Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
03/04/2003 - 03h44

Com licença do tráfico, ministro visita favela no Rio

SERGIO TORRES
da Folha de S.Paulo, no Rio

A visita do ministro das Cidades, Olívio Dutra, a uma favela de Niterói (15 km do Rio), ontem de manhã, teve que ter a aprovação de traficantes da facção criminosa CV (Comando Vermelho).

Os contatos que permitiram a visita do ministro foram mantidos entre a Prefeitura de Niterói e a Associação de Moradores de Nova Brasília. O ministério não participou dos entendimentos.

A favela Nova Brasília, considerada uma das mais perigosas da região metropolitana do Rio, é controlada por Luís Cláudio Gomes, o Pão com Ovo, traficante preso no complexo penitenciário de Bangu (zona oeste) e apontado pela Secretaria de Segurança do Rio como um dos líderes do CV.

No Rio, a realização de serviços públicos em favelas e as visitas de autoridades em geral são avisadas com antecedência às associações de moradores, que quase sempre consultam os traficantes.

Na sexta passada, o presidente da associação, Ronaldo Correia da Silva, recebeu da prefeitura a informação de que o prefeito Godofredo Pinto (PT) gostaria de levar o ministro das Cidades à favela. O objetivo: mostrar o trabalho de parceria entre a prefeitura e a comunidade em obras de contenção de encostas em áreas de risco.

No fim de semana, os representantes de Pão com Ovo foram informados. A aprovação do tráfico foi dada na segunda. Até então a ida do ministro a Niterói não estava confirmada.

Uma condição foi imposta pelo tráfico e atendida pelos organizadores: a de que não houvesse muitos policiais civis e militares circulando pela favela durante a visita.

A PM limitou sua atuação ao policiamento dos acessos à favela. A Polícia Civil nem sequer foi avisada da presença do ministro no local, disse o delegado Anestor Magalhães, diretor da Delegacia Regional de Niterói. "Não tem que combinar nada com traficante. Isso só fortalece o crime. É um reconhecimento do poder paralelo." O delegado disse considerar a Nova Brasília uma "favela problemática", pois a quadrilha é aliada de traficantes dos morros da Mangueira (zona norte) e Providência (centro), redutos do CV.

Oficialmente, a prefeitura e a associação desmentem ter havido consulta ao tráfico. "Não temos trato com traficantes. O contato da prefeitura foi feito com a associação de moradores", disse o prefeito, por meio de sua assessoria. O presidente da associação disse que mantém distância de traficantes. "Para lá [referência ao tráfico de drogas], não tenho noção do que acontece." O ministro não havia falado sobre o assunto até a conclusão desta edição.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página