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16/11/2004
Droga comprada pela “elite” ajuda a financiar crimes na periferia

Usuários de drogas dos mais diversos tipos podem estar financiando alguns dos crimes mais bárbaros ocorridos nas periferias. A ligação entre o baseado que o adolescente de classe alta fuma na faculdade ou o papelote de cocaína que circula nas boates chiques e os índices de criminalidade nos bairros pode parecer tênue. Mas que estuda o assunto, garante que não é. Ao comprar a droga, o usuário, seja viciado ou não, está fomentando um negócio ilegal, movido a crueldade e que consome dezenas de vidas a cada mês na capital.

Esse ponto-de-vista é compartilhado por vários especialistas no assunto, independentemente da posição que tenham sobre a descriminalização do consumo de drogas. "As pessoas têm o direito de fazer o que quiserem com o seu corpo. Mas dentro da realidade que vivemos, comprar drogas é um ato não-cidadão, já que acaba financiando o tráfico", afirma o sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Grupo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná.

Para o delegado Alfredo Dib Júnior, da Divisão de Narcóticos, o usuário deve ser forçado a perceber a conseqüência dos seus atos. Não só as conseqüências ligadas à violência que o tráfico gera. "Utilizar drogas é crime, que prevê reclusão de seis meses a três anos, e isso deve continuar assim. Uma forma de combatê-lo é mostrar para quem usa que precisa ter consciência dos seus atos, que ele pode estar prejudicando diretamente sua família, que seu filho pode nascer deformado se ele abusar", afirma o policial.

Bodê explica que há duas formas básicas adotadas mundialmente para combater o tráfico. A primeira é a repressão aos traficantes. A técnica é a mais utilizada nos Estados Unidos, cujo modelo é copiado pelo Brasil. A outra é tentar diminuir a procura pela droga, com programas que eduquem a população sobre o risco do uso de entorpecentes. Esse modelo é utilizado principalmente nos países europeus.

"Ou você trata o problema com algo 'policialesco' ou como uma questão de saúde pública. No Brasil os investimentos em educação são muito baixos, incipientes", ressalta o sociólogo. Essa opção, segundo ele, não é culpa apenas dos governantes. "O Estado só está refletindo o que a sociedade em geral pensa sobre o assunto."

Bodê é pessimista sobre a possibilidade de uma mudança na maneira como o país luta contra as drogas. Segundo ele, não há chance de ocorrer uma mudança drástica sem que a população mude seus conceitos sobre segurança pública.

Pelo lado prático, Dib Júnior lembra que é importante que seja feita uma diferenciação entre os tipos de usuário, para que seja estipulado um "grau de culpabilidade" para cada um deles. Ele diz que eles estão divididos em quatro grupos. Primeiro estão os experimentadores e os usuários ocasionais ou recreativos, depois os freqüentes e finalmente os viciados.

Na visão do delegado, são os usuários freqüentes que dão realmente lucro para os traficantes e é neles que está a possível solução para o problema. "Ao contrário do que se imagina, o viciado ocupa uma pequena fatia do mercado. Ele é o cara que não interessa para o traficante, que traz problema, chama a atenção da polícia e acaba estragando todo o negócio. Além disso, antes de ser um criminoso ele é um doente", diz.


ANDRÉ GONÇALVES
da Gazeta do Povo, de Curitiba - PR

   
 
 
 

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