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16/12/2003 - 04h21

SP 450: Inauguração da catedral atrasou mais de três décadas

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KIYOMORI MORI
da Folha de S.Paulo

Das milhares de missas de que participou, o padre Dario Bevilacqua, 72, não vacila ao apontar aquela que lhe trouxe mais satisfação: a inauguração da Catedral da Sé, em 25 de janeiro de 1954.

Não que outras tivessem menos valor, mas nenhuma delas havia demorado mais de 30 anos para acontecer.

"Foi um grande alívio, não apenas para mim, mas para toda a população de São Paulo, que esperou ansiosa por quase meio século pela inauguração dos trabalhos de construção", explica o eloquente Dario.

A inauguração da Catedral da Sé, cuja obra se havia iniciado em 1913, estava planejada para o centenário da Independência, em 1922, mas a cerimônia acabou sendo adiada por 32 anos.

Falta de mão-de-obra especializada, material de construção e dinheiro foram alguns dos obstáculos enfrentados pelos engenheiros da época.

Para agravar a situação, nesse período São Paulo participou da Revolução Constitucionalista (1932) e ainda enviou praças para lutarem na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Por conta desses conflitos, o metal a ser utilizado nas estruturas da obra foi considerado indispensável na construção de material bélico.

Projetada em estilo gótico pelo arquiteto e professor da Escola Politécnica Maximiliano Hehl, a catedral, rica em detalhes, buscava atender aos anseios das famílias do ciclo do café de São Paulo por uma igreja "à altura" da cidade, então com 400 mil habitantes.

A capacidade planejada para a catedral era ambiciosa: 8.000 pessoas em uma única missa, ou 2% da população de São Paulo daquela época.

Para juntar dinheiro, foi formada uma comissão executiva das famílias ricas de São Paulo. Além disso, criou-se uma "Loteria Pró-Catedral" para angariar fundos para a construção.

Nos anos que antecederam a inauguração, em vez de elogios, a catedral passou a receber críticas e virou alvo de polêmica. O perfil de São Paulo havia mudado: da cidade cuja elite era formada por fazendeiros cafeicultores para uma metrópole industrializada de 2,7 milhões de habitantes.

Com isso, o projeto em estilo gótico foi considerado inadequado, pomposo demais para a cidade. E, por pouco, a cúpula central não saiu do papel.

Mesmo incompleta --as torres frontais só ficariam prontas no final da década de 50--, a catedral foi aberta ao público nas festividades do Quarto Centenário de São Paulo. "Foi a mais esperada das celebrações, superando de longe a inauguração do Ibirapuera", afirma o padre Dario.

A missa de inauguração, celebrada pelo arcebispo de São Paulo, dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, começou às 9h. A Dario, na época ainda apenas um seminarista, coube a missão de segurar a mitra de dom Carlos Carmelo. "Éramos mais de 40 seminaristas, cada um com uma missão. Ninguém ficava disputando o que queria fazer. O importante era participar do conjunto da cerimônia e que nada desse errado", conta ele, que dois anos mais tarde seria ordenado no mesmo local.

Além das famílias mais tradicionais da cidade, Getúlio Vargas, então presidente da República, e Jânio Quadros, o prefeito de São Paulo, assistiram à celebração da missa, em que foi lida uma mensagem de bênção do papa Pio 12.

"Foi emocionante. Tudo acabou como planejado e pudemos voltar ao seminário para almoçar com aquele gosto de missão cumprida", afirma.
 

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