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15/02/2010 - 04h29

Enredo da Beija-Flor resgata lenda indígena e celebra 50 anos de Brasília

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DIANA BRITO
colaboração para a Folha Online, no Rio

O desfile da Beija-Flor de Nilópolis conta a história de Brasília a partir de uma lenda indígena dos povos que habitavam a região, onde atualmente existe a cidade. A escola começou a desfilar por volta das 4h25 desta segunda-feira.

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Com uma comissão de frente iluminada com fantasias revestidas de lâmpadas, a escola apresenta o enredo "Brilhante ao Sol do Novo Mundo, Brasília do Sonho à Realidade, a Capital da Esperança", em comemoração aos 50 anos da capital federal.

"No desfile, a gente tem efeitos de iluminação, um fogo artificial onde for necessário, muita luz e até 2 km de neon no abre alas. Inclusive a roupa de cada integrante da comissão de frente leva 600 lâmpadas", afirmou à Folha Online o carnavalesco Alexandre Louzada.

Em busca do 12º título, a escola também mostra no abre alas o mito indígena de Goiás. A lenda conta que o índio Paranoá recebeu de Tupã, ainda menino, a missão de viver sozinho no cerrado, vigiado pela deusa Jaci (a Lua). Conforme Paranoá cresce, Jaci se apaixona por ele, mas Tupã envia uma bela índia alada para seduzi-lo.

Jaci se materializa como mulher para buscar o seu amor. Isso, porém, desperta a ira de Tupã, que condena Jaci a voltar ao céu e nunca mais descer à Terra. Já a índia alada fica presa no cerrado porque ela não conseguiu conquistar o amor. As lágrimas apaixonadas da deusa e do índio dão origem ao famoso lago Paranoá, em Brasília.

"Apenas transcrevi a importância da índia alada porque a forma como ela se deita no cerrado parece com a forma do Plano Piloto de Brasília do arquiteto Lucio Costa [vencedor do concurso, em 1957, para o projeto urbanístico da nova capital]. É o choro de Jaci com o Paranoá que se transforma num lago. No momento do carro abre alas é como se ela [índia] estivesse descendo do céu ", disse Louzada.

O conto indígena será retratado no abre-alas, com três chassis acoplados num total de 60 metros. Segundo Louzada, será o maior que a Beija-Flor já levou para o sambódromo.

"No abre alas tem água simbolizando o choro de Paranoá e Jaci. Ela é meio prata e humana e ele é meio azul e rosa e ambos são metade água e metade humano. Vai sair água dos rostos deles e eles vão chorar na passarela do samba. As esculturas são de isopor, revestidas com fibra de vidro, que tem um mecanismo que jorra água para provocar o choro. Uma lágrima sutil ninguém ia ver", disse o artista.

Além de Alexandre Louzada, a escola conta ainda com a comissão de Carnaval, formada por Fran-Sérgio, Laíla e Ubiratan Silva. O samba é interpretado por Neguinho da Beija-Flor, que está na escola há 35 anos.
Enredo

A história da origem de Brasília será retratada em 44 alas e oito carros, com um total de aproximadamente 3.800 componentes da escola.

Claudinho e Selminha Sorriso formam o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Beija-Flor e simbolizam a "força cósmica".

O carnavalesco afirmou que a roupa dos integrantes da comissão de frente será "celestial, bem branquinha e clarinha". Será retratada a visão que dom Bosco teve em 1813 ao vislumbrar que os paralelos 15 e 20 do planalto central brasileiro seriam uma cidade e que dessa cidade emanaria muita fartura, prosperidade e felicidade para o seu povo.

"Nós não estamos trazendo a figura de dom Bosco. É o Beija-Flor que nos conduz a essa viagem que dom Bosco fez em sonho ou como uma visão celestial. O símbolo surge aí nesse contexto como é o nosso pássaro sagrado", disse o artista.

A coreógrafa responsável pela comissão de frente é Ghislayne Cavalcante, há 13 anos na Beija Flor. Segundo Louzada, 14 rapazes e uma mulher representam o Beija-Flor, ave símbolo da azul e branca.

"Eles são anjos celestiais iluminados. Na verdade, eles fazem a anunciação dessa terra prometida de João Bosco. Há duas possibilidades de inspiração de Brasília. A primeira é a comissão de frente, que seria Brasília, a realização desse sonho de dom Bosco, ou seria Brasília, a materialização de uma lenda indígena dos povos que habitavam aquela região onde hoje fica a cidade", disse.

Iluminado com neon, o carro abre -alas apresenta a lenda indígena de Goiás. "Teremos a escultura da índia alada de asas abertas e as imagens da deusa Jaci e do índio Paranoá", afirmou Louzada.

De acordo com o carnavalesco, a escola conta a história de Brasília sem envolver política e personalidades brasilienses. O objetivo é mostrar o lado da capital federal que as pessoas pouco conhecem.

"Essa festa de 50 anos é para os brasilienses, 2,5 milhões de habitantes de Brasília, muitos deles descendentes dos candangos. Eles são pessoas que amam a sua cidade e que não são vistos", disse Louzada.

"Vamos contar a história do povo, a ancestralidade de Brasília e fazer uma homenagem principalmente aos candangos, mais de 65 mil brasileiros que vieram de todas as partes do país para construir um sonho e esse sonho se tornou realidade, se transformou em uma cidade que é patrimônio da humanidade", disse o artista.

Na segunda alegoria, a escola faz uma comparação de Brasília com a cidade de Akhetaton, construída pelo faraó Akhenaton no ano de 3.500 a.C. (antes de Cristo). A cidade egípcia será retratada devido a semelhanças com Brasília, como uma avenida monumental no centro, cortando a cidade de norte a sul como tem o eixo monumental da capital federal. O "pássaro sagrado" do Egito, deus Íbis, e duas pirâmides também ganham destaque na avenida.

"Ela foi a maior avenida do mundo antigo. Hoje o eixo monumental é considerado a maior avenida do mundo moderno. Tinha as cidades satélites. E ambas foram construídas em quatro anos, Akhetaton e Brasília, com o plano piloto lógico", disse o artista.

No desfile, serão apresentadas quatro alas de índios, inclusive com baianas. A Beija-Flor vai mostrar ainda que a ida da capital federal para o interior não foi só uma decisão de Juscelino Kubitschek. O então presidente materializou uma determinação antiga.

Na terceira alegoria, a agremiação retrata que Marquês de Pombal foi a primeira pessoa a pensar em transferir a capital do litoral para o interior. "Ele visava proteger melhor as riquezas da coroa e evitar invasões como aconteceram aos franceses e holandeses e, por isso, enviou bandeirantes para desbravar o planalto de Goiás em busca de riquezas", disse Louzada.

A quarta alegoria retrata o período das revoltas separatistas que aconteceram no Brasil como a Inconfidência Mineira e a independência. Ambas visavam a transferência da capital.

"A Inconfidência queria levar a capital para Minas. Um ano após a proclamação da independência, José Bonifácio disse que a próxima capital do Brasil seria construída no interior do país e se chamaria Brasília. Aí nasceu Brasília, em 1823", disse Louzada.

A azul e branca aposta também em diversos personagens para contar a história da capital federal como dom Pedro, José Bonifácio, Tiradentes e Juscelino Kubitschek. Vestidos de Dragões da Independência, os integrantes da bateria são guiados pela rainha Raíssa de Oliveira, 20.

"A rainha vem na parte da independência. A roupa da Raíssa terá asas porque ela simboliza "nas asas da liberdade". A bateria vem com a farda da guarda presidencial", disse Louzada.

A comissão de Carnaval destaca que outro ponto forte da agremiação é o teatro a céu aberto que irá mostrar o cotidiano dos candangos no canteiro de obras durante a construção de Brasília.

"Nós terminamos essa homenagem falando dessa diversidade cultural que se tornou Brasília, uma cidade hora sem sotaque, hora com todos os sotaques brasileiros. Encerramos com um carro em forma de um grande caldeirão cultural que mistura boi-bumbá, bumba-meu-boi, cavalhada, candomblé, samba, tudo que Brasília tem que é herança de todos os candangos que pra lá foram", disse o artista.

Arte Folha Online
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