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14/01/2004 - 02h36

Ladrões obrigam ônibus a mudar itinerário em SP

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da Folha de S.Paulo

O motorista do ônibus da linha 3070 (Jardim Limoeiro-Terminal São Mateus), na zona leste de São Paulo, para surpresa dos passageiros, muda o trajeto original e estaciona a dois quilômetros de seu ponto final. O motivo: o número de assaltos seguidos, sempre na última parada, registrados pela empresa que explora o transporte coletivo na região.

A cena de poucos dias atrás, que se repete em outras regiões da cidade, mostra em parte o que integrantes de uma quadrilha de ladrões, apresentada ontem, vinha fazendo na capital. Pelo menos 32 roubos a ônibus nessa área, ocorridos nos últimos 17 dias, são atribuídos ao grupo.

Segundo o delegado Roberto Gonçalves, 39, do 54º DP (Cidade Tiradentes), os ladrões chegavam a conferir a planilha de passageiros que embarcaram no dia para exigir os valores correspondentes em dinheiro e passes. Em cada ação, recolhiam de R$ 200 a R$ 500. Em um dia, chegaram a roubar quatros ônibus em seguida.

Com medo, 13 cobradores e motoristas pediram transferência da linha 3070, que, diariamente, transporta cerca de 3.500 pessoas. "Trabalho em transporte coletivo desde 81 e nunca tinha visto um negócio desse", afirma o chefe de fiscalização da SPBus Transportes Urbanos S/A, Jesiel Pereira, 38, responsável pela linha 3070.

A ousadia do grupo chegou a tal ponto que, após a prisão de três de seus membros em 26 de dezembro passado, passaram a ligar para a viação, avisando que iriam roubar mais coletivos --alegando que precisavam pagar advogados para os detidos-- e ameaçando para que as ocorrências não fossem mais registradas no 54º DP, que fizera as prisões.

No ano passado, de acordo com a SPBus, a mesma quadrilha tentou fechar, por telefone, um "acordo" que previa o pagamento de um salário mínimo por mês (R$ 240), mais cesta básica e um roubo a ônibus por dia.

A história da linha 3070 coincide com a da linha 3703 (Jardim Vitória-Metrô Carrão), no Jardim Conquista, também na região de São Mateus. "O problema aqui, pelo que me disseram [funcionários e moradores], é a falta de segurança. A ação do narcotráfico amedronta a população e a linha sofreu até alterações em função disso", afirmou a prefeita Marta Suplicy (PT), ontem de manhã, em visita ao lugar. Segundo ela, estariam ocorrendo depredações e até cobrança de pedágio. Em um desses ataques, afirmou, um ônibus foi metralhado no último dia 24. Ninguém saiu ferido.

No mesmo dia, o secretário da Segurança Pública do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho, que pode enfrentar Marta Suplicy nas eleições municipais deste ano pelo PSDB, deu entrevista rebatendo as críticas. "Não se pode dizer que não está sendo feito nada", disse, ao comentar sobre a prisão da quadrilha da linha 3070, feita um dia antes pelo 54º DP e mencionando o número de operações realizadas pela Polícia Militar na região (veja texto nesta página).

Segundo números da SPTrans (São Paulo Transporte), empresa municipal que gerencia o transporte coletivo na capital, o número de roubos a ônibus no ano passado --15.240-- bateu recorde, sendo o maior em cinco anos.

Nesse período, o crescimento do número de assaltos foi de 35%, apesar de a frota média em circulação ter sido reduzida em 17,5% --de 10,1 mil para 8,3 mil.

O secretário da Segurança questiona os dados sobre assaltos apresentados pela SPTrans. É a primeira vez que isso ocorre. De acordo com ele, o número de roubos a coletivos registrados pela polícia na capital, incluindo as lotações, passou de 12.388, em 2002, para 12.502, em 2003, um aumento de 0,9%. "Não teve aumento significativo no período", disse.

Os quatro homens detidos anteontem --Edson Ferreira, 27, o Tiririca, Alex Idalino Alves, 25, o Leo, José Evandro dos Santos, 26, o Xiboquinha, e José Ramiro da Silva, 26, conhecido como Ramiro-- disseram em depoimento que falarão apenas em juízo.
 

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