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11/11/2003 - 06h59

SP, 450: Acabar com o Bonde foi uma injustiça

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KIYOMORI MORI
da Folha de S.Paulo

Ao entrar em um bonde para a sessão de fotos, no Museu do Transporte Público de São Paulo, Abelias Rodrigues da Silva, 89, não escondia o sorriso de satisfação. Afinal, foi dentro de um desses exemplares que passou boa parte dos 33 anos de sua vida trabalhando como motorneiro da São Paulo Tramway Light and Power Company, a Light, empresa que fez parte da vida dos paulistanos, também por conta do fornecimento da energia elétrica, até 1981, quando passou a se chamar Eletropaulo.

"É muito bom voltar ao "comando", ainda que seja apenas para uma foto", diz ele sobre o meio de transporte que surgiu oficialmente na cidade em 1872. Na época, os primeiros bondes, da Companhia de Carris de Ferro de São Paulo, circulavam ainda com tração animal (burros) e eram importados dos Estados Unidos.

Até então, o bonde era chamado de diligências por trilhos de ferro. O nome bonde somente foi adotado a partir de uma corruptela da palavra inglesa "bond" (usada para designar certificado de débito), que era uma espécie de ""vale-transporte" válido para pagar a passagem no lugar de dinheiro.

Segundo Abelias, que trabalhou no sistema de bondes de 1935 a 1968, o transporte era eficiente e contava com a simpatia da população. "Até os motoristas dos carros gostavam da gente porque usavam os trilhos para trafegar, evitando as ruas de paralelepípedos que estragavam os pneus e as suspensões dos automóveis."

Por causa disso, explica Abelias, a borracha dos pneus acabava impregnando os trilhos e tornando-os escorregadios nas subidas. "A gente tinha uma espécie de balde, carregado de areia, para jogar no trilho e dar atrito", recorda.

Com os bondes, a população tinha à disposição um meio de transporte barato. Impedida pelo governo de reajustar as tarifas, a Light teve de manter o preço inalterado por mais de 30 anos. Somente em 1947, quando foi criada a CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) para assumir o sistema de bondes e transporte da cidade, que a tarifa foi reajustada.

"Houve uma revolução popular. As pessoas queimavam os bondes nas ruas, e aconteceram confrontos com a polícia", lembra Abelias.

Com o crescimento desordenado de São Paulo, o transporte sobre trilhos se tornou ineficaz para acompanhar a necessidade da população por transporte público. Por isso, os ônibus, mais rápidos e independentes, passaram a disputar passageiros com os bondes. Como consequência, ainda na metade no século passado, gradativamente as linhas de bonde foram sendo desativadas, substituídas por ônibus.

Acusado de atrapalhar o trânsito, o bonde acabou sendo considerado uma peça do passado, conflitante com o desenvolvimento urbano e industrial pelo qual passava a cidade de São Paulo na década de 60.

Mas a decisão de aposentar definitivamente o bonde veio do prefeito Faria Lima, em 1968, quando restava apenas uma linha. Na última viagem, em 27 de março, 12 veículos fizeram o percurso do Instituto Biológico (Vila Mariana) a Santo Amaro. Dentro do carro número 1.543 seguiam o prefeito e o governador, Abreu Sodré, e milhares de pessoas foram às ruas para se despedir.

"Deu um aperto muito grande no peito assistir à cerimônia. Muita gente chorava, principalmente os mais velhos. Foi uma injustiça", diz Abelias.

Nesta seção, "Eu Estava Lá", personagens contam a história de São Paulo, todas as terças-feiras.

Se você presenciou ou conhece pessoas que participaram de marcos da história paulistana, clique aqui para enviar sua sugestão.


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