Home
 Tempo Real
 Coluna GD
 Só Nosso
 Asneiras e Equívocos 
 Imprescindível
 Urbanidade
 Palavr@ do Leitor
 Aprendiz
 
 Quem Somos
 Expediente
  

Dia 08.08.02

O poeta da motocicleta

Os versos vão nascendo enquanto o motoboy Sérgio Luis Mesiano percorre as ruas para entregar as encomendas. Às vezes, ele não se contém: estaciona a motocicleta, tira um caderno da mochila e anota rapidamente a poesia para não esquecer. "Gente cheia de sabedoria/ que aprendeu que a vida/ não é feita de correria/ e que toda vez que amanhece/ acontece um novo dia."

O motoboy faz das corridas por São Paulo, em que se insinua entre os carros, o combustível para sua poesia. "A cidade é inspiradora. Andar de moto é senti-la dentro de mim."

Às segundas-feiras, ele recita seus textos na Casa de Cultura de Santo Amaro, na zona sul da cidade, a região mais violenta de São Paulo, onde é conhecido como Serginho Poeta. "Acho que as pessoas gostam do meu trabalho porque conta o cotidiano sofrido do paulistano", afirma ele, que se apaixonou pelas letras de Zeca Pagodinho e, depois, pelos versos de Ferreira Gullar e de Castro Alves.

"O dia estando perdido/ o salário será descontado/ a menos que eu consiga/ descolar um atestado."

Nascido na periferia, Serginho Poeta encontrou o prazer dos livros graças a seu padrasto, um ex-militante comunista. Concluiu o ensino médio; tinha interesse somente por redação e interpretação de texto, o que o tornava, para os padrões escolares, um mau aluno.

Não bastasse o inusitado de ser um motoqueiro-poeta, ele quer ser também um motoqueiro-professor. Prepara-se para uma aventura escolar, convencido de que os livros são apresentados aos alunos como uma chatice, uma formalidade.

A idéia é levar às escolas um pouco da sua experiência de escritor e ajudar as crianças a ter prazer com a literatura. "Eu quero levar a beleza para um lugar em que ela não entra."

Ele se sente capaz de mostrar que até na violência, tão corriqueira na paisagem da periferia, se encontra poesia. "Meia-noite no gueto./ Tem um preto morto na esquina/ Tem os olhos abertos e o corpo ferido/ Tem o céu todo refletido no centro da retina/ Não era ladrão, nem vendedor de cocaína/ Era simplesmente um poeta, sem escola, sem berço/ um poeta de esquina."

 

 
                                               Subir    
   ANTERIORES
c
  O rabino e as prostitutas judias
  O palácio de Genoíno
  Vivendo na própria pintura
  Jardim dos gays
  O jardim dos sonhos de Cafu
  Das prostitutas aos arquitetos
  Capital do skate
  E o rap virou escola
  O baú de histórias da dona Neusa
  Oficina do tempo
  Trilha de Esmeralda
  Grafiteiros entram na USP
  Calçada democrática
  Criança Cor
  Sonhos de vidro
  Cidade de cão
  Policiais de bicicleta
  Sombra e água fresca
  Dona Flor e seus sete canteiros
  Prostitutas viram modelo de civilidade