quintal.
Outro carro na garagem indica a presença da mulher do sequestrador, Maria de Fátima Marcondes. A planta da casa e as rotas de fuga são conhecidas. ""Não abordamos na rua porque ele dizia sempre que iria reagir", diz o delegado que coordenou a operação em Curitiba, Everardo Tanganelli Júnior, do Denarc de São Paulo.
A todo custo, Pedro Ciechanovicz deveria ser preso vivo. Sua morte impediria a libertação do empresário João Bertin.
Às 20h do domingo, os policiais avançam. Dois, pelos fundos, pulam o muro. Dois pela frente. Os reforços estão chegando. Ciechanovicz percebe a movimentação, tenta sair pelos fundos. Tiros. Sua mulher solta o cachorro contra os investigadores. Tiros. O cão morre. O sequestrador atira.
Cercado, Ciechanovicz pega o telefone. Manda sumir com provas e telefones. Busca apagar pistas que o incriminem. Grita pela janela que, se estivesse com as armas que tinha na véspera, enfrentaria todos. "Por sorte, os fuzis e as metralhadoras não estavam lá", afirma o delegado Tanganelli.
O sequestrador tem duas pistolas à mão. Sua mulher chora, desesperada. Ciechanovicz ameaça matá-la e se matar em seguida.
O delegado negocia. Sugere acordo. Pergunta do "Couro de Boi", como a quadrilha chamava Bertin nas conversas por telefone, por causa do frigorífico.
Às 22h, policiais civis e militares do Paraná, mais agentes da Polícia Federal, já cercam a casa. O sequestrador aceita se entregar na presença de seu advogado, Paulo César Carmo de Oliveira.
Às 4h de ontem, Ciechanovicz se entregou à polícia, dizendo que o fazendeiro demoraria para chegar em casa, pois estava em um sítio, distante de estradas.
Terminava ali uma história de 18 meses de investigação, com 38 pessoas da quadrilha identificadas -13 delas presas e duas mortas. Um enredo que tirou o sono de mais de 30 policiais do Denarc.
O sequestrador deveria ter sido preso na última quarta-feira, dia 5, se não fosse um incidente. Em uma ação paralela, sem conhecer a investigação da Polícia Civil, homens do serviço de inteligência da Polícia Militar invadiram uma casa que estava sendo vigiada pelo Denarc e onde era iminente a prisão do sequestrador. Grampos telefônicos haviam mostrado que Ciechanovicz estava indo para o local e que chegaria à noite.
Após a saída dos PMs, um garoto que estava na casa ligou para a mulher do sequestrador, avisando da ação da polícia. Até aí, Ciechanovicz não sabia que estava sendo procurado.
O incidente levou o delegado Tanganelli Júnior e outros policiais do Denarc a viajar para o Paraná. Tentariam lá uma última operação. Deu certo.
Cruzando ligações telefônicas feitas pela quadrilha, descobriram o endereço do líder. Ouvir grampos e rastrear telefonemas, inclusive de pessoas presas, foi o que os policiais do Denarc mais fizeram nos últimos meses. Somando isso ao depoimento de membros da quadrilha presos, montaram uma teia de amantes, advogados e pessoas que se relacionavam com o grupo. Descobriram, por exemplo, que integrantes da quadrilha do sequestrador Wanderson Nilton de Paula, o Andinho, trabalharam para Ciechanovicz em Campinas.
"Se não é a maior quadrilha de sequestradores descoberta no Estado, é a maior organização que enfrentamos", disse o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho.
Ontem, na apresentação do sequestrador, o secretário não quis comentar o incidente entre as duas polícias, que quase comprometeu a prisão do sequestrador. "Eu desconheço", afirmou.
Perseguição ao grupo que sequestrou fazendeiro começou há 18 meses
da Folha de S.PauloÀ distância, policiais observam um carro chegar. Um homem magro, alto, de boné, guarda rapidamente sua picape na garagem. A casa tem portões e muros altos, parece uma fortaleza. Um cão rotweiller vigia o quintal.
Outro carro na garagem indica a presença da mulher do sequestrador, Maria de Fátima Marcondes. A planta da casa e as rotas de fuga são conhecidas. ""Não abordamos na rua porque ele dizia sempre que iria reagir", diz o delegado que coordenou a operação em Curitiba, Everardo Tanganelli Júnior, do Denarc de São Paulo.
A todo custo, Pedro Ciechanovicz deveria ser preso vivo. Sua morte impediria a libertação do empresário João Bertin.
Às 20h do domingo, os policiais avançam. Dois, pelos fundos, pulam o muro. Dois pela frente. Os reforços estão chegando. Ciechanovicz percebe a movimentação, tenta sair pelos fundos. Tiros. Sua mulher solta o cachorro contra os investigadores. Tiros. O cão morre. O sequestrador atira.
Cercado, Ciechanovicz pega o telefone. Manda sumir com provas e telefones. Busca apagar pistas que o incriminem. Grita pela janela que, se estivesse com as armas que tinha na véspera, enfrentaria todos. "Por sorte, os fuzis e as metralhadoras não estavam lá", afirma o delegado Tanganelli.
O sequestrador tem duas pistolas à mão. Sua mulher chora, desesperada. Ciechanovicz ameaça matá-la e se matar em seguida.
O delegado negocia. Sugere acordo. Pergunta do "Couro de Boi", como a quadrilha chamava Bertin nas conversas por telefone, por causa do frigorífico.
Às 22h, policiais civis e militares do Paraná, mais agentes da Polícia Federal, já cercam a casa. O sequestrador aceita se entregar na presença de seu advogado, Paulo César Carmo de Oliveira.
Às 4h de ontem, Ciechanovicz se entregou à polícia, dizendo que o fazendeiro demoraria para chegar em casa, pois estava em um sítio, distante de estradas.
Terminava ali uma história de 18 meses de investigação, com 38 pessoas da quadrilha identificadas -13 delas presas e duas mortas. Um enredo que tirou o sono de mais de 30 policiais do Denarc.
O sequestrador deveria ter sido preso na última quarta-feira, dia 5, se não fosse um incidente. Em uma ação paralela, sem conhecer a investigação da Polícia Civil, homens do serviço de inteligência da Polícia Militar invadiram uma casa que estava sendo vigiada pelo Denarc e onde era iminente a prisão do sequestrador. Grampos telefônicos haviam mostrado que Ciechanovicz estava indo para o local e que chegaria à noite.
Após a saída dos PMs, um garoto que estava na casa ligou para a mulher do sequestrador, avisando da ação da polícia. Até aí, Ciechanovicz não sabia que estava sendo procurado.
O incidente levou o delegado Tanganelli Júnior e outros policiais do Denarc a viajar para o Paraná. Tentariam lá uma última operação. Deu certo.
Cruzando ligações telefônicas feitas pela quadrilha, descobriram o endereço do líder. Ouvir grampos e rastrear telefonemas, inclusive de pessoas presas, foi o que os policiais do Denarc mais fizeram nos últimos meses. Somando isso ao depoimento de membros da quadrilha presos, montaram uma teia de amantes, advogados e pessoas que se relacionavam com o grupo. Descobriram, por exemplo, que integrantes da quadrilha do sequestrador Wanderson Nilton de Paula, o Andinho, trabalharam para Ciechanovicz em Campinas.
"Se não é a maior quadrilha de sequestradores descoberta no Estado, é a maior organização que enfrentamos", disse o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho.
Ontem, na apresentação do sequestrador, o secretário não quis comentar o incidente entre as duas polícias, que quase comprometeu a prisão do sequestrador. "Eu desconheço", afirmou.
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Sem PM nas ruas, poucos comércios e ônibus voltam a funcionar em Vitória
- Sem-teto pede almoço, faz elogios e dá conselhos a Doria no centro de SP
- Ato contra aumento de tarifas termina em quebradeira e confusão no Paraná
- Doria madruga em fila de ônibus para avaliar linha e ouve reclamações
- Vídeos de moradores mostram violência em ruas do ES; veja imagens
+ Comentadas
- Alessandra Orofino: Uma coluna para Bolsonaro
- Abstinência não é a única solução, diz enfermeira que enfrentou cracolândia
+ EnviadasÍndice