Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
23/12/2003 - 04h51

SP 450: Ex-combatente relembra a luta dos paulistas em 1932

Publicidade

KIYOMORI MORI
da Folha de S.Paulo

O capacete virou lembrança para o neto, o uniforme desintegrou-se com o tempo, as medalhas acabaram perdidas no fundo de alguma gaveta. Mas tudo isso pouco importa para o aposentado José Silveira Peixoto. Aos 94 anos, ele guarda com afinco o que realmente lhe interessa: a boa memória da Revolução Constitucionalista de 1932.

"Lutar contra o governo autoritário de Getúlio Vargas foi a melhor coisa da minha vida", afirma sem titubear o orgulhoso ex-combatente. O movimento de 32 exigia o cumprimento das promessas do governo provisório de Getúlio Vargas, entre elas a de garantir uma nova Constituição.

Insatisfeitos, os paulistas partiram para as manifestações de ruas. No dia do aniversário de São Paulo, em 1932, foi realizado um grande comício pró-constituinte na praça da Sé.

"As pessoas queriam a volta da democracia, havia cartazes espalhados pela cidade convocando todos contra a ditadura. Ou você era por São Paulo ou você era contra. Não se admitia neutralidade", lembra Peixoto. "E ninguém ficou contra", acrescenta.

As manifestações de rua não pararam por aí. No dia 23 de maio, na praça da República, quatro estudantes foram mortos em confronto com a polícia: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Como consequência, em homenagem aos estudantes, o movimento constitucionalista passou a denominar-se MMDC.

Mas foi apenas em 9 de julho que o movimento, liderado por Isidoro Dias Lopes, entre outros, decidiu recorrer às armas e ao alistamento de voluntários. "Todos se prontificaram, ninguém ficou de fora", afirma Peixoto.

Nesse período, foi lançada ainda a campanha "Ouro para o Bem de São Paulo", com o objetivo de angariar donativos e custear os combates. "Não faltava nada para os nossos soldados. Onde quer que fosse o front, as pessoas cediam comida, roupas e abrigo. Todos queriam reconquistar a democracia", diz Peixoto, que era tenente encarregado de levar ordens da capital aos comandantes nas frentes de batalha.

Mas as forças do governo federal logo se mostraram numericamente superiores. Além disso, contavam com melhores armamentos --a produção de armas em São Paulo não atendia à demanda dos voluntários.

Para piorar a situação, o governo utilizou aviões para bombardear cidades no interior --sendo Campinas uma das mais atingidas.

Peixoto se recorda de uma ocasião em que estava no palácio Campos Elíseos (antiga sede do governo estadual) quando um dos aviões do governo federal, chamados de "vermelhinhos", ficou sobrevoando, fazendo manobras e ameaçando jogar bombas.

Os funcionários se refugiaram em um abrigo antiaéreo, mas ele e o governador Pedro de Toledo foram observar a aeronave no jardim. Pedro de Toledo, "homem muito corajoso", disse: "Que mal há em morrer?". E o avião, por coincidência, foi embora.

Além dos bombardeios, o governo federal também cercou o porto de Santos. E Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que em princípio pareciam apoiar os paulistas, não confirmaram a participação na revolução.

Enfraquecidos e isolados, os paulistas se renderam em 3 de outubro. Mas o esforço de São Paulo não foi em vão. No ano seguinte, seria aprovada a Constituição democrática exigida pelos revolucionários paulistas.
"Perdemos a batalha, mas ganhamos a luta", afirma Peixoto.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página