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27/07/2003
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09h56
A evolução do acampamento Santo Dias, no terreno da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, tem como espelho, no futuro, caso os 4.000 invasores consigam permanecer no local, o assentamento Anita Garibaldi, em Guarulhos, também na Grande SP.
O local, de 1,139 milhão de metros quadrados, no bairro de Bonsucesso, periferia da cidade, está tomado por barracos de madeira. Mas existe uma organização no que se poderia chamar de favela. As 1.890 famílias que moram no local estão divididas em lotes de cem metros quadrados.
As ruas, todas de terra, seguem o traçado de um loteamento, que contou com a ajuda de estudantes da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), da USP.
Há luz, puxada clandestinamente, e água, embora nas casas mais ao fundo do assentamento só chegue em caminhão pipa. Uma pequena horta e uma farmácia, ambas comunitárias, auxiliam os moradores. A ocupação, executada em maio de 2001, foi planejada quatro meses antes. Até hoje, porém, ainda não há uma definição sobre a posse da área.
Carlos Alves, cantor que percorreu o Norte e o Nordeste do país, na década de 80, cantando em restaurantes e bares e chegou a gravar um disco, foi um dos primeiros invasores. "Cheguei aqui em 19 de maio de 2001 e na área só havia mato, carros e cadáveres."
Alves parou de cantar por causa de uma meningite --"Tive de vender casa e carro para me tratar"-- e hoje tem um bar na rua principal do assentamento. "A vida aqui foi dura; matei cobra, sangrei minhas mãos cortando madeira, mas, afinal, valeu a pena."
Os pedreiros Jairo Ferreira dos Santos, 42, e Ailton Manoel da Cruz, 33, também lembram das dificuldades. "As ruas aqui foram abertas sem ajuda de máquinas; foi tudo na mão mesmo", afirma Santos. "A gente só está esperando regularizar a situação para construir nossas casas com blocos de cimento", planeja Cruz. Ambos trabalham na manutenção de um conjunto habitacional da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), num bairro próximo.
O porteiro João Antonio, 34, é mais novo no assentamento. Ele morava de aluguel em Cidade A.E.Carvalho, na zona leste de São Paulo, e soube por um amigo que estavam vendendo um barraco no local. Resolveu deixar a casa, pela qual pagava R$ 400 mensais, e investir R$ 1.300 na compra do novo imóvel. Ele mora no Anita Garibaldi há pouco mais de um ano. De férias, ajuda a mulher a vender detergentes, balas e desinfetantes. "A gente tem de se virar."
Assentamento em Guarulhos é modelo para sem-teto
da Folha de S.PauloA evolução do acampamento Santo Dias, no terreno da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, tem como espelho, no futuro, caso os 4.000 invasores consigam permanecer no local, o assentamento Anita Garibaldi, em Guarulhos, também na Grande SP.
O local, de 1,139 milhão de metros quadrados, no bairro de Bonsucesso, periferia da cidade, está tomado por barracos de madeira. Mas existe uma organização no que se poderia chamar de favela. As 1.890 famílias que moram no local estão divididas em lotes de cem metros quadrados.
As ruas, todas de terra, seguem o traçado de um loteamento, que contou com a ajuda de estudantes da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), da USP.
Há luz, puxada clandestinamente, e água, embora nas casas mais ao fundo do assentamento só chegue em caminhão pipa. Uma pequena horta e uma farmácia, ambas comunitárias, auxiliam os moradores. A ocupação, executada em maio de 2001, foi planejada quatro meses antes. Até hoje, porém, ainda não há uma definição sobre a posse da área.
Carlos Alves, cantor que percorreu o Norte e o Nordeste do país, na década de 80, cantando em restaurantes e bares e chegou a gravar um disco, foi um dos primeiros invasores. "Cheguei aqui em 19 de maio de 2001 e na área só havia mato, carros e cadáveres."
Alves parou de cantar por causa de uma meningite --"Tive de vender casa e carro para me tratar"-- e hoje tem um bar na rua principal do assentamento. "A vida aqui foi dura; matei cobra, sangrei minhas mãos cortando madeira, mas, afinal, valeu a pena."
Os pedreiros Jairo Ferreira dos Santos, 42, e Ailton Manoel da Cruz, 33, também lembram das dificuldades. "As ruas aqui foram abertas sem ajuda de máquinas; foi tudo na mão mesmo", afirma Santos. "A gente só está esperando regularizar a situação para construir nossas casas com blocos de cimento", planeja Cruz. Ambos trabalham na manutenção de um conjunto habitacional da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), num bairro próximo.
O porteiro João Antonio, 34, é mais novo no assentamento. Ele morava de aluguel em Cidade A.E.Carvalho, na zona leste de São Paulo, e soube por um amigo que estavam vendendo um barraco no local. Resolveu deixar a casa, pela qual pagava R$ 400 mensais, e investir R$ 1.300 na compra do novo imóvel. Ele mora no Anita Garibaldi há pouco mais de um ano. De férias, ajuda a mulher a vender detergentes, balas e desinfetantes. "A gente tem de se virar."
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