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29/02/2004
-
03h47
da Folha de S.Paulo
O envenenamento que levou à morte de 61 animais no Zoológico de São Paulo é "uma atitude terrorista absurda, que tem de ser exemplarmente punida", até para ajudar a instituição a superar a principal seqüela dos incidentes: o comprometimento da imagem internacional do parque, que, por isso, deve ter permutas com outros zôos do mundo e recebimento de novos bichos afetados.
A opinião é do presidente do Conselho Orientador da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, Miguel Trefaut Rodrigues, 50, que também é professor do Departamento de Zoologia no Instituto de Biociências da USP (Universidade de São Paulo).
Leia a seguir trechos.
Folha - O sr. acha que as mortes vão ter alguma conseqüência para a imagem do zôo perante entidades internacionais de zoológicos?
Miguel Trefaut Rodrigues - Não tenha a menor dúvida. Do mesmo jeito que sensibiliza uma criança saber que o elefante que ela queria ver ou viu há alguns dias morreu porque alguém o matou, isso afeta também os zoológicos internacionais que estão interessados em permutar animais. Para isso voltar a acontecer, vai ser preciso um trabalho feito com muito afinco. As pessoas sabem que é um maluco, mas é a tal coisa: depois que "dinamitaram" as torres gêmeas [do World Trade Center, nos EUA], as pessoas não pegam mais avião do mesmo jeito. É mais ou menos o mesmo com o zôo.
Folha - Leva tempo para reconquistar a confiança?
Rodrigues - Especialmente, vou te dizer, no caso de um orangotango. Imagina onde é que você vai conseguir um orangotango hoje. Um orangotango fêmea [como o que morreu no zoológico] ainda mais. As pessoas têm, mas é disputadíssimo. No momento da entrega, elas se perguntam: vamos dar para São Paulo ou vamos dar para o zoológico de San Diego ou de Paris, onde não aconteceu nada? Há um tempo atrás, havia um projeto de trazer coalas para cá. Coalas são herbívoros. É claro que agora os doadores vão ficar de orelha em pé. E a recuperação da confiança vai necessariamente estar atrelada à pena que o culpado ou culpados vão receber porque os países lá fora vão estar de olho aberto para impunidade.
Folha - Recentemente, por causa de mortes no zoológico de Washington (EUA), foi feita uma espécie de auditoria externa por especialistas. Isso não poderia ocorrer também em São Paulo, até para assegurar a imagem do zôo?
Rodrigues - Essa diretoria do zoológico está absolutamente aberta a contribuições, tem visitado outros zoológicos brasileiros e internacionais, está fazendo o possível para qualificar ao máximo o trabalho que está sendo feito. Está sempre em contato com gente da Universidade de São Paulo, está super bem assessorada e monitorada. O parque está sempre sendo vigiado e criticado e isso tem contribuído muito para a melhoria das coisas que estão sendo feitas.
Folha - Não havia nenhum ponto falho nas rotinas e nos procedimentos do zôo que facilitassem mortes como as que ocorreram?
Rodrigues - Foi coisa de um maluco. O zoológico vem tendo um procedimento padrão com seus bichos desde sua fundação [em 1958]. Sempre teve problemas de pragas, sempre teve controle de pragas. Nunca teve mais mortes do que as aceitas internacionalmente [entre 15% e 20% do acervo por ano] e nunca bichos que estavam bem de saúde começaram a morrer de uma hora para outra. Sempre existem pontos falhos, mas a gente só percebe essas coisas a posteriori. Você diria que havia um ponto falho nas torres do World Trade Center? Você diria que havia um ponto falho na segurança do cinema antes de um cara entrar e metralhar as pessoas lá dentro? Não. Isso acontece por causa de pessoas que fogem totalmente da norma geral, do padrão de conduta da média.
Folha - A posteriori, o sr. poderia apontar algo que teria facilitado as mortes por envenenamento?
Rodrigues - Não poderia.
Folha - Esse tipo de incidente deve levar o zoológico a repensar seus procedimentos?
Rodrigues - Isso vai levar à alteração de algumas das rotinas. Quais exatamente eu não sei porque a investigação ainda não está concluída. Não sei nem se vai prevalecer o duplo controle [no qual um funcionário fiscaliza o que o outro faz] porque não é comum, mas vão fiscalizar mais.
Folha - Houve algum problema recentemente no zoológico?
Rodrigues - Nenhum problema. O zoológico vem andando muito bem depois do começo das atividades dessa nova diretoria [iniciadas em 2001]. Têm sido feitas coisas que nunca foram feitas: um novo sistema de parcerias, de estagiários, a rotina que se implantou nas seções de veterinária.
Folha - Além de abalar a imagem do zôo, que outros efeitos as mortes podem ter?
Rodrigues - O pior é para a população. Acho que a gente vai notar uma diminuição nas visitas. As pessoas que vão ao zoológico comem e podem pensar que, se aconteceu com os bichos, por que não pode acontecer com gente?
Zôo deve perder confiança internacional
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O envenenamento que levou à morte de 61 animais no Zoológico de São Paulo é "uma atitude terrorista absurda, que tem de ser exemplarmente punida", até para ajudar a instituição a superar a principal seqüela dos incidentes: o comprometimento da imagem internacional do parque, que, por isso, deve ter permutas com outros zôos do mundo e recebimento de novos bichos afetados.
A opinião é do presidente do Conselho Orientador da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, Miguel Trefaut Rodrigues, 50, que também é professor do Departamento de Zoologia no Instituto de Biociências da USP (Universidade de São Paulo).
Leia a seguir trechos.
Folha - O sr. acha que as mortes vão ter alguma conseqüência para a imagem do zôo perante entidades internacionais de zoológicos?
Miguel Trefaut Rodrigues - Não tenha a menor dúvida. Do mesmo jeito que sensibiliza uma criança saber que o elefante que ela queria ver ou viu há alguns dias morreu porque alguém o matou, isso afeta também os zoológicos internacionais que estão interessados em permutar animais. Para isso voltar a acontecer, vai ser preciso um trabalho feito com muito afinco. As pessoas sabem que é um maluco, mas é a tal coisa: depois que "dinamitaram" as torres gêmeas [do World Trade Center, nos EUA], as pessoas não pegam mais avião do mesmo jeito. É mais ou menos o mesmo com o zôo.
Folha - Leva tempo para reconquistar a confiança?
Rodrigues - Especialmente, vou te dizer, no caso de um orangotango. Imagina onde é que você vai conseguir um orangotango hoje. Um orangotango fêmea [como o que morreu no zoológico] ainda mais. As pessoas têm, mas é disputadíssimo. No momento da entrega, elas se perguntam: vamos dar para São Paulo ou vamos dar para o zoológico de San Diego ou de Paris, onde não aconteceu nada? Há um tempo atrás, havia um projeto de trazer coalas para cá. Coalas são herbívoros. É claro que agora os doadores vão ficar de orelha em pé. E a recuperação da confiança vai necessariamente estar atrelada à pena que o culpado ou culpados vão receber porque os países lá fora vão estar de olho aberto para impunidade.
Folha - Recentemente, por causa de mortes no zoológico de Washington (EUA), foi feita uma espécie de auditoria externa por especialistas. Isso não poderia ocorrer também em São Paulo, até para assegurar a imagem do zôo?
Rodrigues - Essa diretoria do zoológico está absolutamente aberta a contribuições, tem visitado outros zoológicos brasileiros e internacionais, está fazendo o possível para qualificar ao máximo o trabalho que está sendo feito. Está sempre em contato com gente da Universidade de São Paulo, está super bem assessorada e monitorada. O parque está sempre sendo vigiado e criticado e isso tem contribuído muito para a melhoria das coisas que estão sendo feitas.
Folha - Não havia nenhum ponto falho nas rotinas e nos procedimentos do zôo que facilitassem mortes como as que ocorreram?
Rodrigues - Foi coisa de um maluco. O zoológico vem tendo um procedimento padrão com seus bichos desde sua fundação [em 1958]. Sempre teve problemas de pragas, sempre teve controle de pragas. Nunca teve mais mortes do que as aceitas internacionalmente [entre 15% e 20% do acervo por ano] e nunca bichos que estavam bem de saúde começaram a morrer de uma hora para outra. Sempre existem pontos falhos, mas a gente só percebe essas coisas a posteriori. Você diria que havia um ponto falho nas torres do World Trade Center? Você diria que havia um ponto falho na segurança do cinema antes de um cara entrar e metralhar as pessoas lá dentro? Não. Isso acontece por causa de pessoas que fogem totalmente da norma geral, do padrão de conduta da média.
Folha - A posteriori, o sr. poderia apontar algo que teria facilitado as mortes por envenenamento?
Rodrigues - Não poderia.
Folha - Esse tipo de incidente deve levar o zoológico a repensar seus procedimentos?
Rodrigues - Isso vai levar à alteração de algumas das rotinas. Quais exatamente eu não sei porque a investigação ainda não está concluída. Não sei nem se vai prevalecer o duplo controle [no qual um funcionário fiscaliza o que o outro faz] porque não é comum, mas vão fiscalizar mais.
Folha - Houve algum problema recentemente no zoológico?
Rodrigues - Nenhum problema. O zoológico vem andando muito bem depois do começo das atividades dessa nova diretoria [iniciadas em 2001]. Têm sido feitas coisas que nunca foram feitas: um novo sistema de parcerias, de estagiários, a rotina que se implantou nas seções de veterinária.
Folha - Além de abalar a imagem do zôo, que outros efeitos as mortes podem ter?
Rodrigues - O pior é para a população. Acho que a gente vai notar uma diminuição nas visitas. As pessoas que vão ao zoológico comem e podem pensar que, se aconteceu com os bichos, por que não pode acontecer com gente?
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