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26/02/2004
-
03h38
RENATA VICTAL
da Folha de S.Paulo
A médica pediatra Evelyn Eisenstein, moradora do Jardim Botânico (zona sul), confirmou, em entrevista à Folha, que os três adolescentes assassinados por policiais militares na favela da Rocinha (zona sul), na madrugada de domingo, eram estudantes e trabalhavam carregando compras na feira livre do bairro.
O comando do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) alega que os garotos (de 17, 15 e 13 anos) eram ligados ao tráfico e que foram baleados em uma troca de tiros. As famílias dos adolescentes negam. Os policiais que participaram da operação foram afastados até que a investigação do caso seja concluída.
Eisenstein disse que conhecia os meninos há três anos e que dava-lhes dinheiro para que fizessem a feira para ela. "Eles eram honestos e muito educados. Sempre que eu esquecia de comprar alguma coisa, dava o dinheiro e eles compravam para mim. Nunca tive problema com o troco", disse a médica, que soube da morte dos jovens pelo irmão de um deles.
"Fiquei chocada. Eram jovens que trabalhavam para ajudar em casa e estudavam. Sempre que tinham alguma prova mais difícil, eles comentavam comigo."
Representante no Brasil da Ispcan (Internacional Society for the Prevention of Child Abuse and Neglect ), a médica afirmou que o episódio teve repercussão no exterior. "A polícia está promovendo o extermínio desses jovens."
A governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), concordou em receber hoje os pais dos três jovens mortos e ainda os do outro adolescente ferido na ação da polícia. Na terça-feira, Rosinha afirmara acreditar na versão da PM.
O presidente da Associação de Moradores da Rocinha, William de Oliveira, espera que a governadora peça desculpas. Se isso não acontecer, disse, a revolta na comunidade vai aumentar. "São 250 mil moradores e a maioria é gente de bem, sem nenhuma relação com o tráfico. Estão todos indignados com a posição do Estado e dispostos a fazer várias manifestações."
Em uma semana, foi o segundo caso no Rio em que a PM foi denunciada pela morte e tortura de moradores de favelas. Há sete dias, cinco moradores do morro da Coroa (Santa Teresa, zona central), em depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, denunciaram PMs por tortura. Um deles foi empalado com um cabo de vassoura e está internado em estado grave no Hospital Miguel Couto.
Outro caso marcante aconteceu em 16 de abril do ano passado, quando quatro jovens foram assassinados durante uma operação da PM no morro do Borel, na Tijuca (zona norte). Inicialmente, o caso foi registrado como morte em confronto. Moradores da favela e parentes dos mortos mobilizaram-se para provar que os jovens haviam sido vítima de chacina. No final do ano passado, a Justiça decretou a prisão preventiva de cinco denunciados (acusados formalmente), entre eles o comandante da operação.
Médica diz que jovens da Rocinha eram estudantes e trabalhadores
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da Folha de S.Paulo
A médica pediatra Evelyn Eisenstein, moradora do Jardim Botânico (zona sul), confirmou, em entrevista à Folha, que os três adolescentes assassinados por policiais militares na favela da Rocinha (zona sul), na madrugada de domingo, eram estudantes e trabalhavam carregando compras na feira livre do bairro.
O comando do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) alega que os garotos (de 17, 15 e 13 anos) eram ligados ao tráfico e que foram baleados em uma troca de tiros. As famílias dos adolescentes negam. Os policiais que participaram da operação foram afastados até que a investigação do caso seja concluída.
Eisenstein disse que conhecia os meninos há três anos e que dava-lhes dinheiro para que fizessem a feira para ela. "Eles eram honestos e muito educados. Sempre que eu esquecia de comprar alguma coisa, dava o dinheiro e eles compravam para mim. Nunca tive problema com o troco", disse a médica, que soube da morte dos jovens pelo irmão de um deles.
"Fiquei chocada. Eram jovens que trabalhavam para ajudar em casa e estudavam. Sempre que tinham alguma prova mais difícil, eles comentavam comigo."
Representante no Brasil da Ispcan (Internacional Society for the Prevention of Child Abuse and Neglect ), a médica afirmou que o episódio teve repercussão no exterior. "A polícia está promovendo o extermínio desses jovens."
A governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB), concordou em receber hoje os pais dos três jovens mortos e ainda os do outro adolescente ferido na ação da polícia. Na terça-feira, Rosinha afirmara acreditar na versão da PM.
O presidente da Associação de Moradores da Rocinha, William de Oliveira, espera que a governadora peça desculpas. Se isso não acontecer, disse, a revolta na comunidade vai aumentar. "São 250 mil moradores e a maioria é gente de bem, sem nenhuma relação com o tráfico. Estão todos indignados com a posição do Estado e dispostos a fazer várias manifestações."
Em uma semana, foi o segundo caso no Rio em que a PM foi denunciada pela morte e tortura de moradores de favelas. Há sete dias, cinco moradores do morro da Coroa (Santa Teresa, zona central), em depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, denunciaram PMs por tortura. Um deles foi empalado com um cabo de vassoura e está internado em estado grave no Hospital Miguel Couto.
Outro caso marcante aconteceu em 16 de abril do ano passado, quando quatro jovens foram assassinados durante uma operação da PM no morro do Borel, na Tijuca (zona norte). Inicialmente, o caso foi registrado como morte em confronto. Moradores da favela e parentes dos mortos mobilizaram-se para provar que os jovens haviam sido vítima de chacina. No final do ano passado, a Justiça decretou a prisão preventiva de cinco denunciados (acusados formalmente), entre eles o comandante da operação.
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