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13/08/2000 - 11h11

Mamão transgênico contra-ataca vírus

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ISABEL GERHARDT
da Folha de S.Paulo

Quem com ferro fere, com ferro será ferido. Essa máxima poderia bem ilustrar a estratégia empregada pelo pesquisador da Embrapa Manoel Souza Júnior para desenvolver um mamão que é resistente ao vírus da mancha anelar. Ele utilizou um gene do próprio vírus para criar mamoeiros capazes de repelir seu ataque.

Esse vírus é o principal problema da cultura em todo o mundo. 'No Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro, que no início da década de 80, chegaram a produzir até 5.000 hectares, hoje produzem menos de 300 hectares em função do vírus', disse Souza Júnior à Folha.

Os produtores mudaram-se para o norte do Espírito Santo e sul da Bahia, mas o vírus foi atrás. Esse deslocamento das áreas de plantio acontece até hoje. O vírus afeta toda a planta. Os sintomas se manifestam inicialmente nas folhas, que ficam amareladas. Se a planta não for eliminada, com o tempo ela perde área foliar, afetando os índices de produção. Menos folhas, menos fotossíntese, menor capacidade produtiva. O fruto também é atingido, adquirindo manchas na forma de anéis. Daí o nome do vírus.

Possibilidades esgotadas

O vírus é disseminado por um inseto (afídeo, da família dos pulgões), mas o controle químico é pouco eficiente. 'Quando você mata o inseto, a planta já foi contaminada', explica o pesquisador. Outro problema que torna o combate ao vírus ainda mais difícil é que não existe resistência na espécie Carica papaya (mamão). Existem espécies do gênero Carica que são resistentes ao vírus, mas há um problema: essas espécies não cruzam com o mamão.

'Todas as possibilidades de controle se esvaíram', disse Souza Júnior. Existem fazendas onde pessoas são pagas para caminhar todos os dias pela plantação e derrubar as plantas infectadas, com o objetivo de diminuir a população de vírus. Mas isso é apenas um paliativo.

A saída para uma alternativa eficaz de controle foi encontrada no final da década de 80, quando a Universidade Cornell, EUA, em colaboração com a Universidade do Havaí, produziu as primeiras plantas transgênicas de mamão resistentes ao vírus.

Feitiço

A estratégia utilizada foi transformar os mamoeiros com um gene do próprio vírus. Os cientistas se aproveitaram de um mecanismo conhecido como silenciamento de genes. Diferentes organismos apresentam formas diversas de silenciamento. No caso do mamão, a história é semelhante à idéia do feitiço que virou contra o feiticeiro.

Parece haver um limite máximo que a planta pode aguentar de 'produção' de cada gene. Se acontecer em excesso, a planta passa a destruir o produto intermediário desse gene, o RNA. Com a transferência para o mamão de um gene do vírus, a planta passa a produzir o RNA correspondente. Ao infectar a planta, o vírus insere seu material genético para que também seja produzido.

Com isso, passa a existir uma sobrecarga na produção daquele gene, agora presente na planta em dose dupla. A planta não aguenta e 'desliga' a produção, degradando o RNA. O próprio gene do vírus contribui para sua destruição.

Vírus brasileiro

Só que as plantas obtidas pelas universidades norte-americanas não foram resistentes ao vírus brasileiro. O trabalho de Souza Júnior foi justamente, utilizando um gene de um vírus da Bahia, produzir plantas resistentes para as condições do país.

A fase de testes no campo já começou. 'É o primeiro campo com fruteiras transgênicas da América do Sul', informa o pesquisador. O objetivo é produzir sementes e avaliar as características agronômicas do material.

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