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19/09/2004 - 06h30

Corredor de ônibus registra 6 atropelamentos em 11 dias em SP

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da Folha de S. Paulo

Rodas travadas, um ônibus derrapa na av. Ibirapuera (zona sul). Em segundos, borracha e sangue mancham a cor do asfalto. "Eu vi tudo. Foi horrível. O motorista não freou a tempo para evitar que a velhinha fosse atropelada", relata Regiane Silva, 36, que há quatro anos vende cachorro-quente numa das esquinas do corredor.

O acidente se mistura com os seis atropelamentos que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) de São Paulo teve conhecimento nesse eixo viário em 11 dias --de 25 de agosto a 4 de setembro. Nos 365 dias de 2003, foram 16 casos do mesmo tipo.

Cinco das seis novas vítimas atendidas pelos fiscais de trânsito tinham sido atingidas por ônibus. A outra, por uma motocicleta que também ocupava a faixa exclusiva dos coletivos à esquerda, batizada de Passa Rápido e que já se tornou uma das vitrines de campanha da prefeita Marta Suplicy (PT).

O Passa Rápido Capelinha/Ibirapuera/Santa Cruz teve seu primeiro dia útil em 16 de agosto. Como os demais corredores à esquerda entregues pela prefeitura às vésperas das eleições, ele tem a aprovação da maioria dos especialistas por aumentar a fluidez do transporte coletivo --mas é alvo de preocupações e críticas por conta desses atropelamentos.

O maior perigo se deve a um fenômeno que se repete com as motocicletas. Quando os carros estão parados nos congestionamentos, os pedestres mais afoitos tentam atravessar a via na frente deles, muitas vezes na própria faixa de passagem, antes da abertura do semáforo. Por distração, não se dão conta dos coletivos, que andam em maior velocidade na faixa exclusiva que está livre.

"Ontem [quinta-feira] uma mulher gordinha foi atropelada naquela esquina. A cabeça dela bateu no ônibus. O vidro até estourou", relata João Soares, 41, pasteleiro que trabalha numa barraca na frente do shopping Ibirapuera.

As situações de risco se estendem aos demais Passa Rápido, embora eles não tenham ainda estatísticas analisadas pela CET.

Na segunda-feira passada, primeiro dia útil do corredor da avenida Rebouças, duas idosas foram atropeladas. Uma freira foi atingida por um carro por não querer usar um elevador e uma passarela improvisados --que causam medo nos usuários-- pela prefeitura.

Na semana anterior uma idosa foi atropelada por um ônibus no corredor Pirituba/Lapa/São João.

Nem todos os casos acabam notificados oficialmente, mas um levantamento de registros policiais em outros dois eixos viários são mais uma pista do possível agravamento desse tipo de acidente.

Na avenida Guarapiranga e na estrada do M'Boi Mirim, por exemplo, cujo Passa Rápido teve seu primeiro dia útil em 9 de agosto, foram feitos no mês passado dois e oito boletins de ocorrência de atropelamento, respectivamente, contra zero e dois no mesmo mês de 2003. Os números constam do Infocrim (banco de dados sobre ocorrências criminais), mas a Secretaria da Segurança Pública não os comenta.

O taxista Genival Gomes, 39, conta que viu um atropelamento na estrada do M'Boi Mirim há duas semanas. "Na correria para atravessar a rua, muitas vezes os pedestres nem percebem os ônibus que estão vindo rapidinho."

A preocupação com os atropelamentos em corredores de ônibus também já existiu no Transmilênio, de Bogotá, na Colômbia, projeto que se tornou referência mundial no começo desta década.

O engenheiro brasileiro Paulo Custódio, que participou da implantação do Transmilênio, conta que foram feitas campanhas educativas naquele país para combater esse problema. Uma delas consistia em fazer uma marca no asfalto nos lugares de cada atropelamento, para deixar visível aos motoristas e causar impacto.

Custódio aponta duas sugestões para minimizar os riscos na capital paulista: um treinamento com os motoristas de ônibus, para que eles fiquem mais atentos nos cruzamentos; e uma sinalização específica na faixa exclusiva dos ônibus (como uma pintura diferente), de forma que os pedestres notem que se trata de um espaço diferenciado, e não da mesma faixa onde os carros ficam parados.

"É um fenômeno temporário, que requer uma mudança de hábitos. Os pedestres demoram para se adaptar. Nesse período de ajustes, é preciso sinalizar", diz Jaime Waisman, professor da USP, também defensor de uma pintura diferenciada do corredor.

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