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16/03/2004 - 23h26

Tráfico impõe fechamento de comércio na zona norte do Rio

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MARIO HUGO MONKEN
da Folha de S.Paulo, no Rio

Traficantes do morro do Cajueiro impuseram um toque de recolher no final da manhã desta terça-feira nos bairros de Madureira e Vaz Lobo, na zona norte do Rio. Em plena luz do dia, cerca de 150 estabelecimentos --entre lojas, escolas e igrejas evangélicas-- que ficam em um trecho de 1 km da avenida Ministro Edgard Romero, foram obrigados a fechar as portas mais cedo.

A avenida é um dos principais centros comerciais do subúrbio carioca. O trecho onde ocorreu o problema fica a apenas 200 metros do 29º Distrito Policial.

O motivo da ordem para o fechamento foi um luto forçado pela morte do traficante Hermes da Mota Silveira Neto, 31, apontado pela polícia como o chefe do tráfico no Cajueiro, que é controlado pela facção criminosa CV (Comando Vermelho).

Segundo a Polícia Civil, Silveira foi assassinado no dia 14 de fevereiro em Jacarepaguá (zona oeste), mas sua morte só foi descoberta na última segunda-feira (15). De acordo com a titular do 29º Distrito Policial, Márcia Julião, o traficante foi enterrado como indigente no dia 3 de março e a mulher reconheceu o corpo por foto na segunda-feira.

Toque de recolher

De acordo com comerciantes e moradores do local, a ordem para fechar os estabelecimentos foi dada por volta das 10h30 e transmitida por um jovem que passava de bicicleta pela Edgard Romero e ruas adjacentes de Madureira e Vaz Lobo.

No início da noite, a Secretaria de Segurança Pública informou que prendeu um menor de 15 anos apontado como o responsável por mandar os comerciantes fecharem as portas.

Segundo testemunhas, após a ordem ter sido transmitida, alguns olheiros do tráfico circularam pelo bairro para conferir se as lojas estavam fechadas. Eles falavam pelo celular com cúmplices sobre o cumprimento da ordem.
Por efeito dominó, os que não foram ameaçados diretamente acabaram encerrando o expediente mais cedo.

Instituições tradicionais, como o Colégio Bahiense e a Escola Estadual Carmela Dutra, funcionaram pela manhã mas tiveram que dispensar os alunos mais cedo. Não houve turno da tarde. Só no Carmela Dutra, cerca de 3.000 alunos ficaram sem aula.

Três escolas municipais --Astolfo Rezende, Luís Carlos da Fonseca e Manacéia de Andrade-- também dispensaram os estudantes. O curso de línguas C.C.A.A e postos do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) foram outros que fecharam as portas, assim como postos de gasolina, restaurantes, padarias e cursos profissionalizantes. Por volta de meio-dia, somente vendedores ambulantes e funcionários da Prefeitura trabalhavam no local, mas eles disseram que não viram nada.

Segurança

O horário em que foi iniciado o toque de recolher surpreendeu muita gente. Muitos estudantes saíram às pressas das escolas com medo de tiroteios. Outros chegavam para a aula e eram avisados por colegas ou por funcionários de que as escolas estavam fechadas.

Com medo de represálias, ninguém quis se identificar.

Apesar do clima tenso no local, a Folha constatou que apenas três carros da PM (Polícia Militar) ficaram parados em pontos da Edgard Romero para garantir a segurança dos comerciantes e escolas. Outros veículos da corporação circulavam pela avenida, mas não diminuíram a sensação de insegurança da população.

Responsável pelo policiamento na região, o comandante do 9º Batalhão da Polícia Militar (Rocha Miranda, zona norte), tenente-coronel Francisco Murilo Lyra, afirmou que a corporação reforçou a segurança nas proximidades do morro do Cajueiro e que os comerciantes fecharam as lojas porque quiseram. Segundo ele, foram colocados dez carros da polícia no local, cada um com cinco PMs o que, na sua visão, era suficiente.

Embora seja um importante pólo comercial da cidade, a Edgard Romero é considerada uma avenida perigosa de se trafegar, principalmente à noite. Isto porque é rodeada por três favelas (Cajueiro, Congonha e Serrinha) e possui iluminação precária.
 

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