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23/04/2010 - 22h40

Oficial da PM de Goiás é investigado por liderar grupo de extermínio

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FELIPE BÄCHTOLD
da Agência Folha

"Limpeza na sociedade" foi a motivação apontada por promotores de Goiás para uma sequência de cinco mortes atribuídas a PMs e ocorridas em um mesmo dia na cidade de Rio Verde em 2003. A série de crimes no município é apenas um dos processos a que um major da polícia do Estado responde.

Alvo de cinco ações por homicídios que somam 13 mortes, o oficial é suspeito de liderar um grupo de extermínio itinerante em Goiás. Após uma nova série de mortes na cidade de Alvorada do Norte em fevereiro, Ricardo Rocha Batista, 36, foi afastado de suas funções e passou a ser investigado por uma comissão da Polícia Civil.

Segundo o Ministério Público, em duas cidades onde ele comandou unidades nos últimos anos --Formosa e Rio Verde--, o número de registros de mortes em "conflitos" com policiais cresceu abruptamente.

Os casos começaram no início da década, quando o PM chefiava a Rotam, uma espécie de Rota de Goiânia. Uma comissão de diretos humanos da Assembleia Legislativa também investiga a atuação de grupos de extermínio em Goiás.

Segundo o procurador-geral de Justiça de Goiás, Eduardo Abdon Moura, há a suspeita de que o grupo tenha recebido dinheiro de fazendeiros para matar supostos ladrões.

No caso de Rio Verde (241 km de Goiânia), as cinco mortes ocorreram logo após uma fuga de presos na cadeia da cidade. O Grupo de Patrulhamento Tático local, então comandado por Batista, perseguiu os detentos pela cidade e recapturou ao menos seis.

Cinco foram levados para as margens de um córrego. De acordo com denúncia do Ministério Público, os policiais tomaram o cuidado de afastar do local PMs de outras unidades e moradores e mataram os fugitivos até com tiros na nuca. Os promotores concluíram que os autores do "massacre" o fizeram "porque entendiam que bandido tem que morrer".

Desaparecidos

Uma nova suspeita contra o major, ainda sendo investigada, causou o afastamento temporário dele e de outros seis PMs. A unidade da polícia de Formosa é suspeita de matar três homens em Alvorada do Norte (468 km de Goiânia), em fevereiro. Dois estão desaparecidos.

Antônia Nunes de Brito, 36, irmã do desaparecido Pedro Nunes da Silva Neto, 32, diz que testemunhas afirmaram ter visto policiais o prendendo em um rio, onde tomava banho, e o colocando em um camburão. Informada, a família procurou delegacias de toda a região, mas não encontrou pistas.

"Um agente disse: eles usaram carro da polícia, farda da polícia, mas não estavam trabalhando como polícia", conta. Ela também é prima de Higino Carlos Pereira de Jesus, 24, encontrado morto dois dias antes.

O procurador-geral Moura diz que outros suspeitos atuaram com Batista também em mais de um dos três municípios. "Nas cidades onde ele [Batista] esteve chefiando algum contingente, havia coincidência de mortes pela mesma forma, pelo mesmo modus operandi", afirma.

Outro lado

O advogado do major da PM, Thales Jayme, diz que há "precipitação" do Ministério Público ao suspeitar da ação de grupos de extermínio e que todas as mortes ocorreram em confrontos entre criminosos e policiais. Segundo Jayme, que o defende em um dos processos e no caso de Alvorada, a suspeita que levou ao afastamento do policial se baseia em rumores.

Afirma ainda que, quando ocorre a ação de um grupo extermínio, não costuma haver um processo com vítimas e réus detalhadamente identificados, como são os que tramitam contra o major. A Folha ligou várias vezes para o policial na tarde de ontem, mas as ligações não foram atendidas.

A reportagem também procurou o corregedor da Polícia Militar de Goiás, Lorival Camargo, que disse que a corporação "não compactua" com grupos de extermínio. Para Camargo, "não há como afirmar se houve ou não" atuação de grupos do tipo nessas cidades. Mas diz que situações de confrontos envolvendo policiais e suspeitos são "comuns".

Fala ainda que, como não há nenhuma sentença condenando o policial, ele não pode ser "prejulgado" pela corporação. De acordo com o corregedor, os processos na Justiça costumam ser originados de investigações iniciadas dentro da própria Polícia Militar.

 

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