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30/09/2003
-
00h01
KIYOMORI MORI
free-lance para a Folha de S.Paulo
Pouca gente que olhar a histórica foto da primeira turma da Universidade de São Paulo, tirada em 1936, perceberá a ausência de um de seus formandos: Marcello Damy, na época com 22 anos.
Sem dinheiro para comprar o smoking e pagar a festa de formatura, Damy não saiu no retrato.
O jovem, de uma família humilde de Campinas, e que durante a Revolução de 1932 havia fabricado morteiros para o Exército, teve de comemorar em casa a conquista do diploma, enquanto os colegas posavam para o momento histórico com roupas de gala.
Atualmente com 89 anos e mesmo aposentado desde 1966, Damy continua na USP, mas agora orientando gratuitamente alunos da pós-graduação do Ipen (Instituto de Pesquisas Nucleares).
Criada em 1934, por decreto do então governador Armando de Salles Oliveira, a nova instituição, na verdade, consistiu na reunião, em uma única universidade, de faculdades já existentes em São Paulo.
Com isso, cursos como o de direito do Largo São Francisco, a Faculdade de Medicina e a escola Politécnica passaram a integrar, com a recém-criada Filosofia, Ciências e Letras, a Universidade de São Paulo.
"A criação da USP não foi apenas uma medida burocrática, para unir faculdades espalhadas, mas, sim, uma revolução no ensino. Pela primeira vez se discutia no Brasil a necessidade de pesquisa pura", afirma Damy.
Formação
O professor lembra que havia muito debate no meio acadêmico e nos jornais sobre a necessidade da criação de uma universidade para São Paulo. Ele cursava o terceiro ano de engenharia na época e, convidado por um professor, largou os estudos da Politécnica para seguir o curso de física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.
"Foi uma decisão difícil, mas a criação da universidade trouxe um novo conceito do magistério, com professor de dedicação integral, e novos cursos que passaram a se preocupar com a formação desses profissionais", explica.
Segundo Damy, não havia antes, no Brasil, cursos que formassem professores universitários. O professor de engenharia era um engenheiro que dedicava algumas horas para a universidade, o de direito era um advogado que deixava o escritório à tarde para dar aulas.
"Eles eram bons profissionais, mas faltava a didática pura do magistério. O professor chegava à aula e apenas lia o que estava nos livros escolares, que ele havia decorado na noite anterior. A diferença do conhecimento do professor para o aluno era de algumas horas. O aluno ficava quieto e apenas copiava o que estava no quadro negro."
Além disso, a USP trouxe para seus quadros professores estrangeiros, especialmente italianos, franceses e alemães, com novas idéias e conceitos sobre ensino, que ajudaram a mudar a educação no Brasil.
Até mesmo a aula inaugural foi ministrada por um francês, o professor Pierre Deffontaines, da cadeira de Geografia Física e Humana. "Os novos professores obrigavam o aluno a pensar, a questionar o conhecimento existente e a participar da aula, uma verdadeira revolução no ensino", diz.
Nesta seção, "Eu Estava Lá", personagens contam a história de São Paulo, todas as terças-feiras.
Se você presenciou ou conhece pessoas que participaram de marcos da história paulistana, clique aqui para enviar sua sugestão.
Especial
São Paulo, 450 anos
USP trouxe uma revolução no ensino
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free-lance para a Folha de S.Paulo
Pouca gente que olhar a histórica foto da primeira turma da Universidade de São Paulo, tirada em 1936, perceberá a ausência de um de seus formandos: Marcello Damy, na época com 22 anos.
Sem dinheiro para comprar o smoking e pagar a festa de formatura, Damy não saiu no retrato.
Folha Imagem Primeira turma de formandos da USP |
O jovem, de uma família humilde de Campinas, e que durante a Revolução de 1932 havia fabricado morteiros para o Exército, teve de comemorar em casa a conquista do diploma, enquanto os colegas posavam para o momento histórico com roupas de gala.
Atualmente com 89 anos e mesmo aposentado desde 1966, Damy continua na USP, mas agora orientando gratuitamente alunos da pós-graduação do Ipen (Instituto de Pesquisas Nucleares).
Jorge Araújo O físico Marcello Damy |
Criada em 1934, por decreto do então governador Armando de Salles Oliveira, a nova instituição, na verdade, consistiu na reunião, em uma única universidade, de faculdades já existentes em São Paulo.
Com isso, cursos como o de direito do Largo São Francisco, a Faculdade de Medicina e a escola Politécnica passaram a integrar, com a recém-criada Filosofia, Ciências e Letras, a Universidade de São Paulo.
"A criação da USP não foi apenas uma medida burocrática, para unir faculdades espalhadas, mas, sim, uma revolução no ensino. Pela primeira vez se discutia no Brasil a necessidade de pesquisa pura", afirma Damy.
Formação
O professor lembra que havia muito debate no meio acadêmico e nos jornais sobre a necessidade da criação de uma universidade para São Paulo. Ele cursava o terceiro ano de engenharia na época e, convidado por um professor, largou os estudos da Politécnica para seguir o curso de física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.
"Foi uma decisão difícil, mas a criação da universidade trouxe um novo conceito do magistério, com professor de dedicação integral, e novos cursos que passaram a se preocupar com a formação desses profissionais", explica.
Segundo Damy, não havia antes, no Brasil, cursos que formassem professores universitários. O professor de engenharia era um engenheiro que dedicava algumas horas para a universidade, o de direito era um advogado que deixava o escritório à tarde para dar aulas.
"Eles eram bons profissionais, mas faltava a didática pura do magistério. O professor chegava à aula e apenas lia o que estava nos livros escolares, que ele havia decorado na noite anterior. A diferença do conhecimento do professor para o aluno era de algumas horas. O aluno ficava quieto e apenas copiava o que estava no quadro negro."
Além disso, a USP trouxe para seus quadros professores estrangeiros, especialmente italianos, franceses e alemães, com novas idéias e conceitos sobre ensino, que ajudaram a mudar a educação no Brasil.
Até mesmo a aula inaugural foi ministrada por um francês, o professor Pierre Deffontaines, da cadeira de Geografia Física e Humana. "Os novos professores obrigavam o aluno a pensar, a questionar o conhecimento existente e a participar da aula, uma verdadeira revolução no ensino", diz.
Nesta seção, "Eu Estava Lá", personagens contam a história de São Paulo, todas as terças-feiras.
Se você presenciou ou conhece pessoas que participaram de marcos da história paulistana, clique aqui para enviar sua sugestão.
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