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08/03/2004 - 08h22

Artigo: O modelo Luma

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MOACYR SCLIAR
Colunista da Folha de S.Paulo

Estrela do Carnaval do Rio, a modelo e empresária Luma de Oliveira, 38, simulou estar grávida para justificar sua ausência à frente da bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel. O motivo da farsa, segundo ela, foi o ciúme de seu ex-marido. Cotidiano, 2.mar.2004

Meu nome é um desígnio do destino, costumava dizer Malu. Malu seria apenas um outro jeito de escrever Luma e Malu adorava Luma de Oliveira. Ela não é só uma modelo, confidenciava às amigas, ela é meu modelo. Ela é linda, ela é ousada, ela é inteligente...

Quando soube da história inventada por Luma para faltar ao desfile, Malu ficou perturbada: afinal, é feio mentir. Mas, pensou em seguida, se Luma de Oliveira mentiu, foi por uma boa razão. Portanto, não era uma mentira feia. Era uma mentira linda, linda como Luma de Oliveira. E esta mentira deu a Malu uma idéia.

Como Luma, estava passando por uma situação complicada: tinha sido abandonada pelo marido, Ramão, que até se mudara para outra cidade. Vivendo com uma nova mulher, sequer se dava ao trabalho de responder aos desesperados telefonemas, às lacrimosas missivas. Malu, para ele, era carta fora do baralho. A menos que --A menos que Malu inventasse uma história, claro. Uma história como a de Luma de Oliveira. Grande idéia! Ficou tão entusiasmada que, no mesmo dia, mandou um telegrama: "Estou grávida de você". Tinha certeza de que o ex-marido --no fundo um homem bom, sentimental até-- se comoveria com a possibilidade de tornar-se pai.

De imediato, porém, não aconteceu nada. Claro: afinal, secas palavras, num telegrama, não emocionam ninguém. Malu resolveu então mandar uma foto; uma imagem não vale mais que mil palavras? E assim, posou para a máquina fotográfica da prima: por baixo do vestido, um travesseiro, simulando uma gravidez de uns seis meses, período decorrido desde que Ramão partira.

E aí, de fato, ele se manifestou. Telefonou para saber como ela estava, disse que Malu poderia contar com ele. E até marcaram um encontro. Que, esperava Malu, assinalaria a reconciliação.

Quem estragou tudo foi a prima: atacada de uma súbita crise de consciência, ligou para Ramão contando sobre o truque. E calou a indignada Malu com uma única frase:

--Se a Luma pôde admitir a sua mentira, por que não posso eu fazer o mesmo?

Uma pergunta que Malu tem dirigido todas as noites ao travesseiro, sobre o qual agora repousa a cabeça atormentada e que, sistematicamente, ensopa com suas lágrimas.

Moacyr Scliar escreve um texto de ficção baseado em reportagens publicadas no jornal.
 

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