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administração
03/11/2004
São Paulo ainda precisa fazer o óbvio

À primeira vista, a cidade de São Paulo é um desastre anunciado. Faltam 380 mil moradias, 4 milhões de pessoas vivem em áreas onde não há um único leito hospitalar e a velocidade média dos ônibus regrediu ao patamar do século 19 -é similar à das diligências que conquistaram o oeste dos Estados Unidos, de 12 a 15 quilômetros por hora. Como a capacidade de investimento da prefeitura é cada vez menor, por causa da dívida, os números podem provocar uma sensação de impotência: como não há nada a fazer, que venha o desastre.

Dez especialistas ouvidos pela Folha mostram que essa avaliação é equivocada: ainda há uma série de medidas simples, óbvias (por serem praticamente consensuais entre os especialistas) e baratas que podem mexer com o tecido urbano.

Obviedades ainda não foram feitas por uma razão mais ou menos simples: há um déficit de políticas públicas em virtualmente todas as áreas de atuação do poder público. Os entraves, na maioria dos casos, são políticos ou administrativos -a prefeitura usa ferramentas gerenciais do século 19.

Quer ver? Os cerca de 10 mil ônibus que transitam pela cidade não contam com um sistema de controle e informação, seja via satélite ou por ondas de rádio, como ocorre nos Estados Unidos e na Europa. Os ônibus respondem por cerca de 80% das viagens do transporte coletivo.

"Tem de existir um sistema de controle de ônibus, que interfira rápido nos problemas para garantir que esse sistema tenha eficiência", diz Eduardo Vasconcellos, engenheiro de transportes que já foi diretor da Associação Nacional dos Transportes Públicos.

Outra obviedade que falta aos ônibus, segundo Vasconcellos, é a informação prévia e nos pontos sobre linhas e horários.

Na saúde, ocorre um fenômeno similar, de acordo com Paulo Eduardo Mangeon Elias, professor de políticas de saúde da Faculdade de Medicina da USP. Não há um sistema que informe o que faz cada uma das unidades ou hospitais. O resultado é que ninguém sabe a quem recorrer e hospitais altamente especializados, como o das Clínicas, acabam sendo utilizados por pacientes que poderiam ser tratados por unidades básicas.

O arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, que projetou os hospitais da rede Sarah em Brasília e Salvador, diz que há soluções para a habitação -a produção de peças pré-moldadas em escala industrial. O que falta, para ele, é vontade política de afrontar o sistema segundo o qual as empreiteiras financiam as campanhas políticas e os políticos dão o troco em forma de obras quando chegam ao poder.

José Teixeira Coelho, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e especialista em políticas culturais, sugere que São Paulo volte a debater uma questão óbvia e clássica para as cidades -a beleza urbana. A busca da beleza poderia começar, de acordo com ele, pelo combate à pichação.


MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo

 
 
 

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