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04/11/2003 - 00h01

SP, 450: Mercadão já foi quartel de revolucionários

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KIYOMORI MORI
da Folha de S.Paulo

É difícil separar a história do Mercado Municipal da vida do comerciante português Manoel Cardoso Loureiro, 78, dono do Bar do Mané, o mais tradicional ponto para comer sanduíche de mortadela na cidade.

Desde a inauguração do mercado, em 1933, "seu Mané", como Loureiro é mais conhecido, atende os fregueses no bar.

Folha Imagem

Fachada do Mercado Municipal

"Naquele tempo, eu tinha de subir em uma caixa de frutas para poder alcançar o balcão", lembra Loureiro, que na época tinha apenas oito anos.

Projetado pelo escritório do arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo --responsável também pelo Teatro Municipal de São Paulo--, o Mercadão, como é conhecido, tem estilo arquitetônico eclético.

P.B/"Diário de S.Paulo"

Seu Mané exibe seu
tradicional sanduíche
de mortadela

Uma de suas características principais é a sobriedade de suas fachadas e colunas. Outro destaque de sua arquitetura é o aproveitamento da luz natural. Telhas de vidro, clarabóias e vitrais facilitam a iluminação interna.

"Aqui é muito bom de trabalhar. Adoro ficar olhando por horas a fio os vitrais", diz Loureiro, em referência aos desenhos que mostram a produção agrícola e pecuária. Nos 55 vitrais coloridos, projetados pelo artista Conrado Sorgenitch Filho, é possível observar o trabalho manual do colono durante o cultivo e a colheita.

A construção do mercado começou em 1928, por iniciativa do então prefeito José Pires do Rio. Foi considerada obra "faraônica" na época. A cidade de São Paulo contava com pouco mais de um milhão de habitantes. Como já existiam dois outros mercados, o prefeito foi alvo de críticas.

Em 1932, a obra já estava pronta, mas a inauguração foi adiada devido à Revolução Constitucionalista. O edifício acabou sendo utilizado provisoriamente como quartel-general e abrigou combatentes. Os revolucionários paulistas se rendem ainda em 1932. O mercado é inaugurado em 25 de janeiro de 1933.

No início de seu funcionamento, o piso inferior era utilizado para a venda de verduras e legumes por atacado e, no superior, para a venda a varejo. No pós-guerra, o Mercadão teve o seu ápice.

"A economia estava aquecida. A cidade recebia imigrantes. Vinha muita gente de todos os lugares para fazer compras aqui", lembra Loureiro. Mas o período áureo acabou ainda no final da década de 50, quando a região enfrentou enchentes. As águas chegaram a mais de um metro de altura dentro do mercado.

Ainda nessa época, São Paulo assistia à abertura de seus primeiros supermercados.

Em 1969, foi aberto o Ceagesp, um concorrente direto do Mercado Municipal. Com isso, o piso superior foi fechado, pois grande parte do comércio atacadista de verduras se transferiu para o novo mercado.

"Ficou meio abandonado. Mas os fregueses fiéis não deixaram de frequentar. Tenho clientes que acompanho desde que eles eram crianças. Até hoje eles aparecem por aqui para comer meu sanduíche de mortadela", afirma Loureiro.

Alvo do projeto Ação Centro, da prefeitura, o Mercadão agora passa por reformas que devem estar concluídas em maio do próximo ano. Com o objetivo de revitalizar e recuperar o local como atração turística e comercial, será construído um mezanino de 2.000 m2, que abrigará um museu e espaço gastronômico.

Restaurantes italianos, japoneses, árabes e espanhóis e uma padaria prometem atrair novos visitantes para o lugar. Difícil para essas novas atrações será desbancar o famoso sanduíche do Bar do Mané.

Nesta seção, "Eu Estava Lá", personagens contam a história de São Paulo, todas as terças-feiras.

Se você presenciou ou conhece pessoas que participaram de marcos da história paulistana, clique aqui para enviar sua sugestão.


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