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31/08/2004 - 23h57

Moradores de rua criticam modelo de gestão dos albergues

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THIAGO GUIMARÃES
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Críticas ao modelo tradicional de gestão dos albergues públicos e filantrópicos foram feitas nesta terça-feira por moradores de rua e estudiosos do assunto, reunidos no 3º Festival Lixo e Cidadania, que vai até sexta-feira em Belo Horizonte (MG).

Durante a conferência de abertura, Inês Pereira de Lima, 47, representante do Movimento de Luta do Povo de Rua, questionou as formas de atendimento à população-alvo dos albergues.

Chegou a atribuir a essas instituições parte da responsabilidade pelo massacre dos moradores de rua em São Paulo, que deixou seis mortos e nove feridos.

"A maioria da população que está nas ruas é porque bebe, tem problemas com drogas, e como por isso não pode entrar no albergue, não tem outro lugar a não ser a rua", disse Lima. Ela já morou nas ruas da capital paulista e atualmente vive em uma república no centro da cidade.

Os albergues, na maioria dos casos, proíbem a entrada e permanência de pessoas alcoolizadas, segundo Maria Regina Emanoel, 54, integrante do Fórum Nacional de Estudos sobre População de Rua. As regras também incluem a expulsão sumária de usuários que se envolvem em brigas.

"Se o morador de rua está alcoolizado, você tem que ter um serviço que possa atendê-lo naquela condição", disse Emanoel, que também é coordenadora da ONG paulista Auxílio Fraterno, que atua com os sem-teto.

Por não concordar com as regras de funcionamento do local, o morador de rua Sérgio José de Paula Santos, 44, do Rio de Janeiro, disse ter deixado, há 15 dias, o abrigo do programa Reconstruindo a Cidadania, do governo fluminense. "O abrigo é bom, porque te protege, mas te escraviza e você fica dependente", disse Santos, que voltou a dormir nas ruas do centro do Rio.

Ele afirmou estar nas ruas desde 1999, após a falência da Rede Manchete de Televisão, onde trabalhava como segurança. Alcoólatra, não se adaptou às normas do albergue estatal. "O abrigo tem que ter compreensão, não é só ditar um comportamento."

Santos disse que ganha entre R$ 300 e R$ 400 por mês como vendedor da revista Ocas (Organização Civil de Ação Social), que é comercializada por pessoas sem moradia e em situação precária.

Albergues

Para a antropóloga Maria Antonieta Vieira, 52, do Fórum Nacional de Estudos sobre População de Rua, os albergues podem "institucionalizar uma população que vive de assistência".

"A política para população de rua não pode ser entendida só como abrigamento, que, em última análise, acaba sendo confinamento."

Ela propõe modelos alternativos aos albergues, como assistência direta nas ruas, criação de grupos menores de moradores nesses locais, divididos por especificidades, e pagamento de subsídio para moradia provisória em, por exemplo, hotéis.

A professora da USP Maria Cecília Loschiavo dos Santos, 50, disse que os sem-teto são alvo de um fenômeno social chamado síndrome de Nimby (iniciais em inglês para not in my backyard, em português, não no meu quintal). "Ou seja, não são desejados no quintal de ninguém." Para ela, a solução para os problemas dessas pessoas passa pelo fortalecimento de suas organizações. "O morador de rua é um ser ainda muito vulnerável."

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