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04/07/2003 - 03h29

Denúncia liga policiais a crime organizado em MG

THIAGO GUIMARÃES
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Policiais civis que tiveram a prisão preventiva decretada em Minas Gerais após acusação de participação em tráfico de drogas, extorsão de dinheiro e prostituição estariam, segundo depoimentos de testemunhas, ligados à Scuderie Detetive Le Cocq --organização acusada de agir como um esquadrão da morte.

A denúncia foi feita por duas prostitutas, em depoimentos sigilosos à Corregedoria da Polícia Civil, ao Ministério Público e à Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa.

As instituições e a Corregedoria da PM investigam o envolvimento de policiais em crimes.

Desde o dia 16, dez policiais civis e quatro militares já foram presos preventivamente, acusados de integrar esquema de comércio de drogas, extorsão de dinheiro, aliciamento e assassinato de prostitutas no centro de Belo Horizonte.

A suposta "banda podre" da polícia mineira é investigada desde 30 de maio. Na ocasião, S.H.M., 49, presa com drogas, afirmou que trabalhava para policiais que comandariam a venda de entorpecentes no centro da capital mineira e seriam responsáveis pela morte de cinco prostitutas somente neste ano.

Desde então, 11 prostitutas prestaram depoimento. No dia 18, quatro confirmaram as acusações, em reunião da Comissão de Direitos Humanos. Encapuzadas, tiveram a identidade preservada.

A Agência Folha teve acesso à transcrição de depoimento tomado pela Corregedoria da Polícia Civil em 5 de junho, quando a testemunha acusou e identificou, por meio de fotos, oito dos dez policiais civis atualmente presos.

Em outro trecho do depoimento, a testemunha aponta a ligação do grupo com a SDLC (Scuderie Detetive Le Cocq).

Diz o documento: "Que a depoente informa que os policiais civis se reúnem aos sábados na Lecokc (sic), que trata-se de um grupo de extermínio, (...) e é o local onde se encontram para fazer churrasco e distribuir a "sopa" [dinheiro], quando então fazem distribuição de tarefas no tráfico".

As informações sobre a entidade e o grupo de policiais presos foram confirmadas por outra testemunha, em depoimento aos deputados da Comissão de Direitos Humanos.

"Pode existir vários membros da Scuderie Le Cocq envolvidos", afirmou o promotor Leonardo Castelo Branco, da Promotoria de Tóxicos. Segundo ele, que integra o grupo de seis promotores que investiga o caso, a Promotoria já possui provas documentais do envolvimento de policiais e irá denunciar os que estão presos.

De acordo com o promotor, ainda não é possível dizer que há uma organização criminosa de policiais agindo no Estado. Até o momento, segundo ele, as apurações apontam para ações isoladas, porém coordenadas.

Outras duas frentes de denúncias estão sendo investigadas. A primeira é que policiais estariam envolvidos em assassinatos de mulheres ocorridos entre 1999 e 2001 na região metropolitana de Belo Horizonte.

Outras --e recentes-- denúncias apontam suposta participação de policiais civis em crimes em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte.

A investigação gerou reações dentro da Polícia Civil. No último dia 25, após enterro de um detetive assassinado na noite anterior, cerca de 500 policiais civis --segundo estimativa da Assembléia Legislativa-- saíram em carreata.

O ato terminou na frente da sede do Legislativo com declarações inflamadas de policiais e líderes sindicais, que, ostentando armas, prometeram vingar assassinatos de colegas e criticaram o modo de condução das apurações.
 

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