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21/10/2003 - 00h01

SP 450: Fazer o 1º gol do Morumbi foi um sonho

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KIYOMORI MORI
da Folha de S.Paulo

Mesmo quem não conhece muito futebol deve saber que gol de peixinho é aquele em que o jogador mergulha de cabeça, paralelo ao solo, para acertar a bola na direção da rede. Mas a história do "peixinho" que teria batizado esse tipo de gol é mais longa que uma partida de futebol e hoje faz parte da memória paulistana.

Peixinho, ou Arnaldo Poffo Garcia, 62, foi o primeiro jogador a marcar um gol no estádio do Morumbi, em 2 de outubro de 1960, assistido por 75 mil pessoas, capacidade máxima então. A partida foi entre o Sporting, de Portugal, e o São Paulo Futebol Clube.

Folha Imagem

Peixinho faz o 1º gol do Morumbi

Até hoje Peixinho vive a prorrogação desse momento histórico que marcou sua carreira. Segundo ele afirma, a jogada em que o atleta mergulha para cabecear a bola já era conhecida, mas se tornou popular com o seu nome a partir daquela data.

Morador de Piracicaba (167 km da capital), Peixinho vive hoje às voltas com as crianças de sua escolinha de futebol.

Daniel Guimarães/Folha Imagem

Arnaldo Poffo Garcia, 62, que
"inventou" o peixinho

Paulistano da Lapa, filho de jogador de futebol (o "Peixe" do Ipiranga, que deu origem ao apelido), ele sempre contou com apoio da família para se dedicar ao futebol. No seu currículo de 17 anos de esportista, além de ter viajado para 54 países, Peixinho ostenta uma marca rara na carreira de um jogador: nunca foi expulso nem recebeu cartão.

Sobre a data em que entrou para a história, ele relembra: "O dia havia amanhecido chuvoso. Estávamos ansiosos, primeiro jogo no estádio, e marcar o gol era o privilégio com que todos sonhavam."

"Naquela época --diz ele-- havia muita inocência entre os jogadores, a gente se dedicava ao esporte por amor. No dia do jogo, eu tive que tomar transporte público para chegar ao estádio. O esporte não dava dinheiro. Para poder jogar futebol eu tinha que trabalhar como tapeceiro nas horas vagas, para custear as passagens de ônibus e bonde."

Para o ex-jogador, era preciso muita força de vontade para levar a carreira adiante: "Naquela época, os jogadores do time infantil eram obrigados a amaciar as chuteiras dos profissionais. Era difícil, mas a gente gostava muito de poder participar daquele momento de criação do São Paulo. Até mesmo essa missão, que arrebentava nossos pés, era motivo de orgulho. O resultado estava lá: inaugurar o Morumbi. Isso já era nossa vitória".

"Tudo foi mágico, me lembro como se fosse um sonho", diz Peixinho sobre o momento da partida. "Não havia torcida organizada, apenas uma banda tocava sem parar marchinhas de Carnaval na arquibancada. Um pouco antes da partida, parou de chover. Ainda no primeiro tempo, vi que a bola iria passar na minha frente, em direção a um outro jogador, o Gino. Não tive dúvidas e mergulhei de cabeça. Era gol, o primeiro da história do estádio e o único da partida. Depois do jogo, fomos todos jantar juntos, dirigentes, jogadores dos dois lados, todos muito felizes comemorar o espetáculo."

Após a festa, Peixinho voltou para casa mais uma vez de ônibus. "Acho que muitas pessoas não entendiam minha cara feliz, rindo à toa, porque os jogadores não eram famosos como hoje. Minha família fez muita festa, os vizinhos vieram cumprimentar. E eu fui dormir tranquilo, com aquele gosto de missão cumprida, achando que tudo não passara de um sonho bom."

Nesta seção, "Eu Estava Lá", personagens contam a história de São Paulo, todas as terças-feiras.

Se você presenciou ou conhece pessoas que participaram de marcos da história paulistana, clique aqui para enviar sua sugestão.


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