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09/11/2003
-
05h40
AMARÍLIS LAGE
da Folha de S.Paulo
A última semana foi apavorante para a dona-de-casa Mercedes Lorenzeto, 65. Ao lado do rádio, ouvia atenta todas as reportagens sobre os ataques a bases comunitárias e a carros da PM. Seu filho caçula é soldado. Ela teme que ele morra em serviço. Lorenzeto já perdeu um filho dessa maneira.
Há quase três anos, seu filho mais velho, Carlos, também soldado, morreu em um confronto com bandidos na favela Paraisópolis, na zona sul. Ele tinha 39 anos e estava sozinho no carro. O policiamento solitário havia sido implementado pelo governo do Estado como forma de ampliar o número de carros da PM nas ruas.
"O policial quando morre é apenas um número a mais nas estatísticas", afirma Mercedes. Segundo ela, apenas um dos acusados do crime foi preso. Ele ainda aguarda o julgamento -que já foi adiado três vezes. "Se o assassino não pegar a pena máxima, vou picotar no tribunal a bandeira que me deram no enterro."
A bandeira é uma das poucas coisas que guarda do filho. Fora ela, Mercedes conserva apenas o uniforme --ainda cuidadosamente passado-- e fotografias, que guarda em uma caixa de papelão. Numa delas, Carlos aparece ao lado da mãe, fardado e sorridente. Era o dia da formatura.
"A gente estava feliz. Não podia imaginar o que aconteceria", diz Mercedes, devolvendo a foto na caixa. Mostra outra, do casamento de Carlos. Depois, ele ao lado dos filhos -três meninos. O casamento, porém, não deu certo, e Carlos voltou para a casa da mãe, no Embu (Grande São Paulo).
Naquela época, Mercedes tinha uma lanchonete na frente da casa. Com a morte do filho, diz, ficou "desgostosa de tudo" e fechou o negócio. Para se sustentar, ela alugou a casa onde morava por R$ 300. Mudou-se para o cômodo onde, antes, vendia as refeições.
Ali vive até hoje, com um neto, um cachorro e um canário, ouvindo as notícias no rádio. "Quando soube dos ataques, revivi tudo aquilo de novo. Tinha medo pelo meu filho. Penso nas mães dos que morreram. É a pior coisa que pode acontecer."
O filho caçula, segundo diz, não tem medo dos ataques. "A família é que teme", diz a mãe, que comemora como sua vitória de ter convencido o filho a voltar a estudar. A meta é que, após formado, ele possa exercer outra profissão.
Protesto
Amanhã, 37 entidades representativas de policiais militares e civis farão, na avenida Paulista (centro), o "enterro" da política estadual de segurança pública. Mulheres de policiais assassinados participarão do protesto.
"PM morto é apenas um número", diz mãe
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da Folha de S.Paulo
A última semana foi apavorante para a dona-de-casa Mercedes Lorenzeto, 65. Ao lado do rádio, ouvia atenta todas as reportagens sobre os ataques a bases comunitárias e a carros da PM. Seu filho caçula é soldado. Ela teme que ele morra em serviço. Lorenzeto já perdeu um filho dessa maneira.
Há quase três anos, seu filho mais velho, Carlos, também soldado, morreu em um confronto com bandidos na favela Paraisópolis, na zona sul. Ele tinha 39 anos e estava sozinho no carro. O policiamento solitário havia sido implementado pelo governo do Estado como forma de ampliar o número de carros da PM nas ruas.
"O policial quando morre é apenas um número a mais nas estatísticas", afirma Mercedes. Segundo ela, apenas um dos acusados do crime foi preso. Ele ainda aguarda o julgamento -que já foi adiado três vezes. "Se o assassino não pegar a pena máxima, vou picotar no tribunal a bandeira que me deram no enterro."
A bandeira é uma das poucas coisas que guarda do filho. Fora ela, Mercedes conserva apenas o uniforme --ainda cuidadosamente passado-- e fotografias, que guarda em uma caixa de papelão. Numa delas, Carlos aparece ao lado da mãe, fardado e sorridente. Era o dia da formatura.
"A gente estava feliz. Não podia imaginar o que aconteceria", diz Mercedes, devolvendo a foto na caixa. Mostra outra, do casamento de Carlos. Depois, ele ao lado dos filhos -três meninos. O casamento, porém, não deu certo, e Carlos voltou para a casa da mãe, no Embu (Grande São Paulo).
Naquela época, Mercedes tinha uma lanchonete na frente da casa. Com a morte do filho, diz, ficou "desgostosa de tudo" e fechou o negócio. Para se sustentar, ela alugou a casa onde morava por R$ 300. Mudou-se para o cômodo onde, antes, vendia as refeições.
Ali vive até hoje, com um neto, um cachorro e um canário, ouvindo as notícias no rádio. "Quando soube dos ataques, revivi tudo aquilo de novo. Tinha medo pelo meu filho. Penso nas mães dos que morreram. É a pior coisa que pode acontecer."
O filho caçula, segundo diz, não tem medo dos ataques. "A família é que teme", diz a mãe, que comemora como sua vitória de ter convencido o filho a voltar a estudar. A meta é que, após formado, ele possa exercer outra profissão.
Protesto
Amanhã, 37 entidades representativas de policiais militares e civis farão, na avenida Paulista (centro), o "enterro" da política estadual de segurança pública. Mulheres de policiais assassinados participarão do protesto.
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