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08/09/2003 - 09h44

Delegacia especializada tem TV a cabo; no distrito falta dinheiro

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ANDRÉ CARAMANTE
do Agora São Paulo

De dia, ver filmes, desenhos, documentários sobre a vida animal e programas norte-americanos de investigação. À noite, até filmes eróticos. O que parece ser a descrição das férias dos sonhos de um adolescente é, na prática, o resumo do dia-a-dia de alguns policiais do Deic --o departamento especializado em combate ao crime organizado de São Paulo.

Enquanto os policiais de um dos órgãos de elite da Polícia Civil desfrutam da programação da TV paga --cujo pacote não sai por menos de R$ 70--, seus colegas de algumas delegacias se desdobram para garantir condições mínimas de atendimento à população e tiram do bolso o dinheiro necessário para a compra de folhas de papel e de peças para os carros, por exemplo.

Na semana passada, o Agora fez três visitas ao Deic, em horários distintos. Em todas, flagrou salas repletas de investigadores --sempre mais de cinco deles-- assistindo a programas da TV a cabo.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública admitiu que o governo paga um ponto de TV a cabo no Deic, instalado na delegacia de crimes pela internet. Outros dois seriam financiados pelos policiais em salas com plantão 24 horas.

Mas há mais deles: pelo menos dois na Divecar, um na sala de reconhecimento, um na 1ª Delegacia do Patrimônio e um na chefia dos agentes de telecomunicações.

J. Patrício/Folha Imagem

Policiais do Deic assistem ao canal Discovery Channel
De dia, os canais Animal Planet e Discovery Channel são os favoritos. Quando a noite chega --e os corredores ficam mais vazios--, surgem na tela os programas pornográficos, segundo policiais que, por motivos óbvios, pediram para não serem identificados.

Do luxo ao lixo

Às 11h50 do último dia 29, por exemplo, sete investigadores estavam sentados, vidrados em um documentário do Discovery sobre a vida dos veados, na 1ª Delegacia do Patrimônio, no térreo.

É uma vida bem diferente da que têm seus colegas do 7º DP de Guarulhos, por exemplo. Lá, tem vaquinha para o papel sulfite, para a caneta e até para a munição. Quando o material de escritório chega, o pesadelo fica por conta dos cinco carros do distrito, que param várias vezes ao mês.

Quando falta dinheiro aos policiais, eles apelam para comerciantes, vizinhos e, no limite, a pessoas que esperam para serem ouvidas.

Na última sexta, dia 5, a reportagem encontrou o mecânico Leandro de Almeida Santos, 20 anos, trocando a correia dentada do Santana P-9381, placas BNZ-8611, do 7º DP.

Santos havia sido detido pela PM no dia anterior porque estava mexendo, sem saber, no motor de um carro roubado. Esperava para ser ouvido e foi convidado a ajudar.

Em setembro, o carro já engolira mais de R$ 150 dos policiais _cópias das notas fiscais das peças foram entregues à reportagem. Dessa vez, porém, não adiantou. E o Santana só sairia guinchado da porta do DP.

Outro lado

A Secretaria da Segurança Pública indicou o delegado Ronaldo Tossunian, supervisor do setor de comunicações e meios do Deic, para falar sobre o caso. Em conversa gravada, ele minimizou o fato de policiais ficarem vendo TV nas horas em que são pagos para investigar, mas disse, inicialmente, que não sabia da existência dos pontos de cabo.

"O que é isso perto da investigação do sequestro do [Washington] Olivetto, do caso do Celso Daniel, do Schincariol, do PCC", perguntou Tossunian, citando casos esclarecidos pelo Deic.

"Há parceria. Aí recebemos a proposta de internet rápida da NET. O interesse é nisso. Se tem TV a cabo, é sem o nosso conhecimento."

No meio da conversa, porém, o policial acabou admitindo a existência da facilidade, mas disse ignorar o número de pontos instalados. Por fim, afirmou que "acha errado" policiais ficarem vendo TV e cogitou a possibilidade de o departamento apurar o caso. Mas insistiu: "O que é isso perto de tudo o que o Deic já fez? Tem 90% certo, mas vocês foram atrás de 10% errado".

Já o delegado Willian Grande, da Seccional de Guarulhos, atribuiu as denúncias de falta de condições a policiais "descontentes e mentirosos".
 

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