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03/08/2004 - 22h00

Presos matam colegas a pauladas no Rio

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MARIO HUGO MONKEN
da Folha de S.Paulo, no Rio

Oito detentos do presídio Ary Franco, em Água Santa (zona norte do Rio), foram mortos na manhã desta terça-feira a estocadas e pauladas em um suposto "acerto de contas" entre presos da unidade.

A chacina foi comandada por 38 presos da cela 20 da galeria A, que são vinculados à facção criminosa TC (Terceiro Comando). Os mortos seriam da mesma facção.

O grupo fez dois agentes penitenciários reféns por volta das 7h30, quando era feito a conferência dos presos. Em seguida, tomou as chaves dos guardas, invadiu outras celas da mesma galeria e matou os oito detentos.

Ao perceberam a ação, agentes do Grupamento de Intervenções Táticas da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária entraram no presídio. A PM (Polícia Militar) cercou a parte externa.

Após a matança, os presos voltaram para as suas celas e liberaram os reféns às 9h30.

Apesar de ter havido reféns, a Secretaria de Administração Penitenciária informou que não houve rebelião e sim um confronto entre presos.

Mortes

Segundo o presidente do sindicato dos agentes penitenciários, Paulo Ferreira, a direção da unidade sabia que poderia haver uma matança dentro do presídio e não tomou providências.

Ele disse que, no último dia 13, o grupo que liderou a matança teria procurado o diretor do presídio, major Alexandre Azevedo de Jesus, para se queixar de que estaria sendo ameaçado pelos oito presos que foram mortos ontem. Dois dias antes da denúncia, os mesmos presos haviam sido transferidos do presídio Hélio Gomes (centro), onde ocorrera uma rebelião.

O diretor do presídio afirmou que desconhecia qualquer ameaça de uma chacina dentro da cadeia e disse não saber o motivo da matança.

O subsecretário de Administração Penitenciária, Aldney Peixoto, afirmou que vai apurar a denúncia feita pelo sindicato. Segundo ele, se for provado que houve falhas na segurança e omissão, o diretor da unidade poderá ser punido.

Para o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, a divergência entre presos é normal. "Como acontece no mundo livre, também no interior da cárcere, há divergências."

O governo do Rio pretende desativar o Ary Franco até o final do ano. Com capacidade para 958 detentos, o presídio conta hoje com 1.212 presos, sendo 80 condenados pela Justiça Federal.

Agentes

Os agentes reféns foram identificados como Renato Luiz Rodrigues Pinto da Rocha e Tarciso Pinheiro Campos. Segundo o diretor do presídio, ambos foram levados pelos presos para uma cela isolada da galeria A e não viram a matança. Nenhum deles ficou ferido.

O diretor do Ary Franco afirmou que será aberta uma sindicância para apurar se houve facilitação de agentes na entrada de estoques de metal dentro das celas. Oito estoques (armas artesanais) foram apreendidos com os detentos, que chegaram a atear fogo em colchões.

Ferreira afirmou que os presos chegaram a quebrar um banco na galeria e usou as madeiras para golpear os rivais. De acordo com ele, os envolvidos tinham sido transferidos do presídio Hélio Gomes (complexo da Frei Caneca, centro) após uma rebelião ocorrida no mês passado.

Para o sindicalista, a falta de agentes penitenciários foi uma das razões que levou a matança. Ele disse que o presídio tem, por dia, apenas oito agentes trabalhando, quando o ideal seriam 20. "Estruturalmente, o presídio Ary Franco é o mais seguro do Rio. No entanto, faltam agentes", disse.

Peixoto disse que um concurso público para agente é emergencial. "Inferiorizados numericamente não estamos conseguindo dar conta do recado", afirmou.

Integrante da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio, o deputado estadual Alessandro Molon (PT) esteve no presídio e afirmou que haviam apenas cinco agentes no plantão --os outros três faltaram. Para ele, o pequeno número de guardas é absurdo. "É lógico que com essa quantidade de agentes, iria dar problema", disse

Molon afirmou ter ouvido de presos que participaram da ação que eles escolheram quem deveria morrer. Os mesmos detentos declararam ao deputado que alertaram o diretor da unidade sobre o risco de uma chacina.

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