Ajuste menor nos salários pode gerar emprego

Miguel Vieliczko e Cristina Mori
Equipe GD

O índice de desemprego na Holanda, que era de mais de 10%, caiu para 3% em uma década, graças, em parte, a uma moderação nos aumentos salariais.

O modelo pode ser aplicado no Brasil, se amparado por um crescimento estruturado da economia e reformas no seguro-desemprego.

Na Holanda, o aumento de produtividade conseguido pelas empresas com os avanços tecnológicos não foi totalmente repassado aos salários. O lucro das companhias cresceu, possibilitando novos investimentos e a criação de mais postos de trabalho.

Olivier Blanchard, ex-economista chefe do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, analisou a experiência holandesa em artigo para o jornal Valor Econômico da última segunda-feira (10/07).

A jornada semanal média é de 27 horas no país, mas Blanchard defende que o trabalho em tempo parcial não está diretamente relacionado à baixa taxa de desemprego do país.

Lá, um acordo formal entre empregadores, sindicatos e governo sustentou o reajuste salarial abaixo do que seria possível, em troca de redução de jornada e aposentadorias antecipadas. Outra medida importante foi a vinculação do pagamento do seguro-desemprego à procura por recolocação.

"Não é apenas cortar salários para aumentar o nível de emprego. São adequações salariais dentro de um contexto de negociações", afirma José Paulo Chahad, professor do departamento de economia da Universidade de São Paulo.

Segundo ele, um modelo semelhante, para dar certo no Brasil, precisa vir acompanhado por uma estratégia de crescimento econômico.

"Temos que considerar ainda que na Europa não há disparidade de renda. Mesmo com boas oportunidades de negociação, o Brasil vai ter que crescer com uma estratégia, investindo em infra-estrutura básica", explica.

De acordo com Chahad, seria necessário também desenvolver no Brasil um serviço público de empregos que coordenasse o seguro-desemprego com a busca de ocupação, a colocação e a formação profissional .

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