Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
22/08/2004 - 02h55

Cão de luxo tem grife e faz cirurgia plástica

Publicidade

FABIO SCHIVARTCHE
da Folha de S.Paulo

Brutus e Tutsi andavam cabisbaixos. Nem comer queriam mais. Depois de muita observação, a empresária Anita Alt acreditou ter descoberto o que incomodava seus "filhos": uma orelha torta e cílios muito longos e curvilíneos. A vaidade os levou à cirurgia plástica. Hoje, com o rabinho abanando e a pálpebra preenchida por silicone, são o orgulho da "mamãe" Anita.

Cães premiados da raça schnauzer, Brutus e Tutsi ganharam tratamento de primeiro mundo. Para cirurgias estéticas pouco invasivas, nada de bisturi. Receberam injeções de metacrilato e restlyne, a última moda em plásticas humanas. Coisa fina. E cara --cerca de R$ 400. "Ficou divino. Parecia um milagre", derrete-se Anita.

Com os dois schnauzers, o veterinário Edgard Brito já contabiliza 30 cirurgias plásticas em cachorros somente neste ano, a parte mais visível de um mercado que não pára de crescer: o de produtos e serviços de alto luxo para cães.

Todo mês surgem novidades para os totós: plásticas com botox, boulangeries que fazem pães e panetones, fotógrafos especializados em "books" caninos, escolas de natação, psicólogos, hotéis de luxo com banho de ofurô, clínicas de terapias alternativas e, claro, lançamentos das grifes que fazem a cabeça de seus donos.

Tomas Kovarick, 34, que trabalha no mercado financeiro, é um exemplo de "pai" dedicado a Kika, sua golden retriever de pêlo bege claro. Meses atrás, entrou na exclusivíssima joalheria Tiffany e comprou uma coleira de prata --que sai por uma bagatela de R$ 1.220. Kika merece.

Comprada em 1999, quando Kovarick morava no Colorado (EUA), ela só atende a comandos dados em inglês. Já viajou de avião e de lancha. Em Aspen, famosa estação de esqui, hospedou-se num hotelzinho de animais cinco estrelas. Freqüentou também Hampton, um dos balneários mais chiques da costa leste americana. É, enfim, um cachorro diferenciado.

As correntes de prata da Tiffany têm bastante procura. Segundo vendedores da loja do shopping Iguatemi, em São Paulo, quem pede o produto quase sempre diz que tirou a idéia do filme "Legalmente Loira", no qual a atriz presenteia seu cão com um exemplar. A grife oferece ainda outros mimos, como chaveiros de prata em formato de osso para juntar à coleira e identificar o cãozinho. O preço? R$ 366, um pouco mais do que um salário mínimo (R$ 260).

Solteira e sem filhos, a administradora de empresas Lúcia Naufal, 45, dedica boa parte de seu dia a cuidar de Isabela, uma dachshund (o conhecido bassê) preta de três anos e nove meses. Nenê, como é chamada, viaja constantemente para uma fazenda. Para sua segurança, vai dentro de uma bolsa da grife francesa Louis Vuitton --o sac chien, R$ 4.600.

Cachorra de fino trato, usa o perfume "Oh my dog". Francês, é claro. "De resto, não tem frescura nenhuma", diz Lúcia.

O terapeuta corporal André Kfouri, 43, que freqüenta academia, quis oferecer a mesma "saúde de ferro" a Bono, seu american stafforshire terrier (espécie de pitbull) de músculos saltados e dentes afiados. Leva o animal ao Cãotryclub duas vezes por semana para aulas de natação --R$ 25 por hora. Depois de uma hora na água, Bono ainda tem energia para correr na esteira.

Mas nem todo totó que aparece por lá é atleta. "Tem madame que não anda com seu cachorro e traz para cá reclamando que o bichinho está obeso, pedindo ajuda para queimar umas calorias", conta o adestrador Márcio Freire.

Com tanta procura, o mercado brasileiro de produtos e serviços de animais domésticos está em plena expansão. Em 2003, donos de cães e gatos movimentaram R$ 14 bilhões, segundo estatísticas dos fabricantes de ração. E a fatia de luxo desse mercado comemora o crescimento.

"Lançamos uma linha de muffins salgados e tortinhas com geléia de damasco, kiwi e goiaba para cachorros", diz Ângelo Carotta, dono da Panetteria di Canni.

No Natal passado, vendeu 10 mil panetones caninos. Neste ano, vai produzir o dobro. O mimo, de 100 gramas, custa R$ 10. "Mas o preço não afasta o cliente AA, que por amor paga qualquer valor."

Em São Paulo, onde estima-se que haja 1,5 milhão de cães, eles nunca foram tão bem tratados. Até a butique Daslu, reduto dos endinheirados, rendeu-se ao mundo animal. Na Daslulu, criada há dois anos, há camas acolchoadas (R$ 198), coleiras de couro, bandanas e brinquedos.

Para os cãezinhos doentes, há tratamentos com terapias alternativas. Na clínica da veterinária Daionety Pereira, há sessões de acupuntura e cromoterapia. Uma consulta sai por R$ 60.

"Quem tem um cão bonito não tem vergonha de mostrá-lo em público. Isso melhora até o humor dos donos e sua relação afetiva com o animal", diz o veterinário Edgard Brito, que atende clientes famosos, como os apresentadores Fausto Silva, Eliana e Jô Soares. "Beleza", sentencia, "é fundamental até para um cachorro." E, ao que parece, para os donos também.

Especial
  • Veja o que já foi publicado sobre cães
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página