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recife
27/10/2004

Artesãos aprendem a fabricar brinquedos populares

Mané-gostoso (ou dengoso), jogo das cinco pedrinhas (ou saquinhos de arroz), borboleta taco-taco, bonecos de pano e bolas de meia. Nomes e detalhes podem variar em cada região do país, mas a finalidade dos objetos citados acima é sempre a mesma: entreter e estimular o desenvolvimento de crianças. Em tempos de jogos eletrônicos e card games, no entanto, é provável que muitos jovens nunca tenham aproveitado ou nem mesmo conheçam tais brinquedos.

Quem perde com isso, além das próprias crianças, são seus fabricantes. Não as grandes indústrias do setor, mas os humildes artesãos que fazem da confecção de brinquedos simples o seu meio de vida. Preocupados com a crescente desvalorização desses tradicionais produtos no mercado e com as dificuldades que seus criadores atravessam, o Museu do Homem do Nordeste/Fundação Joaquim Nabuco e o Programa Artesanato Solidário/Comunidade Solidária executam, em Recife (PE), o projeto Brinquedos Populares do Recife.

Iniciado em dezembro de 2003 e previsto para terminar em dezembro deste ano, o projeto busca multiplicar os conhecimentos dos mestres artesãos, por meio de oficinas nas quais aprendizes passam a dominar as técnicas de produção, e disseminar uma cultura de valorização dos brinquedos populares. “Os artesãos enfrentam dificuldades como a falta de espaço no mercado local, o desconhecimento por parte de muitas crianças e a competição dos brinquedos descartáveis made in China”, analisa Silvia Brasileiro, coordenadora dos programas educativos e culturais do museu. “Por isso, o projeto também pretende melhorar a qualidade dos produtos e divulgá-los”, completa.

A constatação dos problemas vividos pelos artesãos e a elaboração de possíveis soluções foram facilitadas pelo fato de o Museu do Homem do Nordeste desenvolver, há mais de 15 anos, ações com este público. A Feira Atividade: Brinquedos e Brincadeiras Populares, cuja proposta é despertar em crianças e jovens o interesse por tais temas, é um exemplo. A essa experiência foi aliada a metodologia do Programa Artesanato Solidário, que atua na revitalização do artesanato de tradição para criar oportunidades de trabalho e renda para os beneficiados e suas famílias. Espera-se atingir cerca de 480 pessoas direta e indiretamente.

O projeto integra oito mestres artesãos e 120 aprendizes que antes não possuíam ocupação fixa. Todos são moradores da comunidade de Vila Esperança, localizada próxima ao museu. Eles recebem consultoria sobre melhorias no produto, uso da matéria-prima (madeira, lata, papelão, tecido, sucata etc), design e comercialização e aprendem sobre direitos do cidadão. Além disso, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco – Sebrae-PE realizará oficinas sobre associativismo e empreendedorismo com os participantes, visando a estimular a formação de uma associação entre os artesãos. “Embora incentivemos essa atitude, a decisão precisa ser amadurecida e debatida pelo grupo. Não forçaremos nada”, ressalta Silvia.

Brinquedo não é só coisa de criança
O mestre José Antônio da Silva, 44 anos de idade, fabrica brinquedos desde os 12. Aprendeu com seu irmão mais velho, também chamado José Antônio da Silva, que, por sua vez, foi ensinado por uma cigana. Hoje, os dois integram o projeto e trabalham juntos. Segundo José Antônio, o mais novo, as dicas do “pessoal do museu”, como chama os coordenadores do projeto, são de grande utilidade. “Pude aumentar a qualidade do que faço. Troquei materiais e modifiquei algumas peças”, explica Silva, cuja renda, diz, também melhorou após o início do programa, embora não saiba precisar o quanto. “As vendas cresceram bastante e, graças aos eventos realizados, somos muito mais procurados.”

Silva se refere às atividades nas quais os organizadores, muitas vezes em parceria com a prefeitura de Recife, inserem a participação dos artesãos, que divulgam e comercializam seus produtos. Eles já participaram de exposições, festivais e feiras nacionais e internacionais, inclusive da 5a Feira Nacional de Negócios do Artesanato – Fenneart, que reúne expositores de todo o Brasil e de outros países, como Marrocos, Argentina, Rússia, Espanha, Quênia e Índia. Os fabricantes também atendem a encomendas, como o pedido de 500 mini-regadores feito pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco – Chesf durante a Semana do Meio Ambiente.

Tantas possibilidades fazem com que a aprendiz Dalva Maria de Fraga, de 48 anos, tenha expectativas para o futuro. “Com a venda dos brinquedos, espero ganhar mais do que com as costuras que fazia. Vejo a quantia tirada pelos mais experientes e percebo ser possível”, calcula Dalva, que é a favor da formação de uma cooperativa. Ela lamenta o fato de muitas crianças, hoje em dia, preferirem brinquedos eletrônicos.

O projeto concluiu que há demanda pelos produtos em três mercados distintos: crianças e jovens que buscam diversão; colecionadores, museus e centros culturais e arquitetos e decoradores que utilizarão os brinquedos como elementos de decoração. Os coordenadores acreditam que o Brinquedos Populares do Recife ajuda na preservação da identidade cultural do homem nordestino. “Muitos itens, como carrosséis e rodas-gigantes feitos em flandres (finas chapas de lata), são típicos da região ou do estado”, diz Silvia Brasileiro. “Procuramos manter esta tradição viva nas crianças e permitir a continuidade dos artesãos.”

Mesmo após o término do projeto, o museu pretende continuar atuando junto ao público beneficiado. Atualmente, estuda-se a possibilidade, juntamente com a prefeitura, de as escolas de Recife, públicas e particulares, adquirirem um kit de brinquedos populares para suas atividades pedagógicas.

A confecção de brinquedos é apenas uma das alternativas da produção artesanal. Segundo o Sebrae, o artesanato é a terceira cadeia produtiva mais importante de Pernambuco, atrás apenas do agronegócio e do turismo, e a quinta mais difundida no Brasil, presente em 18 estados. Embora, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC, não haja informações precisas sobre quantas pessoas são empregadas ou quanto dinheiro é movimentado, o setor é motivo de programas de incentivo do próprio MDIC (Programa do Artesanato Brasileiro) e do Sebrae (Programa Sebrae de Artesanato).


iVAN KASAHARA
da Fundação Banco do Brasil

 
 
 

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