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16/02/2003 - 04h55

Empresas gastam R$ 1,2 bi para não ser vilãs ambientais

MARIANA VIVEIROS
AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo

Na última década, elas ganharam destaque na mídia pelo envolvimento em grandes casos de contaminação e poluição. Mas Rhodia, Solvay, Petrobras, Shell e Carbocloro (três indústrias químicas e duas petrolíferas) querem superar a imagem de vilãs e, para isso, contam com investimentos em projetos ambientais e na "política da boa vizinhança" que giram em torno de 1% de seu faturamento anual, ou seja, cerca de R$ 1,2 bilhão -50% mais que o total gasto no ano passado pelo Ministério do Meio Ambiente.

Além de aprimorar, otimizar e tornar mais seguros seus processos de produção e operação e de implantar programas de uso racional de insumos como água e energia, as empresas patrocinam iniciativas de ONGs e do poder público, fecham convênios com universidades, desenvolvem projetos de educação ambiental e têm "portas abertas" para os que queiram conhecê-las de perto.

Entretanto, se, por um lado, dizem estar conseguindo melhorar a imagem, ainda estão longe de convencer os ambientalistas de suas boas intenções.

Os principais questionamentos são por conta do excesso de marketing em cima das ações pró-ambiente, que são consideradas insuficientes, e da negligência, por outro lado, na remediação de passivos ambientais e na indenização de trabalhadores e comunidades afetados.

Depois de quase 20 anos, nenhum dos casos de contaminação a que as entrevistadas têm seus nomes ligados teve solução.

Às críticas, os responsáveis pela área ambiental das indústrias respondem dizendo que o percentual por elas investido está dentro dos padrões internacionais (que variam entre 0,5% e 1% do faturamento); que a demora na solução se dá por dificuldades técnicas e pela necessidade de ter sempre licenças prévias dos órgãos de controle; e que o setor empresarial está hoje fazendo o máximo -dentro do que é econômica e tecnologicamente viável- para ser ambientalmente correto.

Percepção de valores

"Você vê todos preocupados com a ecoeficiência. Podem até dizer que o processo poderia ter maior abrangência, maior velocidade, mas, se ele existe, é porque um valor foi identificado", diz Rui Fonseca, gerente-executivo de Meio Ambiente da Petrobras.

A empresa é a eterna campeã em multas ambientais e ré em uma das maiores ações do país -pelo derramamento de cerca de 4 milhões de litros de óleo no rio Iguaçu (PR). Ocupa, por outro lado, o segundo lugar no "ranking" de investimentos: 1,1% da receita, o que, segundo Fonseca, é percentual similar ao destinado a pesquisa e desenvolvimento.

"Quem está de fora vai sempre achar que a indústria pode fazer mais, mas ela vai fazer o que considera necessário e suficiente porque os recursos não são infinitos", diz, por sua vez, Arpad Koszka, gerente de Desenvolvimento Sustentável e Qualidade da Solvay.

A empresa, apontada como responsável pela contaminação por substâncias cancerígenas de 100 mil toneladas de cal na área de proteção de mananciais de Santo André (Grande SP), destina 0,6% do faturamento a projetos ambientais -o que é quase um terço do total de investimentos anuais.

Solvay, Rhodia e Carbocloro lembram que a indústria química tem no programa Atuação Responsável seu maior "cobrador ambiental". Criado no Canadá, em meados dos anos 80, e implantado no Brasil a partir de 92, ele dá a seus associados diretrizes de gerenciamento ambiental.

"Visa também mostrar para a sociedade as melhorias, porque não adianta fazer investimentos sem que haja o conhecimento do público. Imagem é um valor para qualquer empresa", diz Koszka.

Além dos projetos externos, boa parte dos investimentos ambientais estão atrelados à expansão e ao crescimento das indústrias, segundo o porta-voz da Rhodia, Eduardo Octaviano. A introdução de tecnologia limpa é o que torna a empresa competitiva, diz.

Responsável pela deposição irregular de 12 mil toneladas de lixo industrial tóxico na Baixada Santista, a Rhodia investe 1% do faturamento em ambiente.

A busca por melhores tecnologias esbarra às vezes, porém, no custo -mesmo que adotá-las signifique, no caso da Carbocloro, se livrar dos perigos de lidar diariamente com uma grande quantidade de mercúrio. A empresa justifica que é preciso ainda amortizar os investimentos feitos na atual planta para só então gastar os US$ 600 milhões que, sustenta, custará o processo mais limpo.

Enquanto isso, é "campeã" no percentual de faturamento gasto com o ambiente (1,9%), mas também enfrenta problemas para dar uma destinação adequada a 200 mil litros de terra contaminada que chegou a depositar no aterro de lixo doméstico de Cubatão.

Mesmo diante da possibilidade de gastar muito com a melhoria de processos e cuidados ambientais, prevenir ainda parece ser melhor que remediar. É o que diz Luiz Maneschy, gerente de meio ambiente da Shell.

Apesar de não divulgar quanto espera gastar com seus dois sítios contaminados em São Paulo (Vila Carioca, na capital, e Paulínia, no interior), a Shell vai desembolsar R$ 25 milhões só em Paulínia. A empresa gasta cerca de R$ 53 milhões em projetos ambientais, 0,5% do faturamento.

 

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