A Fundação
Cartier, em Paris, está exibindo uma exposição
de Beatriz Milhazes, uma das artistas plásticas brasileiras
mais badaladas no mundo. E mais um brasileiro, dessa vez um
anônimo, foi convidado a se apresentar, no próximo
mês, naquele espaço: o ex-pichador Djan Ivson.
Só vai viajar, porém, se acertar suas contas
com a Justiça -o que parece difícil.
A forma de expressão que condenou Djan é justamente
o que atraiu os curadores da Fundação Cartier,
que programa uma exposição sobre o grafite no
mundo. Ocorre que ele, enquanto não se acertar com
a Justiça, não terá autorização
para deixar o país. “Estou correndo contra o
tempo.”
Pichador desde os 12 anos, Djan se envolveu em uma série
de problemas com a Justiça, condenado a serviços
comunitários. Era considerado ousado por suas escaladas
pelo lado externo dos prédios.
Afirma que, desde a condenação, pressionado
pela família e amigos, estaria respeitando a lei e
dedicando-se ao grafite
Mas manteve o interesse por essa forma de expressão
transgressora. Produziu vídeos sobre a ação
dos pichadores em São Paulo e vendia o material em
lojas do centro. Estava gravando no dia em que resolveram
pichar os espaços brancos na Bienal, quando ocorreram
prisões.
Ninguém documentou, como ele, com tantos detalhes,
os bastidores dessa tribo urbana, visível apenas nos
muros -além dos vídeos, ele coleciona papéis
com as letras realizadas pelos pichadores, alguns deles mortos.
“A pichação é um grito existencial.”
Todo esse registro chamou a atenção dos irmãos
Roberto T. Oliveira e João Wainer (fotógrafo
da Folha), interessados em fazer um documentário sobre
a pichação. Djan se tornou o fio que conduz
o documentário.
Ao fazer o levantamento para a exposição, os
curadores da Fundação Cartier viram o documentário
e se interessaram pelo estilo das letras que povoam uma metrópole
como São Paulo.
Daí veio o convite para Djan reproduzir ali sua grafia.
“Descobri que não podia ir quando fui tentar
tirar o passaporte.”
Já tinha cumprido pena de 72 horas de serviços
comunitários -mas alega que não sabia que faltavam
mais 90 horas. “Não vejo problemas em cumprir
a pena.” Não quiseram converter essas horas em
pagamento de cestas básicas.
Se ele não conseguir embarcar, não ficará
inteiramente invisível. O documentário será
mostrado pela primeira vez em Paris -a Fundação
Cartier ajudou a pagar a finalização-, e as
assinaturas dos pichadores colecionadas por Djan serão
expostas num painel.
Veja
as fotos
Coluna originalmente publicada na
Folha de S. Paulo, editoria Cotidiano.
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