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10/05/2004 - 08h04

Ex-militares tentam evitar adesão ao tráfico

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MARIO HUGO MONKEN
da Folha de S.Paulo, no Rio

Cabos e soldados que foram colocados em disponibilidade pelo Exército formaram uma associação cujo objetivo principal é evitar que ex-militares sejam cooptados por traficantes de drogas.

Anualmente, cerca de 2.000 militares lotados em batalhões especializados, como os de Infantaria e de Pára-Quedistas, são desligados do Exército. Muitos não encontram emprego e são recrutados pelo tráfico, que oferece pagamentos atraentes --um soldado pára-quedista ganha, em média, R$ 700. No tráfico, a remuneração para quem entende de armamentos vai de R$ 2.500 a R$ 8.000.

Criada há dois anos, a Associação dos Ex-Cabos e Soldados do Exército tem cerca de 2.000 afiliados. Um dos seus projetos é a criação de uma cooperativa de segurança. O presidente, Luiz André Ferreira da Silva, disse que vem mantendo contato com empresas de vigilância para conseguir descontos de 50% para os associados receberem o registro de vigilante.

Ex-pára-quedista, Silva, 30, não conseguiu emprego fixo desde que foi desligado do Exército, em 2001. Ele faz bicos como segurança e entregador de gás para sustentar a mulher e três filhos.

Os representantes da associação contam histórias sobre ex-colegas que acabaram no tráfico, onde fazem a manutenção dos arsenais, atuam como seguranças dos chefes de quadrilha e participam de confrontos com rivais ou a polícia. Há também os que se tornaram fornecedores do tráfico.

Um ex-soldado e um ex-sargento estão entre os suspeitos do assalto ao Depósito de Aeronáutica do Rio, na segunda-feira passada.

O promotor Aílton José da Silva, do Ministério Público Militar, diz que em 100% dos casos de roubos a quartéis há o envolvimento de militares ou ex-militares.

Um dos casos relatados na associação é o do ex-sargento pára-quedista conhecido como Jorge Luiz Negão. Casado, três filhos, ele entrou para o Exército em 91 e foi desligado em 95. Logo em seguida, foi recrutado por traficantes do morro da Formiga (Tijuca, zona norte), onde morava. Lá, se tornou um dos chefes do tráfico.

Jorge Luiz, no entanto, se desentendeu com traficantes do morro e acabou sendo expulso. Foi morar na favela da Chacrinha, em Jacarepaguá (zona oeste). Em dezembro de 99, acabou morto por traficantes da Vila Kennedy (zona oeste). A mulher, Andréa, vive até hoje na Chacrinha e disse que o marido "não era nenhum santo".

Outra história é a do soldado Ivã (nome fictício). Ele ingressou no Exército em 1999 e, em 2000, se tornou pára-quedista. Foi dispensado por falta de vagas na turma e, com experiência no uso de armamento, não ficou muito tempo sem emprego. Em 2001, com 20 anos, passou a trabalhar para o traficante Róbson André da Silva, o Robinho Pinga. Ele era um dos seguranças das bocas-de-fumo de Pinga na favela da Coréia (Senador Camará, zona oeste).

No início de 2003, uma operação da polícia na Coréia resultou na morte de 14 pessoas, entre elas um policial militar e um civil. Por ter sido o autor dos tiros que mataram o PM, Ivã foi promovido a segurança particular de Pinga e hoje é um dos braços direitos dele, segundo os membros da Associação de Ex-Cabos e Soldados.

Outra história é a do cabo João, morador da favela do Muquiço, em Deodoro (zona oeste). Com nove anos de Exército, ele foi desligado da 9ª Brigada de Infantaria em 2002. Logo depois, foi recrutado pelos traficantes e hoje é um dos principais armeiros da facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos). Faz a manutenção dos arsenais de várias favelas onde o tráfico é controlado pelo grupo.

A polícia tem investigado o envolvimento de ex-militares com o tráfico. Em dezembro, foi preso na favela de Acari (zona norte) o ex-soldado pára-quedista Marcelo Santos das Dores, 22. Ele estava com o traficante Nei Conceição da Cruz, o Facão, de quem era segurança. Um dos ex-militares mais procurados é Cláudio da Conceição, o Claudinho, que controla o tráfico no morro da Casa Branca, na Tijuca (zona norte).

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