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rio de janeiro
26/10/2004

Gincana incentiva moradores de favela voltar a estudar

Rocinha está voltando a estudar. Nada menos do que 450 moradores aceitaram, nos últimos dez dias, o desafio de encarar novamente o quadro-negro. Eles foram convencidos por vizinhos que já viveram a mesma situação - largaram e voltaram à escola. E agora disputam a gincana Rocinha Quer Saber. A brincadeira é séria. Faz parte do processo - iniciado durante os confrontos deste ano na favela - que motivou a sociedade civil a realizar ações capazes de provocar mudanças positivas na comunidade.

A gincana contou com dez turmas e teve cerca de 250 participantes. Como prêmios, celulares da empresa Vivo, que apoiou a gincana, material escolar e um passeio pela Baía de Guanabara.

Os dez dias da primeira fase da gincana, iniciada em 14 de outubro e organizada pela ONG Viva Rio, foram de dura competição. Para preencher as 450 vagas nos programas de ensino locais, houve estratégias curiosas.

O vencedor da disputa individual, José Luiz de Moura, de 21 anos, colocou mesa e cadeira na feira mais movimentada da favela. Conseguiu sozinho 81 matrículas.

A gincana foi o incentivo encontrado pelo Viva Rio para levar moradores da comunidade a retomarem os estudos. Eles vão estudar em programas feitos em parceria com instituições como a Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco e Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro).

Melhor que um ano
Nesta primeira fase, as melhores equipes foram as turmas da Núcleo de Apoio à Creche Dois Irmãos, com 164 matrículas, seguida pelo pessoal da Igreja Metodista, com 116.

Na segunda etapa da gincana, que começa nesta segunda-feira, 25, e vai até 20 de novembro, os concorrentes terão que levar os candidatos a efetivar suas matrículas. Só então será feita a soma dos alunos por idade e contabilizada a pontuação individual dos participantes. Segundo os organizadores da gincana, quanto mais velho for o novo estudante, mais pontos para os concorrentes.

A escolha de alunos que já participam desses projetos para disputar a gincana não foi casual: “Eles são as melhores pessoas para convencer a comunidade a voltar a estudar, já que contam com a própria experiência”, diz Carlos Costa, coordenador da Segurança Pública e Direitos Humanos do Viva Rio, presidente da Associação de Moradores do Laboriaux e um dos organizadores da gincana.

E para matricular e vencer a competição, os participantes - individualmente e em turmas - fizeram de tudo para convencer amigos e parentes da importância dos estudos.

O vencedor, José Luiz de Moura, representando a turma de Ensino Médio da Igreja Metodista, traçou uma bem bolada estratégia. Fez cartazes com a pergunta “Quer terminar seus estudos de alfabetização, 1º grau e 2º grau em apenas 12 meses?”, com seu nome e telefone escritos abaixo. E saiu colando pelas paredes da favela. “Escrevi 12 meses porque quando vê escrito um ano o pessoal fica assustado”, explica.

Deu certo. “Depois dos cartazes, meu telefone começou a tocar e uma penca de gente foi se inscrevendo”, conta. Sua última cartada foi na feira deste domingo, 24. “Coloquei uma mesa, uma cadeira e um cartaz bem grande na feira e fui fazendo as inscrições”, conta.

José Luís também se valeu dos conhecimentos feitos na Rocinha em seu último trabalho. “Como fazia ligações de internet, conheci muita gente. Isso ajudou”, acredita. Tudo isso em apenas quatro dias. “Não soube da gincana antes, mas quando tomei conhecimento comecei a correr atrás”, afirma.

Parte do estímulo de José Luís veio do pastor da sua igreja, que o desafiou. "Ele apostava que ia vencer. Isso me deu mais força”, garante o estudante. O pastor ficou na lanterninha, mas fez sua boa ação - estimular o rival.

Disputa acirrada
O segundo colocado, Jorge Luis Linhares Madeira, 30 anos, representando o Núcleo de Atendimento à Criança Dois Irmãos, montou barraca na entrada da Via Ápia e armado de microfone, anunciava a iniciativa. Mas não ficou nisso. Foi também às igrejas evangélicas e divulgou a gincana, falando da necessidade de completar estudos interrompidos.

Até a sexta feira, 22, ele já contava com 45 alunos inscritos. No final, alcançou 71 inscrições. Mas foi suplantado no fim de semana. “No início, não acreditei muito na gincana. Mas depois que vi as coisas acontecendo, me entusiasmei e até estava confiante na vitória”, conta.

O plano de ação teve como base seus conhecimentos na área. “Trabalho com comunicação e usei isso para conseguir matrículas”, conta. Evangélico, ele está cursando o Ensino Médio e pretende fazer faculdade de Marketing.

Nesta primeira fase da gincana, a meta foi preencher o maior número possível das vagas, distribuídas entre Ensino Fundamental (150), do projeto Acelera Jovem (parceria entre o governo do Estado, o Viva Rio e a Fundação Roberto Marinho); Ensino Médio (100), do programa Rocinha Quer Saber (parceria entre o Instituto Unibanco, a Fundação Roberto Marinho e o Viva Rio); e curso de Alfabetização (200), oferecido pela Firjan.

Até a Associação de Moradores da Rocinha entrou na brincadeira. “Como os diretores estão o tempo todo na rua resolvendo problemas, orientei a eles que explicassem às pessoas a importância de terminar os estudos”, explica William de Oliveira, presidente de uma das três associações de moradores da Rocinha. Com a diretoria em campo, a associação ficou com o 4º lugar.

William ficou entusiasmado com a participação. Ele acredita que “se todos os projetos fizessem algo no gênero para incentivar o morador a participar, os programas seriam cada vez mais conhecidos na comunidade”. A associação entrou na disputa representando a turma da igreja N.S. da Boa Viagem.


VILMA HOMERO
do site Viva Favela

 
 
 

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