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11/04/2004 - 06h20

Dinheiro e álcool abastecem brigões cariocas

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CLEO GUIMARÃES
FABIANA CIMIERI
da Folha de S.Paulo, no Rio

Eles andam em carros do ano e usam roupas de marca. Vestem-se com os últimos lançamentos das "surfwears" do Rio --camisas sem manga, que deixam músculos à mostra, são as preferidas, assim como grossas correntes de prata que envolvem seus pescoços. São os brigões cariocas.

Uma tribo com dinheiro no bolso e, após algumas doses de álcool, muita disposição para brigar, por mais fútil que seja o motivo.

Das sete confusões que foram parar nas delegacias do Rio de Janeiro e nas páginas policiais nos últimos 20 dias, todas envolviam alguém com esse perfil. Eles rejeitam o rótulo de "pit boys" --uma mistura de playboy com pit bull, a raça canina criada para disputar rinhas e que tem atacado muita gente. Quando são detidos pela polícia, alegam ser as vítimas e não os agressores.

"Nunca tinha brigado, sou supertranqüilo. Eu e meu irmão somos advogados e empresários. São 20h e eu ainda estou no escritório vendo um contrato", disse à Folha o advogado Raphael Domenech, 27, na terça-feira. Quatro dias antes, Victor, 24, e Raphael viram o dia amanhecer na 14ª Delegacia de Polícia. Os seguranças e o gerente Demien Redü, da boate Nova, em Ipanema, disseram ter sido agredidos pela dupla.

"Compraram a versão dos seguranças. Fomos agredidos e nos tornamos agressores", disse Raphael. O gerente alegou, em seu depoimento, que os jovens estavam bêbados e incomodavam as mulheres freqüentadoras da casa.

Violência

Desentendimentos, brigas em festas, rixas. Nada disso é novidade. O que preocupa pais, mães, polícia e especialistas em comportamento humano é a banalização de atos violentos praticados por jovens de classe média alta quase sempre por motivos fúteis.

"Briga entre jovens sempre existiu, por causa da própria juventude, dos hormônios", diz Tânia Zagury, formada em filosofia e mestre em educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Mas antes elas aconteciam por motivos mais sérios. Era menos violento, e as pessoas tinham um certo temor da punição."

No caso do estudante de comunicação Paulo Roberto Curi, 20, o volume do som de uma festa num condomínio da Barra da Tijuca foi o motivo de uma briga que envolveu cerca de 30 pessoas e terminou com três esfaqueadas.

Paulinho --como é chamado pelos amigos-- foi preso por tentativa de homicídio e levado para a carceragem da Polinter, na zona portuária, onde ficou preso ao lado de mais 80 homens. As tardes de surfe na praia da Barra e as idas a boates e points de "mauricinhos", como Hard Rock Café e Rock in Rio, ficaram fora de sua rotina.

"Ele tem muita grana, muita grana", diz um amigo de infância que pede para não ser identificado. Pratica esportes radicais, viaja com freqüência para o exterior -"outro dia mesmo foi surfar na Costa Rica"-- e estuda numa faculdade particular. Mais ou menos como os recentes envolvidos em confusões no Rio.

Ex-namorada de Curi, a estudante de engenharia da PUC Ana Carolina se disse surpresa: "Comigo ele sempre foi um amor".

Preocupados com as freqüentes brigas que vêm afugentando os clientes "do bem", bares, boates e casas noturnas do Rio prepararam o contra-ataque.

Na entrada, colocaram parrudos seguranças e recepcionam os clientes com detectores de metal. São pelo menos três em cada uma delas.

Mulheres --escolhidas aleatoriamente-- têm a bolsa revistada. Na Baronetti, as mais novas aquisições da casa são lanternas com luzes azuis que conseguem deixar visível a marca d'água de documentos. Tudo para evitar menores de idade e falsificações, o que nem sempre acontece.

"Eu entrei com uma identidade falsa", contou, às gargalhadas, Alessandra Basilio, de declarados 23 anos. Em seguida, ela, que dividia uma mesa com três amigas na Baronetti tenta se corrigir: "não é falsa, é xerox". E a lanterninha de luz azul não reparou no detalhe.

Em outra mesa, os paulistas Dennis Dalarico, 23, e Milena Breitenvieser, 23, disseram ter achado "estranho" não terem sido revistados. "Em São Paulo, me revistam em qualquer barzinho que eu vá", disse Dalarico.

Dentro das boates, jovens bem vestidos e com disposição de gastar até R$ 70 na entrada e R$ 18 numa taça de prosecco dançam na pista ao som de refrãos como "eu desenvolvo e evoluo com meu pai", de Marcelo D2 --o ídolo atual da classe média alta carioca.

Numa mesa no escurinho, a estudante Carolina Tostes, 20, explica seu gosto por homens fortes, viris, com visual de lutador. "É lógico que o corpo deles é uma "parada" que me atrai", contou. "É o que mais me atrai, aliás", disse ela, que se sente "protegida" ao lado de um fortão.

Amiga de Carolina, a estudante de medicina Flávia (que pediu para não revelar seu sobrenome) diz pensar exatamente o contrário. Sente-se insegura ao lado de um valentão.

"Ontem eu fiquei com um moleque", contou ela, "que ameaçou um cara só porque ele esbarrou em mim", disse. "Nada a ver, todo mundo esbarra.

Fiquei até com medo dele. Eu vejo umas "paradas" dessas e fico até "bolada". Vou sair com um cara desses de novo? Não vou", disse, exibindo vasto vocabulário de gírias cariocas.
 

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