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11/03/2003
-
08h21
da Folha de S.Paulo, em Ribeirão Preto
A suposta existência de um grupo de extermínio formado por policiais militares e civis em Ribeirão Preto (314 km de SP) foi denunciada pela Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo há cinco anos.
O então ouvidor, Benedito Domingos Mariano, hoje secretário da Segurança Urbana da cidade de São Paulo, denunciou o caso ao delegado-geral de polícia e à Corregedoria da Polícia Militar em 26 de novembro de 1998. A existência do grupo fora negada.
Segundo os documentos enviados aos órgãos e obtidos pela Folha, as denúncias chegaram à Ouvidoria ainda no final de 1997. "A documentação [...] comprova [...] fortes indícios da existência de um grupo de extermínio naquela cidade [Ribeirão Preto]", diz trecho do documento.
Para Mariano, as manifestações das autoridades em 97 foram no sentido de negar a hipótese, "considerando normal o número de ocorrências e satisfatória a quantidade de autorias esclarecidas nos homicídios".
Ainda segundo a documentação, as vítimas geralmente eram jovens, com passagens pela Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), mortos com tiros na cabeça e cujos corpos foram abandonados em canaviais da região de Ribeirão.
Essa descrição é bastante parecida com a apresentada pelo relatório "Homicídios de Adolescentes no Município de Ribeirão Preto: 1995-98", pesquisa divulgada por esta Folha em 1999.
Com base nesse estudo, a Promotoria da Infância e da Juventude local encontrou à época indícios de existência de um "esquadrão da morte" de adolescentes.
"Diante da gravidade dos fatos esta Ouvidoria [...] solicita à Vossa Excelência [que] se digne a determinar novas e urgentes diligências para dar basta a essa situação que incomoda a comunidade local e envergonha a sociedade paulista, de modo geral", diz trecho final do documento enviado ao delegado-geral.
Na última sexta, o secretário de Estado da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, admitiu a possibilidade de haver um grupo de extermínio na cidade.
A Promotoria Criminal em Ribeirão e as corregedorias das polícias Civil e Militar começaram a apurar o caso em agosto do ano passado, quando receberam denúncias de envolvimento de policiais em pelo menos 20 mortes.
O suposto grupo seria composto por 17 policiais, sendo 12 militares e cinco civis _entre eles um delegado e um tenente da PM.
De acordo com o promotor Carlos Cardoso, assessor de direitos humanos da Procuradoria Geral de Justiça, ainda é cedo para tirar conclusões sobre a existência do grupo no município, mas há indícios. "Esses indícios são razoáveis e consistentes", afirmou.
O documento da Ouvidoria, enviado com carimbo de urgente, foi respondido pelo delegado Luiz Roberto Ramada Spadafora, hoje diretor do Deinter-3 (Departamento de Polícia Judiciária do Interior) e à época diretor-geral do órgão em São Paulo responsável por todo o interior, em 20 de julho do ano seguinte.
Ontem, Spadafora afirmou que as denúncias eram infundadas. "Recebi documentação que mostrava não haver nada", afirmou.
A Folha não conseguiu contato com Mariano ontem. Segundo a assessoria da secretaria, ele participava de uma reunião. O atual ouvidor, Fermino Fecchio, também não foi localizado.
Outro lado
O diretor do Deinter-3, Luiz Roberto Ramada Spadafora, voltou a negar a existência de um grupo de extermínio em Ribeirão Preto.
Em 1998, quando a Ouvidoria denunciou o caso às polícias Civil e Militar, Spadafora comandava o Deinter do Estado todo, em São Paulo, segundo ele próprio. Em despacho, pediu à Delegacia Geral de polícia o arquivamento do caso.
De acordo com Spadafora, à época, ele recebeu da Delegacia Regional de Ribeirão Preto uma série de informações que mostravam que não existia tal grupo na cidade.
"Eu desconheço a atuação desse grupo. No expediente que recebi naquela época do delegado regional não constava nada sobre isso. E, até agora, não tenho nenhum elemento que aponte a participação de policiais [nas mortes]", disse.
De acordo com o diretor do Deinter-3, no entanto, o caso da morte de João Paulo Alves Silva dentro do anexo do 1º DP de Ribeirão merece atenção.
Na última semana, o comando da PM em Ribeirão Preto também negou a existência de um grupo de extermínio dentro da corporação.
Colaborou ALESSANDRO SILVA
Ouvidor denunciou grupo de extermínio em Ribeirão Preto em 1998
MARCELO TOLEDOda Folha de S.Paulo, em Ribeirão Preto
A suposta existência de um grupo de extermínio formado por policiais militares e civis em Ribeirão Preto (314 km de SP) foi denunciada pela Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo há cinco anos.
O então ouvidor, Benedito Domingos Mariano, hoje secretário da Segurança Urbana da cidade de São Paulo, denunciou o caso ao delegado-geral de polícia e à Corregedoria da Polícia Militar em 26 de novembro de 1998. A existência do grupo fora negada.
Segundo os documentos enviados aos órgãos e obtidos pela Folha, as denúncias chegaram à Ouvidoria ainda no final de 1997. "A documentação [...] comprova [...] fortes indícios da existência de um grupo de extermínio naquela cidade [Ribeirão Preto]", diz trecho do documento.
Para Mariano, as manifestações das autoridades em 97 foram no sentido de negar a hipótese, "considerando normal o número de ocorrências e satisfatória a quantidade de autorias esclarecidas nos homicídios".
Ainda segundo a documentação, as vítimas geralmente eram jovens, com passagens pela Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), mortos com tiros na cabeça e cujos corpos foram abandonados em canaviais da região de Ribeirão.
Essa descrição é bastante parecida com a apresentada pelo relatório "Homicídios de Adolescentes no Município de Ribeirão Preto: 1995-98", pesquisa divulgada por esta Folha em 1999.
Com base nesse estudo, a Promotoria da Infância e da Juventude local encontrou à época indícios de existência de um "esquadrão da morte" de adolescentes.
"Diante da gravidade dos fatos esta Ouvidoria [...] solicita à Vossa Excelência [que] se digne a determinar novas e urgentes diligências para dar basta a essa situação que incomoda a comunidade local e envergonha a sociedade paulista, de modo geral", diz trecho final do documento enviado ao delegado-geral.
Na última sexta, o secretário de Estado da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, admitiu a possibilidade de haver um grupo de extermínio na cidade.
A Promotoria Criminal em Ribeirão e as corregedorias das polícias Civil e Militar começaram a apurar o caso em agosto do ano passado, quando receberam denúncias de envolvimento de policiais em pelo menos 20 mortes.
O suposto grupo seria composto por 17 policiais, sendo 12 militares e cinco civis _entre eles um delegado e um tenente da PM.
De acordo com o promotor Carlos Cardoso, assessor de direitos humanos da Procuradoria Geral de Justiça, ainda é cedo para tirar conclusões sobre a existência do grupo no município, mas há indícios. "Esses indícios são razoáveis e consistentes", afirmou.
O documento da Ouvidoria, enviado com carimbo de urgente, foi respondido pelo delegado Luiz Roberto Ramada Spadafora, hoje diretor do Deinter-3 (Departamento de Polícia Judiciária do Interior) e à época diretor-geral do órgão em São Paulo responsável por todo o interior, em 20 de julho do ano seguinte.
Ontem, Spadafora afirmou que as denúncias eram infundadas. "Recebi documentação que mostrava não haver nada", afirmou.
A Folha não conseguiu contato com Mariano ontem. Segundo a assessoria da secretaria, ele participava de uma reunião. O atual ouvidor, Fermino Fecchio, também não foi localizado.
Outro lado
O diretor do Deinter-3, Luiz Roberto Ramada Spadafora, voltou a negar a existência de um grupo de extermínio em Ribeirão Preto.
Em 1998, quando a Ouvidoria denunciou o caso às polícias Civil e Militar, Spadafora comandava o Deinter do Estado todo, em São Paulo, segundo ele próprio. Em despacho, pediu à Delegacia Geral de polícia o arquivamento do caso.
De acordo com Spadafora, à época, ele recebeu da Delegacia Regional de Ribeirão Preto uma série de informações que mostravam que não existia tal grupo na cidade.
"Eu desconheço a atuação desse grupo. No expediente que recebi naquela época do delegado regional não constava nada sobre isso. E, até agora, não tenho nenhum elemento que aponte a participação de policiais [nas mortes]", disse.
De acordo com o diretor do Deinter-3, no entanto, o caso da morte de João Paulo Alves Silva dentro do anexo do 1º DP de Ribeirão merece atenção.
Na última semana, o comando da PM em Ribeirão Preto também negou a existência de um grupo de extermínio dentro da corporação.
Colaborou ALESSANDRO SILVA
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