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25/08/2000 - 19h11

Leia a íntegra da primeira parte do depoimento de Pimenta Neves

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FABIANE LEITE
da Folha Online

A Folha Online obteve a íntegra da primeira parte do depoimento do jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, 63, que assumiu a autoria do assassinato de sua ex-namorada, a também jornalista Sandra Gomide, 32.

O depoimento ocorreu ontem, em uma sala do hospital Albert Einsten, na região sudoeste de São Paulo, onde Pimenta Neves estava internado até o início desta tarde depois de tentar o suicídio.

A partir de determinado momento de seu interrogatório, o jornalista pediu para que o depoimento deixasse de ser datilografado e fosse gravado em fita cassete, o que foi autorizado pelos policiais que acompanhavam o interrogatório. A fita foi encaminhada ao IC (Instituto de Criminalística do Estado de São Paulo) para ser transcrita.

No relato, Pimenta diz o que fez logo depois do crime e como tentou o suicídio, engolindo 72 comprimidos de calmantes com pão e água.

Pimenta Neves relata o encontro com Sandra, o primeiro presente que lhe deu _ uma blusa de lã _ e resume os passos que deu no dia do crime. Afirma que atirou em Sandra porque se sentiu ultrajado em sua dignidade pessoal e em seus brios profissionais e de homem.

A seguir, o depoimento.


(Pimenta Neves diz ) "... que conheceu a vítima em setembro de 1995; quando retornou dos Estados Unidos em 1995 para assumir a direção da "Gazeta Mercantil". A Sandra já era repórter há uns sete ou oito anos na mesma empresa e depois de algum tempo, em data de 13 de fevereiro de 1996, no aniversário do interrogado, se aproximou da vítima, ou melhor, a vítima se aproximou e a partir deste momento começou um flerte.

No começo do ano de 1996 viajou para o Uruguai a trabalho juntamente com o presidente da "Gazeta Mercantil", senhor Luis Fernando Ferreira Levi, a vítima Sandra Gomide e o amigo dela, ou melhor, um colega de serviço de nome Baraldi. Chegando ao Uruguai, e como estava com muito frio, o interrogado levou a vítima para comprar uma blusa de lã, tendo ela gostado da roupa, ficou agradecida e depois retornaram para o Brasil e foram para o Rio de Janeiro, a vítima, o interrogado e Baraldi e foram para um hotel, onde ficaram os três.

Depois houve um Fórum Nacional organizado na época pelo ex-ministro do planejamento, realizado no Estado do Rio de Janeiro, e foi nesse Fórum que começou o namoro entre a vítima e o interrogado. Tal romance durou aproximadamente quatro anos.

No domingo, no dia dos fatos, o interrogado, com seu veículo Clio da cor preta, no período da manhã foi até o sítio do pai da vítima localizado na cidade de Ibiúna/SP, e quando ali chegou viu o carro da vítima estacionado na garagem, batendo na porta da residência, foi convidado para tomar café, contudo, negou-se, pois não queria encontrar-se com a vítima Sandra, em seguida foi em direção ao Haras Setti e ali permaneceu durante um tempo, mas logo depois foi embora, pois havia vendido um novilho para o dono do haras e como iriam matá-lo, resolveu sair, tendo ido a uma padaria e depois retornou para ver se havia realmente ocorrido o sacrifício do novilho, já que ele teria vendido.

Ali chegando ao Haras Setti, encontrou com a vítima Sandra Florentino Gomide e começou uma discussão, pois queria saber alguns fatos relacionados a feitura do boletim de ocorrência no 36º DP versando sobre a possível invasão de domicílio da vítima, e a atitude tomada durante o tempo em que esteve no apartamento de Sandra, porque não telefonou perguntando sobre a filha do interrogado que havia sido operada por motivo de câncer e também do fato de ... já com a arma de fogo na mão, revólver de calibre nominal 38, capacidade para cinco tiros, o qual possui registro e porte, tentou intimidá-la para que ela entrasse no veículo do interrogado.

Entretanto, a vítima tentou e conseguiu desvencilhar-se do interrogando, e neste momento o interrogando desferiu dois tiros contra a vítima, ela acabou caindo no solo, mas não se recordando onde acertou os disparos, ato contínuo saiu alopradamente do local do crime com seu Clio cor preta e, depois de rodar algum tempo em seu veículo, o abandonou ali próximo.

O interrogado ligou para o jornal onde trabalha, "O Estado de S. Paulo", para uma pessoa que não quer mencionar, ou melhor, ligou para um funcionário de nome Cláudio e noticiou que havia atirado em Sandra e pediu que o viessem buscar, mas não mencionando o nome da pessoa que foi pegá-lo.

Realmente o motorista foi pegá-lo e o deixou num apartamento em São Paulo, em local que não quer mencionar, e depois de dois dias, nesse mesmo apartamento, ingeriu total de 72 comprimidos dos remédios de nome Lexotan e Frontal, com pão e água, o que originou sua internação neste hospital.

Não sabe informar o nome da pessoa que o socorreu, já que estava desacordado. Perguntado sobre sobre as duas cápsulas deflagradas, calibre "38" , que foram encontradas por uma funcionária deste hospital em suas vestes no dia de sua internação, respondeu que seriam as duas munições usadas na arma e que teriam sido deflagradas na data dos fatos, matando Sandra.

A arma utilizada no dia do crime foi entregue ao seu defensor, a qual já foi apreendida por esta Equipe.

Perguntado sobre o motivo do crime, informou que na verdade inúmeros foram os motivos do crime, alguns de ordem subjetiva, expostos no presente interrogatório. No entanto sentiu-se o interrogado ultrajado em sua dignidade pessoal, em seus brios profissionais que antecederam os dias dos fatos que vieram a seu conhecimento e o pouco caso acompanhado da recusa de Sandra em querer conversar com o interrogando a respeito do ocorrido em seu apartamento dias antes, pois o boletim de ocorrência por ela elaborado não retratava a verdade.

Ela narrou uma agressão física inexistente, uma ameaça com armas inexistente sendo certo que fora ao apartamento de Sandra apenas para conversarem e devolverem reciprocamente objetos dados por um ou por outro. Que nesta mesma conversa, no dia dos fatos, indagou de Sandra a razão pela qual ela não perguntara sobre o estado de saúde de sua filha como já disse anteriormente. Resumido no momento do diálogo com Sandra em virtude de suas reações, sentiu-se profundamente ultrajado em sua honras e dignidades pessoais perdendo por completo os limites de controle.

Que o interrogado prestou outros esclarecimentos que foram gravados a partir de um determinado momento, por deliberação das Autoridades Policiais, com concordância do doutor promotor e doutor advogado. A fita será encaminhada para a necessária degravação prelo Instituo de Criminalística, passando a fazer parte integrante do presente interrogatório. Com mais nada disse nem lhe foi perguntado, lido e achado conforme, vai devidamente assinado por todos."

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