17/08/2000 - 17h14

Preso teria dito à CPI que morreria na penitenciária da Papuda

MILENA BUOSI
LUANA GARCIA
da Folha Online

O preso Ananias da Silva, que foi morto no último domingo à tarde dentro do Complexo Penitenciário de Brasília (Papuda), teria dito em depoimento à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), que investiga o roubo de cargas no país, que seria morto dentro da penitenciária.

"Espero que eu possa sair do presídio", disse Ananias à CPMI, após ser pressionado por integrantes da comissão. A frase foi uma resposta ao deputado Pompeu de Mattos (PDT-RS), integrante da CPMI.

"Ele comentou que algumas empresas transportadores de cargas eram de 'fachada', mas não dizia quem, nem quando, nem onde", afirmou o deputado.

"Falei para ele que, se ele não falasse, poderia estar condenado à morte. Ele ficou muito nervoso, enlouqueceu e disse aquilo", afirmou o deputado. Mattos disse que, no momento, achou que a afirmação de Ananias era uma ameaça à ele. "Hoje sei que ele estava sinalizando que iria morrer lá (na penitenciária)."

De acordo com o deputado, em seu depoimento, Ananias não acrescentou muito às investigações.

Mattos afirmou que as investigações da CPI do Narcotráfico, da qual foi relator, não chegaram à conclusão de que ele estaria envolvido com o ex-deputado federal Hildebrando Pascoal ou com o ex-deputado estadual José Gerardo. Os dois estão presos.

Segundo o deputado, Ananias fazia parte de uma das maiores quadrilhas de roubo de cargas e morte de caminhoneiros do país.

O complexo penitenciário é formado pelo presídio da Papuda -com capacidade para 600 detentos e que hoje está com 1.200- e por outros seis núcleos de custódia, chamados de colônias penais agrícolas (CPA), que contam com 1.807 detentos.

Segundo apurou a Folha Online, o complexo vinha registrando constantes brigas de presos no último mês.

Segundo o deputado Alírio Neto (PPS), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Distrital de Brasília, a rebelião que resultou na morte de 11 presos hoje teria sido motivada pela morte de Silva.

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