O
poeta da motocicleta
Os versos
vão nascendo enquanto o motoboy Sérgio Luis
Mesiano percorre as ruas para entregar as encomendas. Às
vezes, ele não se contém: estaciona a motocicleta,
tira um caderno da mochila e anota rapidamente a poesia para
não esquecer. "Gente cheia de sabedoria/ que aprendeu
que a vida/ não é feita de correria/ e que toda
vez que amanhece/ acontece um novo dia."
O motoboy
faz das corridas por São Paulo, em que se insinua entre
os carros, o combustível para sua poesia. "A cidade
é inspiradora. Andar de moto é senti-la dentro
de mim."
Às
segundas-feiras, ele recita seus textos na Casa de Cultura
de Santo Amaro, na zona sul da cidade, a região mais
violenta de São Paulo, onde é conhecido como
Serginho Poeta. "Acho que as pessoas gostam do meu trabalho
porque conta o cotidiano sofrido do paulistano", afirma
ele, que se apaixonou pelas letras de Zeca Pagodinho e, depois,
pelos versos de Ferreira Gullar e de Castro Alves.
"O
dia estando perdido/ o salário será descontado/
a menos que eu consiga/ descolar um atestado."
Nascido
na periferia, Serginho Poeta encontrou o prazer dos livros
graças a seu padrasto, um ex-militante comunista. Concluiu
o ensino médio; tinha interesse somente por redação
e interpretação de texto, o que o tornava, para
os padrões escolares, um mau aluno.
Não
bastasse o inusitado de ser um motoqueiro-poeta, ele quer
ser também um motoqueiro-professor. Prepara-se para
uma aventura escolar, convencido de que os livros são
apresentados aos alunos como uma chatice, uma formalidade.
A idéia
é levar às escolas um pouco da sua experiência
de escritor e ajudar as crianças a ter prazer com a
literatura. "Eu quero levar a beleza para um lugar em
que ela não entra."
Ele se
sente capaz de mostrar que até na violência,
tão corriqueira na paisagem da periferia, se encontra
poesia. "Meia-noite no gueto./ Tem um preto morto na
esquina/ Tem os olhos abertos e o corpo ferido/ Tem o céu
todo refletido no centro da retina/ Não era ladrão,
nem vendedor de cocaína/ Era simplesmente um poeta,
sem escola, sem berço/ um poeta de esquina."
| |
| Subir
| |
|