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24/02/2003 - 13h43

Bombas explodem e ônibus são incendiados no Rio; comércio fecha

da Folha Online

O Rio de Janeiro foi palco, mais uma vez, de ações criminosas orquestradas possivelmente por traficantes. O governo atribuiu as ocorrências à facção CV (Comando Vermelho), como forma de tentar desestabilizar a administração Rosinha Garotinho (PSB).

Desde o início da madrugada, granadas e bombas caseiras explodiram nas zonas norte e sul, ônibus foram incendiados, motoristas foram assaltados e policiais entraram em confronto com criminosos.

Parte do comércio fechou e alunos deixaram de frenquentar escolas. O pânico tomou conta dos moradores da cidade.

Pelo menos 13 pessoas ficaram feridas após o ônibus em que estavam ser atingido por dois coquetéis molotov (bombas incendiárias) em Botafogo, zona sul. No mesmo bairro, segundo a polícia, um grupo roubou motoristas que passavam pela região. Houve troca de tiros e um dos assaltantes foi baleado.

Pelo menos seis pessoas foram presas acusadas de distribuir panfletos com ordem de fechamento do comércio. Outros três adolescentes foram detidos após saquearem um supermercado.

Bombas de fabricação caseira foram arremessadas por volta das 5h contra prédios de classe alta na avenida Vieira Souto, em Ipanema, zona sul. Ninguém se feriu, mas vidros de apartamentos ficaram estilhaçados. Uma granada foi encontrada em um prédio, mas não explodiu.

Uma bomba de efeito moral foi lançada contra um supermercado da Tijuca, zona norte. Outra granada foi lançada contra o Batalhão da PM em Olaria, também zona norte.

Transporte

Nove ônibus foram incendiados entre 4h e 8h40. As ocorrências foram registradas em Benfica (1), Ilha do Governador (1) e Del Castilho (1), na zona norte; Pedra de Guaratiba (1), Jacarepaguá (1) e Campo Grande (1), na zona oeste; Botafogo (1), na zona sul; e em Duque de Caxias (2), na Baixada Fluminense.

A viação São Silvestre, que opera entre o centro e a zona sul, ficou sem circular, das 5h às 8h, por causa de ameaças do tráfico. A operação da empresa voltou ao normal somente depois de a Polícia Militar garantir a segurança aos funcionários.

A estação de trem de Santa Cruz também chegou a ficar fechada nesta manhã, por causa de um tiroteio entre policiais militares e criminosos.

Escolas

Com medo da violência, alunos de pelo menos 18 escolas públicas não comparecerem às aulas hoje. A maioria está localizada na zona norte, como a Afonso Vargas, em Inhaúma, e a Senegal, em Riachuelo.

Segundo a secretaria municipal da Educação, não há informações de ameaças do tráfico nas escolas e creches. Ainda de acordo com a secretaria, os estabelecimentos de ensino não estão fechados, mas não há aula em alguns locais por falta de alunos.

Beira-Mar

"Não tenho dúvida que a ordem partiu de dentro do presídio de Bangu (zona oeste)", disse o secretário de Segurança Pública, Josias Quintal.

Quintal distribuiu para a imprensa uma cópia de uma carta supostamente escrita pelo Comando Vermelho, da qual pertence o traficante Luiz Fernando da Costa, O Fernandinho Beira-Mar, preso em Bangu.

A mensagem da carta, que ordena o fechamento dos estabelecimentos comerciais, teria sido entregue aos comerciantes do Estado. O secretário descartou a possibilidade de as ações terem como objetivo a fuga no presídio de Bangu.

"Os ataques são apenas uma reação contra a repressão atual da polícia", afirmou Quintal.

O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), pediu a transferência de Beira-Mar. Nenhum documento chegou ao Ministério da Justiça. No entanto, de acordo com o ministério, o traficante pode ser levado para a Unidade de Recuperação Social Antônio Amaro Alves (AC), para o presídio de Presidente Bernardes (SP) ou para o Presídio da Papuda (Brasília).

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou que já colocou à disposição da governadora do Rio, Rosinha Garotinho, todo o efetivo da Polícia Federal no Estado.

Rosinha disse que soube das articulações de criminosos por volta da 0h de hoje e, por isso, colocou a polícia nas ruas. "Se não tivéssemos agido, o Estado estaria com todas as suas portas fechadas, conforme aconteceu em outros tempos", disse.

A Polícia Militar ocupa oito favelas em diversas regiões do Rio de Janeiro. Na favela Beira-Mar acontece uma operação policial.

Tráfico

Esta não foi a primeira vez que ações criminosas ocorreram em diversas regiões do Rio. Em 30 de setembro do ano passado, o comércio, temendo ameaças supostamente atribuídas a traficantes, fechou as portas no Rio, Niterói e São Gonçalo (cidades na região metropolitana). Escolas fecharam e ônibus deixaram de circular.

Uma gravação obtida pelo Ministério Público Estadual revelou conversa de dois traficantes, um deles preso em Bangu, combinando parar o comércio, especialmente nos bairros da zona sul, em represália ao isolamento dos líderes do Comando Vermelho no Batalhão de Choque da PM.

Dias depois foi descoberto um plano dos traficantes para realizar uma fuga em massa dos presídios de Bangu e tumultuar as eleições do primeiro turno das eleições.

O episódio fez com que a governadora Benedita da Silva (PT) pedisse o apoio das Forças Armadas nas eleições no Estado, em 6 de outubro.

Segundo a polícia, ligações de ameaças também teriam partido de telefones residenciais das zonas norte e sul da cidade.

Palácio do Governo

Entre a noite de 16 de outubro do ano passado e a manhã do dia seguinte, traficantes armados com granadas e fuzis atacaram o Palácio Guanabara, sede do governo, o shopping Rio Sul (Botafogo, zona sul), uma delegacia, no centro, e dois carros de polícia.

Os ataques começaram depois de uma tentativa de fuga frustrada no presídio Bangu 3, na zona oeste da cidade. O objetivo das ações, de acordo com a polícia, era resgatar líderes do Comando Vermelho.

Na ocasião, Beira-Mar estava isolado no Batalhão de Choque da PM, após ser transferido de Bangu por causa de uma rebelião, em 13 de setembro. No motim, rivais do CV foram assassinados.

Depois da tentativa frustrada de fuga, houve rebelião. Nas ruas, criminosos deram início a ações em diversos pontos da cidade.

Um carro da Polícia Civil foi atacado por um grupo de criminosos em São Cristóvão (zona norte). Houve troca de tiros, e o policial Roberto Santana da Rocha, 52, foi morto.

Dois homens em um táxi pararam em frente ao shopping Rio Sul, e um deles atirou uma granada. A explosão abriu um buraco na calçada e estilhaçou uma vitrine. Ninguém se feriu, e os homens conseguiram fugir.

Depois, dois homens em um táxi dispararam tiros de fuzil contra o Palácio Guanabara. A fachada do prédio, que era guardado por seis PMs, foi atingida por nove tiros.

Cinco minutos depois, os mesmos criminosos atacaram um carro do 1º BPM no túnel Santa Bárbara, ferindo um policial. A seguir, a 6ª Delegacia de Polícia, na Cidade Nova (zona central), foi alvejada, supostamente pelos mesmos homens.

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