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01/03/2004 - 03h49

Criminosos usam até verba de ação social

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da Agência Folha

Hackers que atuam no sul e no sudeste do Pará estão utilizando cartões magnéticos de programas sociais do governo federal para sacar dinheiro desviado de contas bancárias, via internet, de acordo com a polícia.

Os "batatas", como são conhecidos na região, são acusados de "comprar" do beneficiado o "direito de uso" do cartão por R$ 200 a R$ 500. O objetivo é garantir às quadrilhas uma conta para receber depósito de dinheiro transferido por via eletrônica, sem o conhecimento do correntista.

Depois, com o cartão do programa social, é feito o saque do dinheiro transferido ilegalmente, como se a pessoa estivesse recebendo um benefício do governo.

Além de cartões de programas sociais, os criminosos utilizam também contas abertas por "laranjas" e cartões magnéticos comuns, clonados ou comprados.

Segundo a Polícia Federal de Marabá, que investiga o caso, a transferência nunca é feita para a conta do próprio hacker.

Todas as operações que exigem contato pessoal são "terceirizadas". De acordo com a PF, mais de um intermediário é contratado para cada função, da compra do cartão ao saque. O objetivo é melhorar o monitoramento das quadrilhas sobre a polícia.

"Quando a investigação chega a um "laranja", por exemplo, a pessoa que o contratou pode ser morta para que seja quebrado o elo dessa corrente de terceirização", disse o delegado-chefe da delegacia regional da PF em Marabá, Alcídio de Sousa Araújo.

Procurada pela Agência Folha para comentar o uso de cartões sociais por hackers no Pará, a chefe de gabinete Elaine Paes, da coordenadoria do Bolsa-Família, disse que desconhecia a ação.

Novos softwares

Berço dos "batatas", a cidade de Parauapebas, a 165 km de Marabá, é uma das mais visadas pela PF. Foi ali que surgiu, em 1999, um software desenvolvido com o único objetivo de quebrar o sigilo de contas bancárias.

O criador, um técnico em informática conhecido apenas por Fábio, descobriu que muitas senhas eram seqüenciais. Com dados pessoais de clientes, obtidos também na internet, ele acionava o programa, que se encarregava de realizar várias tentativas de combinações até o acerto.

O sistema se tornou obsoleto, mas os hackers de Parauapebas trataram de criar novos softwares. Os atuais, vendidos por até R$ 10 mil, além de vasculhar sites que eventualmente guardem informações cadastrais de pessoas físicas e jurídicas, enviam e-mails com vírus capazes de copiar dados sigilosos dos usuários da rede mundial de computadores.

Para atrair os internautas e induzi-los a abrir as mensagens eletrônicas --o que leva à instalação do vírus nos equipamentos--, a quadrilha utiliza mensagens curiosas. Uma delas é a do "Doutor Pênis", que promete ensinar o internauta como aumentar seu órgão sexual em até 5 cm.

Em Parauapebas, cidade que tem 71,5 mil habitantes, o assunto é tratado com desconfiança pela população. Todos sabem da existência dos "batatas" na cidade, mas ninguém diz quem são eles.

Em novembro de 2003, a PF prendeu 21 hackers, em operações no Pará, no Maranhão, no Piauí e em Goiás. Desse total, 11 foram detidos em Parauapebas. O grupo foi acusado de desviar pelo menos R$ 100 milhões de contas bancárias, por meio da internet.

Os "batatas" usam outro meio para enriquecer ilicitamente: invadem contas bancárias e, em troca de comissões, liquidam faturas com recursos alheios.
 

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