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13/05/2004
-
03h10
SÍLVIA CORRÊA
da Folha de S.Paulo
Era a prova que faltava. E vai continuar faltando. O resultado das análises feitas pelo Instituto de Criminalística de São Paulo não constatam nem descartam a presença de monofluoracetato de sódio em restos de comida e de iscas de desratização retirados das jaulas de alguns animais mortos no Zoológico de São Paulo.
Conhecido pesticida, o monofluoracetato de sódio teve o uso como raticida proibido no país em 1997. Foi com ele, no entanto, que 73 bichos do zôo foram envenenados e mortos entre 24 de janeiro e 15 de março deste ano.
Na prática, o resultado das análises do IC significa que a principal prova técnica do caso não afasta com 100% de certeza a hipótese de a contaminação dos animais ter se dado --intencionalmente ou não-- pelas iscas usadas para matar ratos. Também não comprova que o envenenamento ocorreu pela alimentação diária dos bichos, como acredita a polícia e sugerem outros indícios coletados pela investigação.
Isso não chega a fazer a apuração voltar à estaca zero, pois há outras formas de tentar evidenciar os caminhos do ataque, mas compromete bastante a veemência possível na acusação.
A polícia pode mostrar, por exemplo, a inviabilidade teórica de o animal comer tanta isca supostamente envenenada ou de ser atingido pelo veneno trazido pela chuva, já que ele é hidrossolúvel.
Nenhuma dessas teses, no entanto, será tão categórica e cientificamente incontestável como seria um flagrante de veneno em iscas ou alimentos das jaulas ou uma análise que descartasse definitivamente uma das hipóteses.
O delegado Clóvis Ferreira de Araújo, chefe da inteligência da Polícia Civil na capital e presidente do inquérito que apura as mortes, admite que o resultado deixa uma brecha na investigação.
O raciocínio do policial é o seguinte: sem evidências cabais de que não houve acidente e de que não há envolvimento da empresa de desratização nas mortes, a acusação a suspeitos pode ser derrubada na Justiça com mais facilidade, sobretudo se ela tiver base em indícios --sem flagrante ou confissão, por exemplo--, o que é mais provável até agora.
É esse um dos motivos pelos quais, entre amanhã e segunda, Araújo pedirá à Justiça mais 30 dias para apurar o caso --prazo que, se lhe for concedido, o levará a quatro meses de investigação.
No pedido de prazo o delegado, incluirá a solicitação de quebra de sigilo telefônico e bancário de pelo menos dez pessoas. Para convencer o juiz da necessidade da medida, apresentará um relato do emaranhado de relações mantidas entre alguns funcionários e ex-funcionários do zoológico.
Mostrar que essas pessoas agem em bando e que enriqueceram nos últimos anos é o caminho que resta à polícia no caso. Por essa tese, os assassinatos em série se explicariam como uma reação à atual direção do zôo, que teria implantado controles que passaram a dificultar os desvios e fraudes com os quais lucrava o grupo.
Além de analisar a vida de seus suspeitos, o delegado pretendia também usar o eventual prazo adicional para pedir que o material analisado pelo IC passasse por uma segunda checagem na Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Isso, porém, não será possível: as amostras de comida estragaram, e as de iscas foram misturadas. O IC diz que o procedimento é padrão. A falta de chance de refazer os testes, no entanto, desagradou os investigadores.
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da Folha de S.Paulo
Era a prova que faltava. E vai continuar faltando. O resultado das análises feitas pelo Instituto de Criminalística de São Paulo não constatam nem descartam a presença de monofluoracetato de sódio em restos de comida e de iscas de desratização retirados das jaulas de alguns animais mortos no Zoológico de São Paulo.
Conhecido pesticida, o monofluoracetato de sódio teve o uso como raticida proibido no país em 1997. Foi com ele, no entanto, que 73 bichos do zôo foram envenenados e mortos entre 24 de janeiro e 15 de março deste ano.
Na prática, o resultado das análises do IC significa que a principal prova técnica do caso não afasta com 100% de certeza a hipótese de a contaminação dos animais ter se dado --intencionalmente ou não-- pelas iscas usadas para matar ratos. Também não comprova que o envenenamento ocorreu pela alimentação diária dos bichos, como acredita a polícia e sugerem outros indícios coletados pela investigação.
Isso não chega a fazer a apuração voltar à estaca zero, pois há outras formas de tentar evidenciar os caminhos do ataque, mas compromete bastante a veemência possível na acusação.
A polícia pode mostrar, por exemplo, a inviabilidade teórica de o animal comer tanta isca supostamente envenenada ou de ser atingido pelo veneno trazido pela chuva, já que ele é hidrossolúvel.
Nenhuma dessas teses, no entanto, será tão categórica e cientificamente incontestável como seria um flagrante de veneno em iscas ou alimentos das jaulas ou uma análise que descartasse definitivamente uma das hipóteses.
O delegado Clóvis Ferreira de Araújo, chefe da inteligência da Polícia Civil na capital e presidente do inquérito que apura as mortes, admite que o resultado deixa uma brecha na investigação.
O raciocínio do policial é o seguinte: sem evidências cabais de que não houve acidente e de que não há envolvimento da empresa de desratização nas mortes, a acusação a suspeitos pode ser derrubada na Justiça com mais facilidade, sobretudo se ela tiver base em indícios --sem flagrante ou confissão, por exemplo--, o que é mais provável até agora.
É esse um dos motivos pelos quais, entre amanhã e segunda, Araújo pedirá à Justiça mais 30 dias para apurar o caso --prazo que, se lhe for concedido, o levará a quatro meses de investigação.
No pedido de prazo o delegado, incluirá a solicitação de quebra de sigilo telefônico e bancário de pelo menos dez pessoas. Para convencer o juiz da necessidade da medida, apresentará um relato do emaranhado de relações mantidas entre alguns funcionários e ex-funcionários do zoológico.
Mostrar que essas pessoas agem em bando e que enriqueceram nos últimos anos é o caminho que resta à polícia no caso. Por essa tese, os assassinatos em série se explicariam como uma reação à atual direção do zôo, que teria implantado controles que passaram a dificultar os desvios e fraudes com os quais lucrava o grupo.
Além de analisar a vida de seus suspeitos, o delegado pretendia também usar o eventual prazo adicional para pedir que o material analisado pelo IC passasse por uma segunda checagem na Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Isso, porém, não será possível: as amostras de comida estragaram, e as de iscas foram misturadas. O IC diz que o procedimento é padrão. A falta de chance de refazer os testes, no entanto, desagradou os investigadores.
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