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A Prefeitura de São Paulo
deve concluir nos próximos 30 dias um estudo sobre a
abertura de alguns calçadões do centro da cidade
para o trânsito de veículos. Há 27 calçadões
nas regiões da Sé e da República. A prefeitura
ainda não definiu quantos serão alterados, mas
a Folha apurou que o da Barão de Itapetininga, que liga
a praça da República ao viaduto do Chá,
pode ser um deles.
Segundo o subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, há
três propostas para os calçadões. Uma prevê
a criação de vias de serviço: trechos asfaltados
por onde possam trafegar veículos como carros-fortes
e caminhões de limpeza. Outro plano é estipular
horários específicos para o trânsito de
veículos -assim, um trecho poderia ser destinado exclusivamente
a pedestres durante o dia, por exemplo, e aberto para os carros
à noite. Uma terceira idéia é a transformação
total de alguns calçadões em ruas normais.
O estudo irá verificar, entre outros aspectos, o impacto
dessas mudanças no trânsito da região.
A medida decorre de um pedido de comerciantes, que se queixam
da dificuldade de acesso dos carros ao centro da cidade, afirma
Matarazzo. Outro aspecto que tem influenciado a decisão
é a segurança, já que os calçadões
tendem a ficar ermos quando o comércio não abre.
"A enormidade do calçadão da Sé à
República matou o comércio, [o público
que circula na região] é gente de passagem, que
não vai lá para comprar. Temos que dar alternativas
para quem quer usar veículos."
Para Roberto Mateus Ordini, superintendente da distrital centro
da Associação Comercial de São Paulo (ACSP),
o movimento de pedestres nos calçadões estimulou
a vinda de camelôs.
"O calçadão ajudou a deteriorar a região
nos anos 70. Com acesso complicado para carros, prédios
ficaram desocupados e o comércio sofisticado acabou",
diz.
Com a abertura dessas áreas para veículos, a expectativa
dos comerciantes é atrair um consumidor mais abastado.
"Sabemos que o centro não vai voltar a ser o que
era, mas podemos ter lojas de departamento, empresas grandes,
para os turistas e a classe média."
Ordini faz uma distinção, porém, entre
o centro velho, onde ficam a igreja da Sé e a Bovespa,
e o centro novo, localizado do lado oposto do vale do Anhangabaú.
Segundo ele o comércio do centro velho não foi
prejudicado pelos calçadões, que devem permanecer
como estão. Além disso, as vias daquele local
são muito estreitas para receber veículos.
Já o centro novo foi "violentamente prejudicado",
na avaliação de Ordini. Segundo ele, uma das ruas
que precisam ser totalmente abertas a veículos é
a 24 de Maio, onde funciona a Galeria do Rock. "A 24 de
Maio parece uma feira, de tanta barraca. Desse jeito, a classe
média acaba fugindo para os shoppings", afirma Ordini.
A associação Viva o Centro também apresentou
à prefeitura um projeto em que pede a abertura dos calçadões.
Pela proposta, todas essas vias terão uma parte asfaltada.
Segundo o presidente da ONG, Marco Antonio Ramos de Almeida,
isso pouparia o piso, de pedra portuguesa e granito, e organizaria
a passagem de veículos, que, na prática, já
ocorre.
"O calçadão é visto como uma área
só para pedestres, mas por ele passam carros de polícia,
de limpeza. E como não foi previsto nenhum tipo de limitação,
eles trafegam por ali como querem", afirma Almeida.
AMARÍLIS LAGE
da Folha de S. Paulo
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