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20/09/2003
-
17h22
EDNEY CIELICI DIAS
da Folha de S.Paulo
Hoje é preciso olhar bem para distinguir as primeiras casas da Cohab (Companhia Metropolita na de Habitação). Os moradores aos poucos deram identidade às habitações --construíram novas fachadas, fizeram ampliações, um puxadinho aqui, outro ali. Já não é tão fácil se perder em Cidade Tiradentes, conjunto habitacional que contava com uma população de 190 mil pessoas em 2000.
Os moradores mais antigos contam que foram "jogados" no local no início dos anos 80, logo após a construção das primeiras habitações. A região fora ocupada por uma fazenda da época da escravidão, com senzala e pelourinho. Mais recentemente, parte da antiga sede da propriedade escravocrata foi destruída para a construção de um terminal de ônibus.
Os primeiros habitantes do conjunto contam que as moradias e as ruas eram absolutamente iguais. Ninguém conhecia os vizinhos. Pessoas voltavam do trabalho e se perdiam, pois não tinham referências do caminho de casa. Não havia transporte, nem comércio, nem serviços.
Cortiços
Gilson Negão, diretor da Sociedade Comunitária Fala Negão da zona leste, lembra, por exemplo, que uma população predominantemente negra do Bexiga foi levada para lá devido ao processo de desocupação dos cortiços.
"Houve casos de pessoas que ficaram dias perdidas. O sujeito saía para trabalhar e depois não conseguia encontrar a própria casa. Você pode imaginar isso?"
Hoje, o conjunto tem ruas asfaltadas. No início, naquela área acidentada, a terra das ruas era levada pelas águas da chuva. Nos pontos mais baixos do conjunto, muita lama se acumulava. Era necessário trocar de roupa para pegar acondução.
Desde aquele tempo, o conjunto só cresceu. Mas a oferta de infra-estrutura não acompanhou o gigantismo. A região chegou a ser conhecida como "caixote de exclusão", em uma referência ao formato de suas edificações.
Poder público
"'Quem são vocês?', pergunta o poder público quando vem aqui", diz Valter Hylário, 52, diretor de políticas públicas do Fala Negão emorador de Cidade Tiradentes há 11 anos.
Hylário lembra que a população negra de bairros como Casa Verde, Limão, Vila Prudente, Ipiranga, Vila Formosa e Jabaquara foi para o conjunto habitacional porque não conseguiu suportar o custo de viver nessas regiões.
"Sem querer, acabaram unindo várias populações negras de São Paulo. Cidade Tiradentes é a memória do negro. A partir da consciência desse fato, criamos umaidentidade cultural criativa."
Padrão de segregação
Kazuo Nakano, da equipe do Mapa da Exclusão/Inclusão Social da PUC-SP, explica que a Barra Funda, a Bela Vista e o Jabaquara, por exemplo, eram territórios negros no início do século 20.
Nesse período, a segregação sócio-espacial era marcada pela contiguidade entre riqueza e pobreza. A população negra vivia em espaços justapostos aos espaços de moradia dos grupos de maior renda.
Hoje, esses distritos aparecem com baixa concentração de negros. A periferização dessa população seguiu o processo de mudança no padrão de segregação sócio-espacial, que demarcou grandes distâncias físicas e sociais entre os grupos de alta e baixa renda da cidade.
Mas, ainda hoje, a pobreza e a riqueza aparecem juntas, como no caso dos condomínios fechados que convivem com favelas e loteamentos clandestinos.
"Cidade Tiradentes é a memória negra"
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da Folha de S.Paulo
Hoje é preciso olhar bem para distinguir as primeiras casas da Cohab (Companhia Metropolita na de Habitação). Os moradores aos poucos deram identidade às habitações --construíram novas fachadas, fizeram ampliações, um puxadinho aqui, outro ali. Já não é tão fácil se perder em Cidade Tiradentes, conjunto habitacional que contava com uma população de 190 mil pessoas em 2000.
Os moradores mais antigos contam que foram "jogados" no local no início dos anos 80, logo após a construção das primeiras habitações. A região fora ocupada por uma fazenda da época da escravidão, com senzala e pelourinho. Mais recentemente, parte da antiga sede da propriedade escravocrata foi destruída para a construção de um terminal de ônibus.
Os primeiros habitantes do conjunto contam que as moradias e as ruas eram absolutamente iguais. Ninguém conhecia os vizinhos. Pessoas voltavam do trabalho e se perdiam, pois não tinham referências do caminho de casa. Não havia transporte, nem comércio, nem serviços.
Cortiços
Gilson Negão, diretor da Sociedade Comunitária Fala Negão da zona leste, lembra, por exemplo, que uma população predominantemente negra do Bexiga foi levada para lá devido ao processo de desocupação dos cortiços.
"Houve casos de pessoas que ficaram dias perdidas. O sujeito saía para trabalhar e depois não conseguia encontrar a própria casa. Você pode imaginar isso?"
Hoje, o conjunto tem ruas asfaltadas. No início, naquela área acidentada, a terra das ruas era levada pelas águas da chuva. Nos pontos mais baixos do conjunto, muita lama se acumulava. Era necessário trocar de roupa para pegar acondução.
L. de Almeida/Folha Imagem Vista do conjunto Cidade Tiradentes |
Poder público
"'Quem são vocês?', pergunta o poder público quando vem aqui", diz Valter Hylário, 52, diretor de políticas públicas do Fala Negão emorador de Cidade Tiradentes há 11 anos.
Hylário lembra que a população negra de bairros como Casa Verde, Limão, Vila Prudente, Ipiranga, Vila Formosa e Jabaquara foi para o conjunto habitacional porque não conseguiu suportar o custo de viver nessas regiões.
"Sem querer, acabaram unindo várias populações negras de São Paulo. Cidade Tiradentes é a memória do negro. A partir da consciência desse fato, criamos umaidentidade cultural criativa."
Padrão de segregação
Kazuo Nakano, da equipe do Mapa da Exclusão/Inclusão Social da PUC-SP, explica que a Barra Funda, a Bela Vista e o Jabaquara, por exemplo, eram territórios negros no início do século 20.
Nesse período, a segregação sócio-espacial era marcada pela contiguidade entre riqueza e pobreza. A população negra vivia em espaços justapostos aos espaços de moradia dos grupos de maior renda.
Hoje, esses distritos aparecem com baixa concentração de negros. A periferização dessa população seguiu o processo de mudança no padrão de segregação sócio-espacial, que demarcou grandes distâncias físicas e sociais entre os grupos de alta e baixa renda da cidade.
Mas, ainda hoje, a pobreza e a riqueza aparecem juntas, como no caso dos condomínios fechados que convivem com favelas e loteamentos clandestinos.
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