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05/09/2000 - 22h30

Cúpula da polícia de SP promete resposta rápida a nazistas

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CRISPIM ALVES
Coordenador de Cidades da Folha Online

O delegado-geral da Polícia Civil, Marco Antonio Desgualdo, e o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Rui César Melo, afirmaram que toda a polícia da cidade de São Paulo vai estar empenhada em tentar descobrir o autor ou autores da tentativa de atentado a bomba a um representante da Anistia Internacional e das cartas com conteúdo nazista que foram entregues nesta terça-feira a autoridades como o secretário da Segurança Pública, Marco Vinício Petrelluzzi.

Na carta, fala-se em "extermínio" de grupos de homossexuais, negros, judeus, nordestinos e seus "defensores". O texto, com diversos palavrões, é apócrifo. Há uma menção a "raça superior" e "skinheads".

A PM promete colocar mais homens nas ruas para aumentar a prevenção. A Polícia Civil vai designar departamentos inteiros para auxiliar nas investigações.

"Toda a polícia de São Paulo vai estar empenhada para tentar descobrir de onde partiram as ameaças. É realmente muito preocupante, principalmente porque a bomba era verdadeira. No Brasil, esse tipo de coisa não é comum, mas não dá para menosprezar um fato como esse. A PM vai redobrar a atenção para esses casos e vai impedir que façam qualquer coisa. Qualquer ato de intolerância a minorias é inaceitável", afirmou o coronel.

"Isso é uma coisa intolerável que não pode acontecer por aqui. Seja um grupo organizado, seja uma única pessoa, nossa resposta será rápida, imediata. Seja quem for, será preso", declarou Desgualdo.

Na carta, os supostos nazistas ameaçam "exterminar" os principais defensores de "sub-raças... para dar um exemplo de quem dominará o mundo. Escolhemos um de cada grupo para dar uma lição para servir de exemplo". No texto, são citadas cinco entidades nominalmente.

Por volta das 13h desta terça-feira, José Eduardo Bernardes da Silva, um dos coordenadores da Anistia Internacional em São Paulo, recebeu em seu apartamento, em Higienópolis, um pacote com uma bomba que tinha desenhos da suástica (símbolo do nazismo).

O artefato, que era feito com pólvora, foi desarmado por policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais, da Polícia Militar) no jardim do edifício onde mora o coordenador da Anistia Internacional. Ninguém ficou ferido.

No texto, além das ofensas a homossexuais, negros, judeus e nordestinos, os supostos nazistas desafiam a polícia a prendê-los. "Não esqueça que temos proteção de gente muito poderosa. Não adianta querer proteger... o cara da anistia. Desta vez eles vão dançar. O que o Gradi vai fazer? Nos prender? Estamos com muito medo. Seus babacas", diz outro trecho.

Segundo a carta, o suposto "extermínio" acontecerá na próxima quinta-feira, 7 de setembro (Dia da Independência). "Ficamos um tempo sem aparecer, pois estávamos nos organizando para, a partir do dia 7 de setembro, aproveitar a data para libertar o Brasil desses excrementos."

Além de Petrelluzzi, receberam a mesma carta, mas com cabeçalhos diferentes, os presidentes da Comissões de Direitos Humanos da Câmara e da Assembléia Legislativa de São Paulo, o vereador Ítalo Cardoso e o deputado estadual Renato Simões, ambos do PT. Pelo menos outras duas pessoas, jornalistas, receberam a mesma mensagem.

Após as ameaças e a tentativa de atentado a bomba, Petrelluzzi, que não leu a carta que recebeu por estar na Baixada Santista, marcou uma reunião de urgência nesta quarta-feira, a partir das 11h, com Desgualdo, integrantes do Gradi (Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância) e outros órgãos da polícia de São Paulo.

O Gradi é um grupo de inteligência da secretaria que investiga crimes de intolerância, como o racismo. Ele foi criado este ano, após o assassinato do adestrador de cães Edson Neris da Silva, em 6 de fevereiro. Silva foi morto a socos e pontapés na praça da República, centro de São Paulo, por um grupo de skinheads conhecidos como "Carecas do ABC".

O secretário ainda não se manifestou a respeito do assunto. Desgualdo afirmou que designou o Depatri (Departamento de Crimes Contra o Patrimônio) e o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) para auxiliarem nas investigações. "Inicialmente, vamos entrar em contato com todas as pessoas que receberam as cartas. Estamos em início de investigação."

O comandante-geral da PM afirmou que vai aumentar o número de policiais nas ruas. "Todo dia 7 de setembro nós monitoramos esses grupos. Com essas ameaças, ficaremos muito mais atentos. Vamos aumentar a presença ostensiva da PM nos pontos onde considerarmos que podem ocorrer problemas.

Pessoalmente, tanto Desgulado como Melo não acreditam que as ameaças sejam concretizadas. "Já tivemos casos isolados parecidos no passado e as ameaças não passaram de ameaças", afirmou o delegado-geral.

"Não acredito, pessoalmente, que eles vão levar essas ameaças a cabo, mas elas não podem ser menosprezadas de forma alguma", disse o coronel Melo. Para eles, as ameaças partiram de grupos "de intolerantes, também minoritários, que não representam nada para a sociedade."

E-mail: crispimalves@uol.com.br

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