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29/06/2003 - 05h16

Reforma resgata parque Dom Pedro

MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo

O parque Dom Pedro 2º sempre foi uma espécie de casa-da-mãe-joana da região central de São Paulo, onde cada um fazia o que lhe desse na telha. Prefeitura e governo do Estado fatiaram os jardins com avenidas, construíram viadutos sobre o parque e ocuparam o que era área de lazer com terminal de ônibus. Agora, a prefeitura que reverter o horror com uma espécie de choque urbanístico em quatro movimentos:

* O parque será recriado a partir de um projeto de Fernando Chacel, considerado o principal paisagista brasileiro e sucessor de Roberto Burle Marx (1909-1994);

* O prédio do Mercado Municipal, inaugurado em 1933, será restaurado e ganhará um mezanino a ser ocupado por seis restaurantes de renome;

* O Palácio das Cidades, ocupado pela sede da prefeitura, dará lugar ao Museu da Cidade em janeiro do próximo ano, quando a prefeita Marta Suplicy deve mudar-se para um prédio conhecido como Banespinha, no viaduto do Chá, também no centro;

* A Casa das Retortas, construída em 1889 como uma usina de gás e convertida hoje em repartição pública, será transformada em uma filial do Anhembi para abrigar feiras e convenções de menor porte.

As quatro intervenções estão orçadas em R$ 37,5 milhões, financiados pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) como parte do programa de reabilitação do centro. "É o maior investimento da prefeitura em obras numa única área no centro", diz Marcos Barreto, 34, diretor de desenvolvimento da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização).

A concentração de obras numa única área degradada tem um sentido estratégico, segundo Nadia Somekh, 49, presidente da Emurb: o de inverter uma tendência histórica que levou a elite paulistana a dar as costas para a zona leste da cidade.

Desde o início do século 20, quando os mais ricos começaram a migrar da praça do Patriarca para o outro lado do viaduto do Chá, e depois para Campos Elíseos, Higienópolis, avenida Paulista e Jardim Europa, a zona leste sempre foi "a cidade dos trabalhadores", na qual sempre houve menos investimentos públicos, na visão de Somekh. O parque Dom Pedro 2º era o divisor dos dois mundos e sua degradação era proporcional ao afastamento da elite do centro.

"Vamos tentar corrigir um movimento histórico: queremos construir a possibilidade de expandir os benefícios da cidade para a zona leste", afirma.

Pelo menos uma empresa privada deve endossar a aposta da prefeitura. A Comgás planeja voltar para a rua do Gasômetro, ao lado do parque, e se instalar num prédio que começou a ser construído em 1890.

Parque original

O parque Dom Pedro foi encomendado em 1910 a Joseph-Antoine Bouvard, chefe dos serviços de paisagismo e de vias públicas de Paris. Aberto oficialmente em 1922, no centenário da Independência, seu traçado envolvia as duas margens do rio Tamanduateí. Com a abertura da avenida do Estado, a margem esquerda do parque foi abandonada.

Chacel, 72, quer retomar duas características do projeto original: o parque que se estende pelas duas margens do rio e a integração com o Palácio das Indústrias. Numa primeira fase, prevista para ser concluída em maio de 2004, a área do parque aumentará de 76.300 m2 para 135.350 m2. No projeto final, sem previsão de conclusão, o parque deve ficar com 234.045 m2 --um aumento de área de 206%.

Como novidades, Chacel criará um espelho d'água de 200 metros, sobre o qual haverá um palco, e fará área de shows para 3.000 pessoas. "A recuperação do parque será o fio condutor da revitalização da região", diz o paisagista que reconstruiu 13 quilômetros lineares de mata em torno de lagoas na Barra, no Rio, obra que lhe deu reputação internacional.

No parque, Chacel não vê sentido em reconstruir a mata original. Ele pretende trabalhar com as floradas paulistas.

Dois dos maiores problemas da região, os camelôs e o edifício São Vito, cujo grau de degradação é notório, são políticos e não comportam soluções urbanísticas, segundo Chacel.

Para os camelôs, não há solução à vista. Já para o São Vito, há ao menos um sonho da prefeita: implodir o prédio de 27 andares, no qual moram 3.084 pessoas. O problema é o custo: a desapropriação consumiria cerca de R$ 3,5 milhões, mas a conta pode chegar a R$ 30 milhões com a realocação dos moradores.
 

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