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10/03/2003 - 06h55

Jovem que trabalha costuma fumar mais

FABIANE LEITE
da Folha de S.Paulo

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande de Sul, verificou uma forte relação entre o trabalho na juventude e o hábito de fumar.

Segundo a pesquisa, teoricamente, jovens trabalhadores podem ter mais risco que os demais de ficar dependentes do cigarro.

Relacionado ao comportamento adulto, o fumo pode ser usado pelo jovem como material para a construção de uma personalidade madura, tendo em vista atender às exigências do emprego, sustentam os estudiosos.
Cerca de 300 milhões de fumantes no mundo são jovens.

O grupo da universidade de Pelotas foi verificar o que acontece na prática e chegou aos seguintes resultados: enquanto a prevalência de fumo entre os jovens trabalhadores foi de 14,9%; entre os que não trabalhavam, foi de 4%.

A prevalência total no grupo de mais de 4.000 jovens avaliados foi de 5,1%, dizem os pesquisadores .

O estudo é uma das frentes de pesquisa sobre trabalho infantil, iniciada em 1997 com 4.924 jovens com idades entre 6 e 17 anos da cidade do sul do Estado -476 deles estavam trabalhando na época em que foram ouvidos.

"Os trabalhadores adolescentes devem ser um grupo-alvo para ações antitabaco", concluiu Ana Claudia Fassa, chefe do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal de Pelotas, depois de apresentar o trabalho durante o 27º Congresso Internacional de Saúde no Trabalho, que ocorreu em Foz do Iguaçu (PR), no mês passado.

A escola gaúcha tem um dos mais antigos grupos de pesquisa sobre trabalho infantil do país.

A maior parte dos jovens ouvidos pela pesquisa que trabalhavam o faziam em serviços domésticos e não-domésticos e no setor de construção civil.

As prevalências foram maiores dos 14 aos 17 anos e também muito mais altas entre as crianças com mais de sete anos que apenas trabalhavam e não iam à escola -prevalência de 43,4% contra 9,6% dos que não iam à escola, mas também não trabalhavam.

O percentual de fumantes foi menor entre os entrevistados que trabalhavam com os pais.

De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer, órgão do Ministério da Saúde), está comprovado que entre pessoas com faixa etária entre 12 a 18 anos a dependência em relação à nicotina se instala mais facilmente.

Em 1989, havia 370 mil fumantes no país na faixa etária entre 10 e 14 anos, enquanto que, entre os jovens de 15 a 18 anos, o número de fumantes era 60% maior, ou seja, 2,3 milhões. Existiam no país, naquele ano, de acordo com a instituição, 2,4 milhões de fumantes entre 5 e 19 anos.

Ansiedade

Com passos rápidos e cigarro na mão, a promotora Thabata Franco, 19, atravessa uma rua movimentada do centro da cidade de São Paulo, na correria para o segundo emprego. Ela trabalha desde os 14 anos, e o cigarro entrou na sua vida um ano antes.

"Sempre fui ansiosa e exigente comigo mesma. O trabalho só aumentou isso. Fumo meio maço por dia", relatou quando abordada pela reportagem.
Para ela, o fumo ajuda a aliviar um pouco a carga emocional exigida pelos dois empregos.

Franco deixou a escola recentemente, por não aguentar a dupla jornada. "Era muito cansaço. O problema era físico", conta.

A repórter Fabiane Leite viajou a Foz do Iguaçu (PR) a convite da organização do 27º Congresso Internacional de Saúde no Trabalho.

 

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