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23/06/2004
-
03h45
AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo
O governo do Estado de Santa Catarina retirou ontem do ar dois dos três anúncios sobre prevenção à Aids que vinham sendo veiculados pelas TVs abertas da região. As ONGs do Estado consideraram que a campanha tirava as esperanças dos portadores de HIV/Aids e que, ao amedrontar as pessoas, em nada contribuía para a prevenção da epidemia.
Uma representação para a retirada dos filmes foi encaminhada ao Ministério Público, que anteontem se reuniu com representantes do governo e ONGs. Segundo nota da Secretaria de Estado da Saúde, o próprio secretário Luiz Eduardo Cherem diz que "a questão está sendo revista, uma vez que a filosofia (...) é buscar parcerias para conter o avanço da Aids no Estado".
Um dos filmes retirados mostra um pai junto aos porta-retratos dos filhos e da mulher, deixando a cada um parte do espólio. Para a mulher, ele diz que, além da casa e do apartamento na praia, deixa também o vírus da Aids. O outro filme retirado mostra uma menina contando seus sonhos profissionais ao longo dos anos, até que, aos 19 anos, morre de Aids.
Na representação ao Ministério Público, a Faça (Fundação Açoriana para o Controle da Aids) diz que "muitos pacientes" estariam deixando de tomar a medicação depois de ver a campanha.
O terceiro filme, que continua no ar, mostra um jovem que se prepara para a "balada" e que vai ouvindo, pela secretária eletrônica, os convites de três garotas. Quando fecha a porta e sai de casa, a quarta das "namoradas" liga para contar-lhe que descobriu ser portadora do vírus da Aids.
ONGs se reúnem hoje para decidir sobre a continuidade ou não deste filme. "Pode-se dizer que ele não fere os direitos humanos, mas, ao criticar promiscuidade e múltiplos parceiros, torna-se uma peça moralista que não contribui para a prevenção", diz Sandro Sardá, da Faça. "O importante seria chamar a atenção para o sexo seguro, com preservativo."
Na quinta-feira, representantes do governo e das várias partes envolvidas se reúnem para decidir o destino desta e de outras campanhas. Iraci Batista da Silva, do programa estadual de Aids, disse que a intenção é que as próximas campanhas sejam compartilhadas com as ONGs. Na reunião de amanhã, o governo ficou de informar os gastos da campanha, até agora desconhecidos.
Desde 1994, a Coordenação Nacional de DST-Aids substituiu a política de campanhas que assustam e relacionam a doença com a morte por outras que incentivam a solidariedade e a prevenção.
Apesar de o número de casos notificados estar caindo em todo o país, é nos Estados do Sul que essa queda é menor. É lá também que as infecções por uso de droga injetável têm maior peso e, conseqüentemente, os casos vêm crescendo mais rapidamente entre as mulheres casadas.
A preocupação das campanhas, segundo a Secretaria da Saúde, era justamente a de inverter essa tendência. Alertado pelas ONGs, o governo prometeu rever a filosofia de prevenção.
Em Santa Catarina, estão cinco das dez cidades brasileiras com maior incidência. Por exemplo, Itajaí, a campeã delas, tem 93,5 casos por 100 mil habitantes, quando a média nacional é de 12,8. A preocupação das ONGs é que campanhas que apenas assustam acabem afastando as pessoas em risco dos serviços de saúde, especialmente a população de usuários de drogas injetáveis.
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O governo do Estado de Santa Catarina retirou ontem do ar dois dos três anúncios sobre prevenção à Aids que vinham sendo veiculados pelas TVs abertas da região. As ONGs do Estado consideraram que a campanha tirava as esperanças dos portadores de HIV/Aids e que, ao amedrontar as pessoas, em nada contribuía para a prevenção da epidemia.
Uma representação para a retirada dos filmes foi encaminhada ao Ministério Público, que anteontem se reuniu com representantes do governo e ONGs. Segundo nota da Secretaria de Estado da Saúde, o próprio secretário Luiz Eduardo Cherem diz que "a questão está sendo revista, uma vez que a filosofia (...) é buscar parcerias para conter o avanço da Aids no Estado".
Um dos filmes retirados mostra um pai junto aos porta-retratos dos filhos e da mulher, deixando a cada um parte do espólio. Para a mulher, ele diz que, além da casa e do apartamento na praia, deixa também o vírus da Aids. O outro filme retirado mostra uma menina contando seus sonhos profissionais ao longo dos anos, até que, aos 19 anos, morre de Aids.
Na representação ao Ministério Público, a Faça (Fundação Açoriana para o Controle da Aids) diz que "muitos pacientes" estariam deixando de tomar a medicação depois de ver a campanha.
O terceiro filme, que continua no ar, mostra um jovem que se prepara para a "balada" e que vai ouvindo, pela secretária eletrônica, os convites de três garotas. Quando fecha a porta e sai de casa, a quarta das "namoradas" liga para contar-lhe que descobriu ser portadora do vírus da Aids.
ONGs se reúnem hoje para decidir sobre a continuidade ou não deste filme. "Pode-se dizer que ele não fere os direitos humanos, mas, ao criticar promiscuidade e múltiplos parceiros, torna-se uma peça moralista que não contribui para a prevenção", diz Sandro Sardá, da Faça. "O importante seria chamar a atenção para o sexo seguro, com preservativo."
Na quinta-feira, representantes do governo e das várias partes envolvidas se reúnem para decidir o destino desta e de outras campanhas. Iraci Batista da Silva, do programa estadual de Aids, disse que a intenção é que as próximas campanhas sejam compartilhadas com as ONGs. Na reunião de amanhã, o governo ficou de informar os gastos da campanha, até agora desconhecidos.
Desde 1994, a Coordenação Nacional de DST-Aids substituiu a política de campanhas que assustam e relacionam a doença com a morte por outras que incentivam a solidariedade e a prevenção.
Apesar de o número de casos notificados estar caindo em todo o país, é nos Estados do Sul que essa queda é menor. É lá também que as infecções por uso de droga injetável têm maior peso e, conseqüentemente, os casos vêm crescendo mais rapidamente entre as mulheres casadas.
A preocupação das campanhas, segundo a Secretaria da Saúde, era justamente a de inverter essa tendência. Alertado pelas ONGs, o governo prometeu rever a filosofia de prevenção.
Em Santa Catarina, estão cinco das dez cidades brasileiras com maior incidência. Por exemplo, Itajaí, a campeã delas, tem 93,5 casos por 100 mil habitantes, quando a média nacional é de 12,8. A preocupação das ONGs é que campanhas que apenas assustam acabem afastando as pessoas em risco dos serviços de saúde, especialmente a população de usuários de drogas injetáveis.
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